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Olegário Mariano

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Olegário Mariano Carneiro da Cunha nasceu em Recife, PE, em 24 de março de 1889, e morreu no Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 1958. Filho de José Mariano Carneiro da Cunha e de Olegaria Carneiro da Cunha, foi com a família para o Rio de Janeiro em 1897.Político, diplomata e embaixador em Portugal, aos 13 anos já fazia seus primeiros versos. Com apenas 15 anos, escreveu Visões de moço. Sua vida foi pautada por uma intensa atividade política. Seu pai, José Mariano, participou dos movimentos abolicionistas e republicanos, em Pernambuco. Olegário Mariano, em concurso anual promovido pela revista Fon-Fon, foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, título anteriormente atribuído a Alberto de Oliveira e a Olavo Bilac, o primeiro a obtê-lo. Com o pseudônimo de João da Avenida, colaborou com as revistas Careta e Para Todos, escrevendo crônicas mundanas, que mais tarde foram reunidas em dois livros: Bataclan (1927) e Vida, caixa de brinquedos (1933).

Foi eleito para a cadeira de número 21, da Academia Brasileira de Letras, sucedendo Mário de Alencar, em 23 de dezembro de 1926. Foi membro também da Academia das Ciências de Lisboa. Publicou Ângelus, seu primeiro livro de poesias, em 1911. Em 1913, escreveu Evangelho do sonho e do silêncio, em 1920, Últimas cigarras em 1921, Sonetos e, em 1932, Poesias escolhidas. Ficou conhecido como o Poeta das Cigarras, por ser um tema constantemente retomado em sua obra

Coração em ruína


A Luiz Edmundo


Paredes pelo chão, destroços de chimeras,
O Castello Real, eil-o sem vida agora;
Não canta mais o azul das doces primaveras,
Nem chora mais a dor das lagrimas da aurora.


Conheceste-o, mulher, entre o explendor de outr’ora
Quando tudo sorria entre illusões sinceras;
E hoje fitas assim, como quem ignora
O que foi do palácio o brilho de outras eras.


E o Templo que despedaçasse horrível
Sem temer que do céo fosse logo punido
Com o castigo que vence as fibras do impossível.


Pensa tu no Torreão das antigas bonanças
E falla d’este Paço, hoje morto e vencido,
E outr’ora o Vencedor das fortes esperanças…


Em: O Baile, n. 1, maio 1906.




Abandono


De bastão de faiança á mão
delgada e esguia,
A marquezinha empoada
ólha o imenso salão.
Seu gésto é grave, a voz
é languida e macia…
Sempre a ventura é assim,
não dura mais que um dia
E ela não sabe
o que lhe vae no coração.


Lá fóra, no jardim
que o luar acaricía,
A silhueta doirada
e esvelta de um pavão
Põe, como no painel
de uma tapeçaria,
A nota ornamental
de uma fina poesia
E um repuxo apunhala
a alma da solidão.


E ela recorda…
A mão nervosa que tremia
Acariciando no minuête
a sua mão,
Depois, na iluminura azul
da noite fria,
Um vulto que chorava…
Um vulto que partia…
A alameda deserta
e deserto o salão.


Em: Bazar, ano 1, n.1 set.1931.





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