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O Domingo: folha litteraria

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico O Domingo: folha litteraria foi lançado no dia 20 de maio de 1888 em Fortaleza, capital do estado do Ceará. Teve como gerente Joaquim Olympio e foi impresso pelas máquinas da Typographia d’O Domingo. A administração da folha literária funcionava na rua do Senador Pompeu, 166.

A coleção encontrada na Biblioteca Nacional compreende dois fascículos, o primeiro, citado acima, e o número 5, publicado no dia 17 de junho daquele ano. Apenas o número 5 encontra-se digitalizado e pode ser consultado na Hemeroteca Digital. Para consultar o primeiro exemplar é necessário comparecer presencialmente à Coordenação de Publicações Seriadas da Biblioteca Nacional e solicitar seu microfilme.

A seguir, um excerto do editorial do primeiro exemplar. Não tem autoria e apresenta como título “Primeiras palavras”:

 
Quem se der ao trabalho de investigar, desde os seus mais remotos princípios, as dificuldades com que têm lutado todos os reformadores, facilmente comprehenderá a extensão do sacrifício a que nos vamos expor.

De um lado a indifferença proverbial da sociedade cearense por tudo quanto é serio, do outro a tendencia acentuada que tem a imprensa da provincia para as futilidades corriqueiras do estylo e da rhetorica. Aqui, a leveza indisculpavel de espiritos superficiaes que, contra todos os principios da litteratura moderna, andam constantemente á tona dos acontecimentos, sem profundar-lhes os principios fundamentaes; ali, uma curiodidade feminilmente pueril, que com um sorriso se satisfaz perfeitamente, que só a fórma exterior inebria e deleita.

Habituada a esses recochetes do pensamento, de que o jornalismo cearense tanto tem abusado, a nossa sociedade em geral traz constantemente engatilhado nos labios um sorriso de desdém para todas as tentivas de reforma que a mocidade, algumas vezes, timidamente ensaia. [...]

Quem se der, pois ao trabalho de investigar essas cousas verá, que, premeditando largas reformas neste sentido, vamos arrastar dificuldades sobre dificuldades.

Felizmente, a questão é de tempo, e já conseguimos mudar ao menos o titulo deste periodico, que tendo recebido na pia da imprensa o nome de Revista, passando é outra redacção e gerencia, vae chamar-se Domingo.

E isto não é pouco.

Quando as reformas principiam de casa, é natural que tenham o cunho mais frme de convicção profunda.

N’isto confiamos.

Sejam quaes forem os embaraços havemos vencel-os, si o publico nos der, como é de esperar de tão boa creatura, o seu apoio e o seu concurso, neste honroso certamen.

É uma tentativa como outra qualquer – e ... bemaventurados os que tentam, por que elles conseguirão algum dia.

De acordo com o editorial, O Domingo veio para substituir A Revista, que ainda não foi digitalizada, mas pode ser encontrada neste Dossiê.

O artigo publicado após o editorial transcrito acima, é uma crônica dedicada a Ramalho Ortigão, intitulada “Na roça”, e assinada por Virgilio Varzea (1863-1941).

O primeiro exemplar de O Domingo publicou um conto popular, alguns ditados populares e poemas. Destaque para a “Trova cigana”: Até nas flores se encontra / A differença na sorte! / Umas enfeitam a vida, / Outras enfeitam a morte.

O fascículo foi composto com 8 páginas divididas em 3 colunas separadas por um fio simples. Trouxe os seguintes colaboradores: Madanoiselle, Lydio Junior, Emilio Castellar, J. M. Brigido (José Maria) e Gonçalves Crespo (1846-1883).

O número 5, que se encontra digitalizado, foi impresso pelas máquinas da Typographia do Jornal Cearense e teve como diretores José Martins, José Olympio, Papi Júnior (1854-1934) e Jorge Miranda.

Publicou crônicas, contos, poemas, charadas e enigmas, com os seguintes colaboradores: D. Francisca Clotilde Barbosa Lima (1862-1935), Dr. Paulino Nogueira (1842-1908), Juvenal Galeno (1838-1931), Dr Virgilio Brigido (1854-1920), Dr. Abel Garcia (1864-1907), Antonio Martins, Dr. J. de Serpa, Antonio Bezerra, Dr. Pedro Queiroz, Dr. R. Farias Britto (1862-1917), Dr. Guilherme Studart (1856-1938), Rodolpho Theophilo (1853-1932), Dr. José Carlos Junior, J. Salgado, Raymundo Arruda, Joaquim Olympio, Dr. Felix Candido, Cypriano de Miranda (1861-1888). A seguir um poema de Gonçalves Crespo impresso no primeiro fascículo.

 

Adeus

Uma vez n’uma camara elegante,

De um toucador no marmore de rosa.

Entre os mil nadas feminis que exhalam,

Uns aromas subtis, que nos embalam,

Vi uma concha pallida e graciosa.

 

Sentia eu n’ella um som confuso e triste,

Como o dos sinos em remota aldeia;

Pobre concha! morreria de saudade

D’aquella vaga e triste imensidade

Do mar que chora na deserta areia?

 

Olha, querida, como n’essa concha

Anda chorando em mim continuamente

Esta timida voz que tu soltaste.

Essa palavra – Adeus – que murmuraste

Aos meus ouvidos languida e tremente.

 

O Domingo era impresso na tipografia do jornal Cearense e teve como diretores José Olympio, Jorge Miranda, Papi Júnior e José Martins. Sua frequência era desconhecida e somente os números 1 e 5 foram conservados e encontram-se na coleção microfilmada da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. O jornal começou a circular em 20 de maio de 1888 e dizia-se substituto d’A Revista, que apareceu na cidade em 26 de fevereiro de 1888, cujos diretores eram Joaquim Olímpio, Ximenes de Aragão, Belfort Sobrinho e Ulisses Bezerra. Segundo Dolor Barreira, consta no corpo de colaboradores d’O Domingo homens das letras que também haviam colaborado n’A Quinzena. In: BARREIRA, Dolor. História da literatura cearense. Fortaleza: Edições Instituto do Ceará, 1986. p. 132-133; NOBRE, 2006, p. 112.

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