BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

O Caixeiro: jornal commercial, litterario e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário O Caixeiro: jornal commercial, litterario e noticioso foi lançado no Rio de Janeiro, então capital do Império, num um domingo, dia 19 de outubro de 1873. Foi impresso pela Typographia Americana, que estava localizada na rua dos Ourives, nº 19, atualmente, rua Miguel Couto. A partir do número 3 passa a ser impresso pela Typographia da Estrella Fluminense, localizada na rua d'Ajuda, nº 106.

O periódico representava a classe comercial do caixeiro, visando conseguir melhores condições de trabalho. O editorial de lançamento faz um apanhado do que os editores pretendem. A seguir um excerto do texto, que vale ser lido na íntegra, numa consulta à Hemeroteca Digital:

 
Apparece hoje na senda jornalistica o modesto aspirante á vida commercial, que no verdor dos annos, sem ainda poder penetrar o seo destino, sujeita-se a um trabalho ingrato, quasi sempre mal remunerado, além das extravagantes exigencias daquelles que, tendo em outras éras passado pelas mesmas torturas da vida principiante, esquecem-se dos seos empregados subalternos para sómente lembrar-se do proprio interesse.

O CAIXEIRO é o órgão desta classe tão cheia de esperança e tão rodeada de espinhos, que tudo faz, que trabalha com empenho, que supporta sacrificios, que se resigna com verdadeira abnegação aos rigores do presente com a esperança no futuro que lhe aguarda. [...]

O CAIXEIRO será o amigo dos mancebos empregados no commercio; aconselhar-lhes-ha a dedicação sem limites ao trabalho, o respeito necessario aos seos superiores, e a pratica das bôas acções recommendadas pela sociedade civilisada. [...]

Fazendo, pois, a nossa apresentação ao publico que nos ha de julgar, pedimos-lhe animação; porque, si todas as outras classes têm seos orgãos para advogar seos interesses, tambem a classe caixeiral deve apparecer de semblante erguido, manifestar seos pensamentos ao ar benefico da liberdade de que se gosa neste vasto e rico paiz, e esperar da bôa indole dos nossos conterraneos o apoio de que se tornar digno.

Em suas páginas são encontrados folhetim, poesias, notícias diversas, anedotas, além de artigos questionadores quanto ao trabalho do caixeiro, “um empregado subalterno de uma casa commercial”, que aos domingos não tem o direito ao merecido descanso que todo trabalhador faz jus. Deixam claro, também sua posição favorável ao governo monarquista e à religião. Posição que pode ser confirmada em nota colocada na parte superior da capa, à esquerda do título: Recebe-se com agrado qualquer artigo que não involva offensa pessoal, não trate de politica, nem offenda a religião do Estado.”

O valor das assinaturas semestrais para a corte e para Niterói era de 5$000, enquanto que para as províncias o valor cobrado era de 6$000, que deveriam ser adquiridas no endereço da tipografia. O exemplar avulso foi vendido por 200 réis.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados os quatro primeiros exemplares, tendo o número 4, saído publicado no dia 9 de novembro de 1873. Em seu formato original O Caixeiro mede 37 cm x 27 cm, e seus fascículos fazem parte da BN/Coleção Plinio Doyle. Plinio Doyle (1906-2000) que dirigiu a Biblioteca Nacional de 1979 a 1982. A Coleção BN/Plinio Doyle foi reunida pelo antigo diretor, a partir do acervo da Biblioteca Nacional.

Cada fascículo contém 4 páginas diagramadas em 3 colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustrações.

Colaboraram em O Caixeiro, Antonio Alves Meira, A. J. C. Falcão, Ferreira Neves, Camillo Flammarion (1842-1925), Claudino de Abreu, Gustavo Raul, Isidoro Ribeiro e Manuel Araujo Porto Alegre (1806-1879), de quem destacamos o poema a seguir, publicado nas páginas do exemplar número quatro.

 

O Beijo maternal

Que flôr é essa que espande

Da innocencia o puro riso,

Flôr que não perde o esmalte,

Como a flôr do paraizo?

 

Que nectar distilla ella,

Que o teo labio avaro liba?

Bella mãe, tu a contemplas

Como quem amor preliba!

 

Colhendo o mel das corollas

A jatahi não te excede,

Nem o colibri mimoso

Nos beijos que á flôr só pede.

 

Sinto, sim ora o mysterio

D’essa flôr, flôr peregrina;

O nectar que d’ella colhes

Ao coração se destina.

 

Beija, beija carinhosa,

Feliz mãe, essa creança.

Frue o amor nos seos labios,

Frue a ternura, e a esperança.

 

Parceiros