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Revista Mensal da Sociedade Club Litterario (AL)

por Maria Ione Caser da Costa
A Revista mensal da Sociedade Club Litterario foi lançada em julho de 1876 em Maceió, capital do estado de Alagoas, na região nordeste do Brasil. Impressa pela Typographia do Club Litterario, que estava localizada na rua da Boa Vista, nº 93, para onde deveriam ser endereçadas todas as correspondências relativas à publicação.

O preço cobrado pelo número avulso da revista foi 600 réis, e pela assinatura trimestral pagava-se 1$500, sempre com pagamento adiantado.

O Club Litterario foi idealizado no dia 15 de abril de 1875 na residência do senhor José Maria de Araujo Junior, que reuniu convidados com a finalidade de criarem uma associação que “promova a cultura intellectual de seus associados pelo desenvolvimento escripto e oral de questões relativas ás matérias do ensino secundario, sem exclusão das comprehendidas nas outras ordens de conhecimentos”.  Nessa seção foram aclamados os seguintes membros: como presidente, Antonio Francisco Xavier da Costa; Miguel de Novaes Mello (1851-1901) foi o vice-presidente; João Teixeira de Araujo e José Calheiros de Mello foram respectivamente os primeiro e segundo secretários e José Maria de Araujo Junior, o tesoureiro.

Mais de um ano depois, a Sociedade Club Litterario lança sua revista mensal, que contou com uma comissão de redação, composta pelos senhores Miguel de Novaes Mello (1851-1901), Elpidio Rogeiro de Novaes, Manoel Clementino da C. Monte, Jayme Vieira de Araujo Luna e Octaviano Coutinho Espindola (?-1895). A seguir um excerto do editorial da revista:

É fóra de duvida que o trabalho constitúe o maior brasão de nossa idade; foi um constrangimento e é uma liberdade, foi uma pena e é uma obrigação, foi um anathema e é uma sagração. Não ha resistencias contra a lei suprema do movimento: se na superficie da terra as moleculas se ajustam e solidificam a crôsta, nas profundezas do mar a madrépora surge á tona e edifica os continentes. Se nas cousas infimas assim é, não podia o homem se erguer contra a potencia de um agente que hoje é o instrumento de seu bem. Serva de semelhante principio, a mocidade votada aos labores das lettras grupou-se ao redor de um centro, confiou á intimidade suas aspirações, estudou e aprendeo, nascendo dessa leda occupação o Club Litterario, cujo orgão vem agora á luz, tremulo como o fructo de um amôr escondido no regaço da mutua confiança. [...]
E tu, pagina de nossas lucubrações, espelho de nosso espirito, colibrí das azas brancas, abre as pennas ao vento, fita os olhos no espaço, se escurecer desce à ramada amiga, mas se a procella te vencer volta ao velho pouso e ahi acharás de pé a esperança que te gerou e a amizade que te alentou.

Cada exemplar foi composto com uma média de 24 páginas e cada uma delas, diagramada em coluna única. Não apresentou ilustração, mas nas capas estão cercaduras enfeitadas com vinhetas artísticas, tendo ao centro o título, a designação numérica, o local de edição, a editora e a data de cada fascículo.

Uma particularidade da publicação: a numeração das páginas é sequencial, perfazendo um total de 76 páginas, inclusas as capas.

Na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional podem ser consultados os três primeiros exemplares. Não se tem notícias de ter havido continuação.

A Revista mensal da Sociedade Club Litterario pode ser considerada um importante canal para a divulgação do conhecimento e também por partilhar ensaios com um público mais amplo. Publicou também crônicas e poesias. A seguir um poema assinado por Mathias dos Santos.


A uma flôr – borbolêta
(sons sem echo)

Borbolêta, linda flôr,
Que me deo viginea mão,
Ai! tão pallida te vejo,
Côr de gelo, branca nuvem...
Oh! tu não tens coração!

Mas, coitada! Triste sorte
Parece que Deus te deo,
Sendo flôr – o teu perfume
Que tanto encanto resume
Alegra o coração meo!

Ao pobre – tão desditoso,
Que padece mil formentos
Vens lhe dar doces momentos
De sublime embriaguez!
Que importa – pareças ter
Um tão frio coração
Como a pétala nevada?
Ai! florinha desgraçada,
Que cruel é teo condão!

A borboleta engraçada
Vai libar néctar das flôres
E tu – flôr e borboleta,
Singular é teo destino,
Ai! que sugão teo perfume
Ao beijo de muito amôr,
Nectar do orvalho divino!
Ai! que triste sina, flôr.

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