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Revista mensal da Sociedade Parthenon Litterario

por Maria Ione Caser da Costa
A Revista mensal da Sociedade Parthenon Litterario marcou sua época. Foi uma publicação que teve como ideal colocar-se como espaço para propagação da cultura nacional, confrontando ideias e ideais de civilização. Lançada em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul em março de 1869, foi inicialmente impressa pela Typographia do Jornal do Commercio. No decorrer de sua existência, passou a ser impressa por outras tipografias.

A comissão de redação do primeiro exemplar era composta por Vasco de Araujo e Silva (1842-1895), Apolinario Porto Alegre (1844-1904), Lucio Porto Alegre, Aurelio V. de Bittencourt, Juvencio A. de Menezes Paredes e Hilario Ribeiro de Andrade e Silva (1847-886). O redator era Apolinario Porto Alegre.

->Com o título Programma”, e assinado por Apolinario Porto Alegre, leia a seguir um excerto do texto.
O dia 18 de Junho de 1868 marcou uma grande época.­

Ergueu-se um monumento.

Os alícerces forão lançados sob os auspicios de horrenda tempestade.... Parecia que terra e céos conspiravão contra uma idéa em sua sublime realisação.

Havia tudo a vencer, tudo a crear sem o sorriso lisonjeiro da esperança, sem as cambiantes de amena aurora, sem uma palavra de animação!

Os alvaneis do Parlhenon erão apostolos d'uma crença, como o forão Ccphas e Paulo; a uns e outros assistiu a mesma energia moral.

O culto ás letras constitue tambem uma religião, e, como toda a· religião, não deixa de ter: um colissêo de martyrio, uma corôa de espinho e uma apotheóse sobre a lápida que reveslil-o.

O dia 18 de Junho abriu o cyclo litterario na província, que até então, não podéra reunir um nucleo, onde a luz civilisadora se concentrasse nos certamens scientificos, nos pleitos da tribuna e na discussão transcendente sobre o verdadeiro, o bem e o bello. [...]

A geração, que encontramos ao transpor os umbraes da existencia, tenha para a planta do nosso amor ao menos um sorriso que a vivifique,um vislumbre de animação, que, como o orvalho das noites, lhe innoculte seiva e vigor, dando-lhe belleza e graças, fazendo a produzir flores balsamicas e fructos doirados.

A semente está lançada nos camalhões da literatura.

Deem-lhe cuidos, e, em breve, gemmando a folhagem ao sol do favoneio publico, ha de ressarcil-o cabal e latamente.

Se algum espírito sceptico então surgir. como Ham1eto, lançando-lhe um rizo de sarcasmo, um olhar de duvida, temos por unica resposta ao arúspice de infortunio, só duas palavras de S. Agostinho: “Tole, lege.”

Erga-se e leia.

São as primicias da mocidade rio-grandense, que, arcando em extrema lucta contra a indifferença geral, tem odio para o passado, coragem para o presente e esperança para o futuro.

A Biblioteca Nacional não possui toda a coleção da Revista mensal da Sociedade Parthenon Litterario. Digitalizado, está apenas um fascículo referente ao ano de 1873.

Em 2018, ano comemorativo do sesquicentenário da Sociedade Partenon Literário, a editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul lançou um livro eletrônico com a coleção completa dessa importante revista.

De acordo com Nelson Werneck Sodré a publicação literária deixou um “sulco acentuado” na província do Rio Grande do Sul. Teve sua primeira fase entre março e dezembro de 1869, a segunda de julho de 1872 a maio de 1876, a terceira de agosto de 1877 até junho de 1878 e a quarta e última, de abril a setembro de 1879.

O volume referente ao ano de 1873, único que pode ser consultado na Hemeroteca Digital, é referente ao segundo ano da segunda série da revista. Possui 42 páginas contendo artigos, biografias, crônicas, peça teatral e poesia. Não são encontradas propagandas em suas páginas.

A comissão de redação não está idêntica ao número de lançamento. Os dois primeiros responsáveis (Vasco e Appolinario) permanecem, passando a dividir o campo de atuação com José Bernardino dos Santos (1845-1, Alexandre B. de Moura (?-1911), Francisco J. de Sá Brito e Joaquim Antonio Vasques. Passam a fazer parte como diretores Achylles Porto Alegre (1848-1926) e Hilario Ribeiro. Todos os colaboradores eram integrantes da Sociedade Parthenon Litterario.

A revista circulou com algumas interrupções de março de 1869 até setembro de 1879. Publicou literatura local, o que movimentava os jovens letrados do Rio Grande do Sul. Existem vários trabalhos na web que se dedicaram ao estudo da Sociedade Parthenon Litterario e a revista por ela publicada.  A seguir um excerto do poema de Amalia Figueiroa (1845-1878).

 

Minha alma é triste

Estou só - a solidão

Inspira fundos anceios,

Gera não sei que receios,

Diz-nos não sei que tristeza.

Pela tarde a natureza,

Reveste a pallida côr.

De tão profunda saudade,

Que os labios calão os cantos,

Dos olhos rebentão prantos,

E seja qual fôr a idade,

Qual a quadra e qual o dia,

Envolve-se a alma toda

N'um véo de melancolia.

 

E assim estou!... inda ha pouco

Na praia junto do mar,

Ouvindo o vento a gemer

E a vaga a soluçar,

Atróz, atróz nostalgia,

Sublime dizem que é,

Me veio colher de pé! ...

Uma vella se escondia

Lá na extrema do horisonte

Lá onde o sol banha a fronte

Quando vai deitar-se o dia:

Quantas imagens e idéas,

Que amargos presentimentos,

Que doídos pensamentos

Desenhou-me a phantasia,

Dizel-o não saberia ...

Mas erão dôres e espinhos! ...

Saudades de teus carinhos

O' minha querida irmã!

Memorias de uns tempos idos

Das eras que já lá vão,

Tão livres e estremecidas

E que não mais volverão!

........

 

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