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Aura do Sul: orgam noticioso, litterario, critico e commercial

por Maria Ione Caser da Costa
Publicado em Santa Vitoria do Palmar, município localizado no estado do Rio Grande do Sul, fazendo fronteira com o Uruguai, o periódico Aura do Sul, recebeu o subtítulo de orgam noticioso, litterario, critico e comercial, e foi impresso pela Typographia do Sul do Estado.

O primeiro número de Aura do Sul preservado na Biblioteca Nacional é o 31, publicado em 9 de outubro de 1910. Apresentando algumas falhas, a coleção finaliza com o número 62, de 9 de julho de 1911. O periódico foi editado pela primeira vez, no dia 13 março de 1910. A data de lançamento pode ser confirmada no número 52, de 13 de março de 1911, quando Aura do Sul completava um ano de publicação e seus leitores e assinantes foram presenteados com um exemplar com o dobro de páginas.

Impresso em papel rosa, medindo 40,5cm x 27,5cm, foi formatado com quatro páginas cada exemplar e cada uma delas diagramada em quatro colunas. Todos os exemplares trazem a informação de que as assinaturas são pagas adiantadas. Para a cidade, o valor cobrado na assinatura mensal foi de 1$000 e fora do município, 1$500. O número avulso foi vendido por 300 réis.

Com escritório, redação e tipografia localizados no número 61 da rua Sete de Setembro, Aura do Sul teve como gerente e diretor, José Léo V. dos Santos. Porfirio Luiz Epaminondas de Arruda foi o redator.

Os exemplares só podem ser consultados presencialmente, na Coordenação de Publicações Seriadas da Biblioteca Nacional, pois os fascículos ainda não foram digitalizados.

A seguir o texto que informa sobre o aumento físico e de conteúdo que a publicação apresenta a partir do número 31:

 
Dominando com vontade as intemperies da lucta, vencendo com o amor ao trabalho a rigidez terrível dos obstaculos, a Aura do Sul apresenta-se hoje de formato augmentado.

A imprensa é a lança com que a Humanidade vence todas as batalhas, conquista todas as victorias, e desfralda nos campos da sociedade, o estandarte auri-verde da civilização.

No prisma luminoso de taes factos, nós, obscuros luctadores, nos atrevemos a tanto, confiando unicamente no vigor da mocidade, contando unicamente com os applausos da população em geral.

Augmentando ao seu programma, uma parte exclusivamente dedicada ao commercio, julgamos proporcionar a esta uma secção de uteis informações. [...]

Cumprimentando ao povo, saúda gostosamente aos seus collegas locaes, e à imprensa brasileira, vivando á mocidade victoriense.

Quanto ao aumento da publicação, ainda no número 31 está a seguinte nota: “Devido esta folha, apparecer de formato augmentado, a mesma será distribuída a varias pessoas que não pertencem ao numero de seus assignantes. Os que não quizerem inscrever-se, como nossos favorecedores, rogamos o obsequio de devolvel-a a esta redacção”.

Em seu conteúdo constam poesias, charadas, notícias, anúncios (carro de aluguel, pomada de Santo André, Photographia Almeida, são alguns exemplos), crônicas, apresentações teatrais e concursos.

Vários são os colaboradores, que, em sua maioria, assinaram com pseudônimos ou iniciais, como F. C. Duarte Nunes, Diabo Azul (Fernando Pessoa também utilizou este pseudônimo), Catulle Mendes, Conêlfar Raflênoc, Serrano, Chico Bicheiro, Braulio Catullo, Brenno Arruda, Coelho Neto (1864-1934), F.C. Duarte Nunes, Facy, Farir, Inexcelsis, dentre vários outros.  No número 33, de 13 de outubro de 1910 está o conto “Cego”, assinado por Coelho Neto.

A seguir um excerto do poema assinado por Diabo Azul intitulado “Miscellanea”, que foi publicado no número 31. Nos fascículos subsequentes também estão publicados poemas com o mesmo título. Nitidamente uma continuação, onde o autor vai descrevendo, em forma de poesia, os acontecimentos do dia a dia.

 

Miscellanea

Saude, meus bons leitores,

É o costumado “bom dia”

E dinheiro, já se sabe;

Tudo na bôa harmonia.

Enquanto ao mais direi

A coisa foi mesquinhada,

Desta vez pouco cavei

Com respeito a rapaziada.

 

Antes que tudo, direi-vos,

Que causou-me sensação

No domingo nas corridas

Ao ver certo Gauchão.

Todo metido nas botas;

Bombachinha a la minuta;

Um chapéo de palha branco,

A systema recruta.

 

E para mais dos pecados,

Todo risonho e contente,

Conversando com as moças;

Chamando atenção da gente.

Quando o vi desconheci-o;

Mas ao soltar a risada:

Vi que era o Léo Vieira,

Metido na gauchada...

 

Ha dias soube uma bôa,

Que não fica no abandono,

O tal João Spotorno,

Namorar por thelephono.

Dizia assim p’ra menina:

Como passou a senhora?

Eu vou indo assim assim;

Não sabe que vou embora?

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