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O Beija flor (PA)

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário O Beija-Flor foi publicado no estado do Pará, região Norte do Brasil. Saiu pela primeira vez no dia 14 de julho de 1850, sob a responsabilidade de impressão da Typographia Mendonça e Baena, que estava localizada na travessa da Misericordia, atualmente, travessa Padre Prudêncio, em Belém, capital paraense.

A partir do número 16, publicado em 27 de outubro do mesmo ano, a razão social da tipografia muda para Typographia A. L. M. Baena e Irmão (Antonio Ladislau Monteiro Baena). No dia 23 de março de 1851, o periódico publica seu último número. Foram   36 edições.

O Beija-Flor foi diagramado em quatro páginas e os textos, distribuídos em duas colunas, separadas por um fio simples. A ilustração presente em todos os fascículos é o desenho de um beija-flor, na capa, entre as duas palavras que compõe o título.

Em cada edição, como epígrafe, estão impressos diferentes poemas, sempre com duas estrofes de quatro versos, enaltecendo e qualificando a ave que dá nome ao periódico. Não aparece a autoria da poesia. Para exemplificar, os versos impressos na primeira edição:

 
As Brasileiras saúda,
Beija-flor, ave mimosa,
Disendo-lhes, que tu nascestes
Nos petalos da linda rosa.

Que surgistes emfim das chamas
De terno, voraz ciume
Para guardar em teo peito,
Brandos ais, doce queixume.

Com o título “Prospecto”, um longo editorial, escrito em um único parágrafo, e sem indicação de autoria, descreve o processo de criação da publicação, comparando-o com o nascimento de um beija-flor. Eis parte dele.

 
Os pequenos e delicados petalos de uma rosa, forão por algum tempo o fiel depositario de um pequenino ôvo, que uma terna ave em vesperas de gosar o doce e carinhoso nome de mãi, lhe havia confiado como sagrado penhor de suas entranhas; o sublime instincto que elabora nos animaes sensitivos, lhe supplantou no coração a lisongeira esperança, de que em breve seria mãi que veria revoar em derredor de si seu innocente filhinho, sugando do aguçado bico odorificos licores para alimento de seu tenro corpo: a ave fascinada com estas ideias desvelou-se, em acaricia-lo, e alimenta-lo com o calor vital, que todos os dias a marcadas horas lhe inspirava, para ver em diminuto tempo preenchidas suas mais doces esperanças. [...] Surgio o beija-flor com o fim de tomar sobre si a responsabilidade, de defender o bello sexo, a quem as crueis garras da sanhuda Marmota Paraense tem injustamente accusado, e dirigido mil ultrages, não obstante ser o beija-flor uma ave mui fraca todavia vel-o-heis sustentar renhida luta com a Marmota, tendo em breve de cantar-lhe o momento. Soltar-se-ha nos domingos o beija-flor para visitar seus Leitores, e com innumera attenção ouvir, o que delle se falla por differentes partes, que tem de percorrer, voltando a sua costumada morada no sabbado para no domingo contar o que vira, e ouvira nessa longa e tardia jornada, que fisera no meio de sublime jubilo.

Como pode ser observado no excerto acima, os editores de O Beija-flor além do enfoque diferenciado sobre a mulher, criticam a Marmota paraense, um periódico seu coetâneo, por ter opinião contrária. Assunto que também pode ser observado em outras páginas do semanário.

Publicado aos domingos, O Beija-flor se coloca como defensor do “sexo frágil”. Cabe ressaltar que no periódico são encontrados inúmeros textos que valorizam o sexo feminino, escolarizando-as e sempre mostrando o lado poético do tema.

O número avulso do semanário foi vendido por 80 reis, e a assinatura trimestral valia 1$000, com pagamento adiantado.

Publicou cartas (uma delas, “Cartas de Erminda á Enaira”, felicita pela passagem natalícia da amiga e fornece pistas que apontam para uma infância partilhada), poemas, glosas, anedotas e charadas.

O Beija-flor teve como colaboradores A. Frederico Colin (1823-?), José Joaquim Mendes Cavalleiro, Manuel Vicente de Carvalho Penna e Ricardino. A seguir o poema “Á Virgem do Amazonas”, do poeta e prosador Romualdo de Souza Paes d’Andrade (1827-1892).

 

Á Virgem do Amazonas

Oh! Quem es, vigem formoza,

Que estes prados aviventas,

E destes bosques augmentas

A belleza e o primor?!

Serás fada? Ou es o gênio

Deste sitio encantador?

 

Esta fonte christalina

Para ti, virgem, murmura;

Tambem a briza sussurra

Entre a folhagem verdóza,

Onde o terno Sabiá

Canta com a vóz maviósa!

 

Se accaso na lympha pura

Retractas teu corpo airozo,

O patrio rio amorozo

O seu impeto recrêa,

E com tuas lindas formas

Parece que se recrêa.

 

Si na fina arêa imprimes

Teus vestigios delicados,

Mil beijos enamorados

Ali vou depositar,

E mileditas imagino

Nesse momento gozar!

 

Se sorrizo melindrozo

Vem teus labios descerrar,

E tantos dotes mostrar

D’essa bocca encantadora,

Sinto no peito os effeitos

De chama devoradora.

 

Ah! não póde, meiga virgem,

Resistir meu Coração,

A tão rara perfeição,

Que te deo o Creador!...

E quem pode contemplar-te

Sem por ti morrer d’amor?!

 

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