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Echo dos tagarellas: jornal critico, litterario e carnavalesco

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico Echo dos tagarellas: jornal critico, litterario e carnavalesco foi publicado no Rio de Janeiro e seu lançamento aconteceu no dia 17 de abril de 1875. O endereço da redação era rua da Carioca, nº 84. Os dois primeiros exemplares foram impressos pelo maquinário da Typographia Cosmopolita, que estava localizada na “rua de Gonçalves Dias”, nº 19. A partir do número 3 muda a impressão para a Typographia de Hildebrandt, localizada no número 87 da rua da Alfandega.

No primeiro exemplar está um longo editorial, sem assinatura, escrito no dia 17 de março, portanto, alguns dias após o carnaval, que naquele ano, a “terça-feira gorda” caiu no dia 9 de fevereiro. Eis um excerto:

Cada uma columna do Echo dos Tagarellas é uma fossa que prolonga os échos, como a montanha lendaria de que falam os poetas idialisadores da velha terra germanica.
Elle não se compromette, de certo, a repercutir as vozes eloquentes de quem dado foi resolver problemas que muito importam á civilisação, porquanto não o desvanece a grata esperança, que assiste ao Globo, de reproduzir em suas columnas os grandiosos discursos dos oradores da Gloria. [...]
O “Echo dos Tagarellas” prefere o riso á lagrima, a galhofa ás sentenças da philosophia.
Redigido por uma troça daquelles bons typos que n’um salto de kan-kan não tocam com a ponta do cothurno carnavalesco o nariz da moral, porque a moral, ha muito, retirou as ventas arrebitadas de uma sociedade que tão mau chero exhala, o “Echo dos Tagarellas” é sobretudo da épocha. [...]
E os Tagarellas com quanto saibam elegantemente affivelar uma mascara ao occiput, tem acanhamento de dançar os gallopes dos carnavaes que desmoralizam a patria em que sentirão o coração bater de vida e enthiusiamo.
Tal escusa que para nós constitue um signal de alegria, é para outros talvez uma razão da nossa seriedade, por isso que para muitos os homens serios do Brazil não são políticos.
Signaculo de seriedade ou de alegria que seja, o “Echo dos Tagarellas” resume todo o seu programma nestapalavra – RISO.
E havemos de rir.

O carnaval, com suas fantasias e máscaras, foi se incorporando aos hábitos e práticas sociais dos brasileiros, e a imprensa desde seus primórdios, teve um papel fundamental na propagação da dinâmica social, atraindo leitores a atenção daqueles favoráveis ou não, as “festas de Momo”, como são também chamados os festejos carnavalescos. Echo dos tagarellas é mais uma publicação que publicou matérias sobre o carnaval, se posicionando a favor da festa.

Na publicação, logo abaixo do título, está como epígrafe, a locução latina "crescens eundo implet orbem", que pode ser traduzido como "crescendo e enchendo o mundo".

A coleção preservada na Biblioteca Nacional compreende cinco fascículos, armazenados na Seção de Obras Raras, podendo ser consultados através da Hemeroteca Digital. Cada um dos exemplares possui 4 páginas, diagramadas em 3 colunas divididas por um fio simples, sendo que em alguns fascículos, a divisão é com fio duplo. O número 5 foi publicado no dia 15 de junho de 1875. Não é possível saber se o título teve ou não continuidade.

A partir do segundo exemplar, a capa passa a ter uma ilustração antes do título: o rosto e pequena parte do dorso de um homem, com chifres localizados logo acima dos olhos, seguido por uma espécie de capacete. Aparecem também um par de azas. O homem está com a boca totalmente aberta, língua para fora. No braço direito, segura um copo, e no esquerdo, uma garrafa.  Raios e flores finalizam o entorno do desenho e a frase “Tagarellas do diabo os proprietários”.

Publicava duas vezes por mês, e os exemplares eram vendidos por assinatura que poderiam ser trimestral, semestral ou anual, pelos valores de 3$000, 6$000 e 12$000 respectivamente.

Publicou folhetim, poemas, crônicas, piadas e notícias do dia a dia, sempre permeadas de humor.

De um modo geral, os artigos são anônimos ou assinados por pseudônimos, tais como: Dr Gomma Ellastica, Dr Labarraque, Zezé de Amores, João Ludovice, Pereira Roças, E. de M., A. Tábua ou Zéca. O poema a seguir, com o título “Confissão”, foi assinado por E. de M.


Confissão

Eu sinto que te amo, eu vejo em ti
O formoso ideal dos sonhos meus!
E no mundo jamais hei-de adorar
Outros encantos como adoro os teus!

Eu sinto que te amo! Eu sinto mais:
Existe em tuas mãos a minha sorte!
Assim como tu podes dar-me a vida
Tambem podes, querendo, dar-me a morte!

Mas não sejas cruel, oh! dá-me a vida
Que é tanto para mim, p’ra ti tão pouco!
De um sorriso dos teos, de um teo olhar
Se alimenta, mulher, o pobre louco!

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