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O Arrebol: jornal acadêmico

por Maria Ione Caser da Costa
O Arrebol, recebeu o subtítulo de jornal acadêmico, e foi editado em São Paulo, pela Typographia Liberal, que estava localizada no número 9 da rua das Flores, atual rua Silveira Martins. O impressor responsável foi J. V. Arêas.

Publicação da primeira metade do século XIX, apenas um exemplar se encontra preservado no acervo da Biblioteca Nacional, o número 3, de ju1ho de 1849, informando na capa pertencer ao primeiro trimestre. Pode ser consultado na Hemeroteca digital.

A publicação mede 23cm x 17cm, possui 17 páginas divididas em duas colunas, separadas por um fio simples.

A capa é ilustrada com uma dupla cercadura em florais e traçados perpendiculares, e ao centro uma vinheta, também em estilo floral. Dentro da cercadura estão as informações sobre a publicação e a epígrafe, em idioma alemão, tirada do poeta e filósofo Friedrich von Schiller: “Wenn sich der Geist aus der Unwissenheit heransriugen sott, so muss der Keim der Gelehrsamkeit hervorbrechen”, logo abaixo, sua tradução: “Para que nosso espirito possa libertar-se da ignorancia é necessario que pullule o germen da litteratura”.

O fascículo trouxe as seguintes matérias, algumas com a indicação de continuação do número anterior, outras indicando que o número seguinte teria a continuação: o artigo “Sciencias”, por Joaquim Felicio dos Santos (1828-1895); “Reflexões philosophicas sobre a historia da humanidade” por António Augusto de Oliveira; "O crhistianismo e a poesia", e o poema “Meu fado”, por Diogo José Vieira de Mattos; ''Litteratura brazileira – a poezia do seculo XVII'' , e o poema “Lágrimas”, por José Bonifácio de Andrada e Silva (1827-1886); “Sociabilidade”, por João Teodoro Xavier de Mattos (1828-1878); “Visão", por Aureliano Lessa (1828-1861); “A União confederativa dos povos, ou a paz perpetua”, por José Francisco Cardoso (1830-1885); o poema “Desengano”, por José Ramos Coelho (1832-1914); e o poema “A Vida”, por João Silveira de Sousa (1824-1906). A seguir o poema “A Vida”, de Silveira de Souza.

 

A Vida

A vida é um sonho que veloz se apaga

Como a nuvem no céo;

Encanta os olhos porque a doura ás vezes

De luz um falso véo.

 

Mas quando, como a nevoa da alvorada,

A venda se adelgaça,

Fogem côres do prisma, e então sorvemos

Do amargor na taça;

 

E a vista embalde pelos céos infindos

Uma estrella procura:

Vê tudo em trevas, e adiante a lousa

No chão da sepultura.

 

Quer-se a face voltar, mas é já tarde,

Um astro embaciado

Nos força a lêr em letra denegrida

O livro do passado;

 

Em vão intenta-se rasgar as folhas

Desse livro terrivel,

Sella-o do tempo o irrevogavel cunho,

Nem a Deos é possível!

 

É então que vemos qu’esta vida é sempre

Como a nuvem do céo,

Traz no seio a tormenta e fóra veste-a

De luz um falso véo;

 

Que este sonho da terra embora ás vezes

Nos pareça risonho,

Troca-se em breve em pesadello horrivel,

N’um phantasma medonho!

 

E mais a vista pelos céos se alonga

Em busca d’uma estrella,

Lança-se embalde, nem se quer lhe é dada

Esperança de vê-la!

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