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A Chrysalida: hebdomadario litterario

por Maria Ione Caser da Costa
Publicado em Vitória, capital do estado do Espírito Santo, o hebdomadário literário A Crhrysalida, teve como diretor Amadeu Magalhães. Mais um periódico publicado no século XIX que tomou como princípio divulgar a literatura nas suas variadas formas de manifestação. Seu lançamento aconteceu em um período de evolução da imprensa, entretanto, uma parcela desses títulos tiveram vida efêmera.

Existe somente um fascículo de A Crhrysalida preservado na Biblioteca Nacional, o número 2, que foi publicado no dia 21 de fevereiro de 1872. De acordo com nossas pesquisas A Chrysalida saiu pela primeira vez em 15 de fevereiro daquele ano e editou somente três números.

A tipografia responsável foi a do jornal O Estado do Espírito Santo. Foi publicado aos domingos e o valor da assinatura mensal, na capital era de 500 réis, e fora dela o valor cobrado era de 600 réis, sempre com pagamento adiantado.

Com a ausência do número inicial não é possível transcrever as intenções de seu editor. Entretanto, uma nota publicada no exemplar número 2, permite colher informações que documentam uma época e as intenções do responsável pela publicação.

 
O “Commercio do Espirito Santo, de 17 e “O Estado do Espirito Santo” de 18 do corrente, tratando do apparecimento do nosso modesto hebdomadario, se enunciam n’estas lisongeiras phrases, que, penhoradíssimos, lhes patenteamos os nossos cordiaes agradecimentos:

Fomos visitados pela “Chrysalida”.

Tendo como redactores jovens intelligentes, a “Chrysalida”, esperamos, sabera manter-se em posição digna de si.

Saudamos, pois, a mocidade, essa aguia que fremita as azas para o vôo arrojado do futuro.

“A CHRYSALIDA” apareceu n’esta capital no dia 15 do corrente, este novo periodico sob a intelligente direcção de Amadeu Magalhães.

O seu artigo-programma explica a sua posição; dedicada simplesmente ás lettras, elle é um incentivo á mocidade victoriense, que deve acostumar-se ao manejo da penna na imprensa, constituindo-se um poderoso auxiliar do seu desenvolvimento intellectual.

Apreciamos os seus colaboradores.

Felicitando ao jovem cidadão que dirige a “Chrysalida”, desejamos ao novel collega muitas prosperidades.

O semanário teve como divisa Adspicens praesens tuturum contemplamur, expressão latina, que quer dizer: olhando para o presente contemplamos o futuro. Com quatro páginas cada exemplar, medindo 18,5cm x 27,7cm, foi diagramado em três colunas separadas por um fio simples.

Seus colaboradores foram Alcina Mary, Amadeu Magalhães e Jules de Granval. A seguir o poema “Tentação”, assinado por B. de V.

 

Tentação

Pequenina graciosa

como um ramo de jasmim:

sempre a prumo, caprichosa

como a filha mais formosa

de algum rico mandarim.

 

Pé de Stylpho, venta accesa

como de gaz um... biquinho;

no leque artista chineza;

no orgulho mais que princeza:

na marcha algum passarinho;

 

Ás vezes, risonha, mas...

outras vezes muito séria.

sem ter dó de quem, tenaz,

lhe segue a sombra fugaz,

a sombra que é quasi etherea.

 

Fina, astuta como a irara;

amplo o seio, bello e forte;

hombros largos, pelle clara,

cinto estreito, graça rara

no gesto, no andar, no porte.

 

Como as borboletas – leve;

mais meiga que uma caricia;

alvo o collo como a neve.

- na boca, vermelha e breve,

o traço de uma malicia,

 

Seductora, petulante,

- zombeteiro sempre o olhar:

como os lyrios elegante,

mais ciumento que uma amante.

mais fresca que um nenuphar;

 

Pequenina, mais mimosa

do que um ramo de jasmim,

é essa a visão formosa,

que, ha vinte dias, teimosa,

passa por deante de mim.

 

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