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Vida Carioca: publicação quinzenal litteraria, politica e de amplas informações

por Maria Ione Caser da Costa
A revista Vida carioca foi lançada em 6 de janeiro de 1921, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Recebeu o subtítulo, publicação quinzenal litteraria, politica e de amplas informações. A partir do número 26, de 24 de fevereiro de 1922, a palavra referente à periodicidade é retirada do subtítulo, ficando: publicação litteraria, politica e de amplas informações. Nova mudança ocorre em 30 de novembro de 1924, no número 54, o subtítulo retorna com indicação de periodicidade, passando a mensário político, literário, comercial e de informações. A edição desse dia teve 128 páginas. Uma nota, abaixo do título, informa que o exemplar foi composto e impresso nas “Officinas Graphicas do Jornal do Brasil”.

Inicialmente o redator chefe foi Xavier Pinheiro, que tinha a incumbência de “receber a correspondencia destinada á parte intelectual” da publicação. O diretor e proprietário foi José Bourgogne de Almeida (1885-1966), a quem estavam “subordinados os interesses materiaes e administrativos”. A redação da revista estava localizada em um sobrado no número 81 da rua São José. Xavier Pinheiro, cujo prenome era José Antonio, (1867-1927), era filho de José Pedro Xavier Pinheiro (1822-1882), que foi o tradutor da obra do poeta italiano Dante Alighieri.

O número 55 da revista Vida carioca, publicada em 17 de janeiro de 1925, registra que, depois de “quatro annos ... o illustre homem de lettras” Xavier Pinheiro, deixa o cargo de redator chefe, que, a partir do número 61 de 6 de janeiro de 1926, passa a ser ocupado por Affonso Campos.

Vida Carioca se destaca dos outros títulos arrolados no projeto Periódicos & Literatura pelo tamanho de sua coleção. De um modo geral, o projeto procura dar visibilidade aos títulos que tiveram vida efêmera. O que não aconteceu com Vida carioca. A revista atravessou décadas, tendo finalizado sua circulação em novembro de 1963.

Nesse período passou por algumas mudanças, tais como periodicidade, proprietário e redatores, mantendo, entretanto, a nuance pretendida em seu lançamento. Consultar a revista Vida carioca, possibilita conhecer a cidade do Rio de Janeiro que surge em suas páginas, através das crônicas, das fotos e da descrição do cotidiano. A literatura veiculada pela imprensa permite acompanhar a modernização ocorrida nas décadas que a revista circulou.

Além de retratar fatos do dia a dia, Vida carioca publicou também diversos tipos de anúncios, remetendo a contratação de profissionais, lojas, hotéis oferecendo vagas e produtos de uso diário. Um sinal de que a revista era lida por todas as classes sociais.

Com o título “A nossa missão”, eis algumas palavras do longo editorial:

 
Trazemos o nosso fraco contingente de esforço e de melhor boa vontade para a lucta, para o trabalho em um meio onde sempre estivemos, honrando-o, prestigiando-o, procurando eleval-o na medida da nossa cultura intellectual, sem dubiedades, não descrendo no futuro, certo de que ha muito a se fazer em prol da collectividade, da grandeza da Patria, em beneficio dos que trabalham e cooperam para a felicidade comum.

A “Vida Carioca”, sob a nossa responsabilidade e direcção, tem a convicção de que o meio comporta ainda mais um combatente predisposto a fazer algo em proveito da sociedade onde convive. [...]

A “Vida Carioca”, publicação provisoriamente quinzenal, com o caracter legitimamente nacional, destina-se a defender os interesses da Patria contra os que a ofenderem, e dará, nesse sentido, todas as energias, betendo-se, com ardor cívico e sem desfallecimento. [...]

O povo carioca, o carioca propriamente, não tinha a sua revista, o seu jornal, elle aqui está. A amostra se transformará, e temos fé que venceremos a partida, pugnando pelos interesses do Districto Federal, onde todos são felizes, prosperam e obtem meios de fortuna e de independência. [...]

A “Vida Carioca” tem o mais vivo prazer em cumprimentar os seus confrades e apertar, com sincera expansão fraternal, de boa camaradagem, a mão honesta de cada um.

Logo a seguir aparece o primeiro artigo, que é assinado por Affonso Celso (1860-1938) e traz um histórico sobre “A imprensa no Brasil”.

Um artigo sobre as “padarias do Distrito Federal”, pode ser lido na edição de número 13, que relaciona um grande número de padarias dos mais variados bairros do Rio de Janeiro, com fotos e impressões do autor da matéria.

Variando entre 12 e 28 páginas, a revista Vida carioca foi diagramada em três colunas separadas por um fio simples. Bastante ilustrada, mostrava aos leitores os acontecimentos da capital do país, pelo olhar dos jornalistas.

Os colaboradores efetivos de Vida Carioca arrolados no expediente do primeiro exemplar foram Noronha Santos (Francisco Agenor de, 1876-1954), Rocha Pombo (José Francisco da, 1857-1933), Pedro do Coutto, Joaquim Rocha, Octavio d’Azevedo, Domingos de Castro Lopes, Monte Sobrinho, Henrique de Magalhães, Alvaro de Castilho, Marques Pinheiro, Henrique Rebello, Antonio Evaristo de Moraes (1871-1939), Antonio Augusto Pinto Machado, Joaquim Guaraná Sant’Anna, Americo de Albuquerque, Leoncio Corrêa, Moacir Silva, Luiz Augusto dos Reis (?-1922), Moacyr de Almeida (1902-1925) e Jayme Guimarães.

Dentre os vários poemas que podem ser lidos nas páginas de Vida carioca, selecionamos “O Corvo” de Pinheiro Viegas (1865-1937).

 

O Corvo  

Sobre um tronco pousado e indifferente ao côro

Dos passaros no azul e as serpes no chão rasas,

Mesto, os olhos de treva – abrindo em duas brasas –

Eil-o na hora punicea em luto immorredouro.

 

Elle põe-se a grasnar, de chofre, em riso e chôro,

É a saudade lethal das expulsiceas das vasas

Qual sarcasmo funereo á volupia das azas

E ao pôr-do-sol de outomno a broslar o céo de ouro.

 

Tomba do monte do valle a noite. E então na treva

Tem do corvo de Pöe negra nevrose estranha,

Que em silencio da morte a alma gnomes ceva.

 

Triste ausencia da luz da tarde morta! banha

A paysagem de sonho o luar que então se eleva

No espaço de turqueza ao tôpo da montanha.

 

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