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Ibrantina Cardona



Ibrantina Cardona nasceu em Nova Friburgo, RJ, em 11 de novembro de 1868, e morreu na cidade de Rio Pardo, RS em 1946. Foi poeta e escritora. Foi casada com o jornalista e tipógrafo gaúcho Francisco Cardona, proprietário de uma tipografia na cidade de Mogi Mirim (SP) e fundador do periódico A Comarca, publicado inicialmente em 05 de julho de 1900.

A biografia de Ibrantina relata um fato curioso a respeito de sua vida de casada. Em Mogi Mirim, corriam rumores que apesar de morarem sob o mesmo teto, ela e o marido não tinham vida conjugal ativa, com a residência sendo dividida em duas partes e cada um ocupando uma dessas partes. Não havia entre eles comunicação direta, quando necessário, o diálogo era feito através de bilhetes. A este comportamento bizarro do casal, não se sabia exatamente o motivo que os levou a tal conduta, a hipótese mais provável e que se dizia na época, que o sucesso de Ibrantina incomodava Francisco.

A Capital Paulista: revista mensal de artes e lettras, no número de 4 de novembro de 1899, traz uma referência importante sobre a escritora, escrita por Carlos Ferreira. Vale ressaltar o trecho“IbrantinaCardona dispõe da dupla superioridade do talento e do coração, para garantia do bom êxito nas lutas elevadas do pensamento e do sentimento”. Mais tarde, seria homenageada por Antonio Arruda Dantas (1921- ) que lhe prestou tributo no livro, Ibrantina Cardona, publicado em 1976, pela Editora Pannartz.

Sua colaboração em periódicos era intensa. Na Revista Feminina, ela colabora com o poema Ave Maria, e, em Senhorita, ela faz uma homenagem à sua mãe com o poema intitulado Sub umbra. Ambos transcritos a abaixo.

Ibrantina publicou Plectos, seu primeiro livro,em 1897. Em 1922, surge Heptacórdio, e no ano seguinte, Kleopatra: poema trágico e histórico, lançado pela Oficina de Monteiro Lobato & Cia. Esta obra faz parte do acervo da Biblioteca Nacional. Em 1951, aparece postumamente Cosmos: poesias de vários tempos, e mais dois livros de poesias,Primavera de amor, e Asas rubras (s/d).

O acervo de Manuscritos da Biblioteca Nacional tem um documento assinado por ela,Cartão a Mário Behring tratando da revista Kosmos, datado de 1905.



Sub umbra

(À memória de minha mãe)
E morre tudo assim, ao sopro de um momento,
Na sombra glacial dos tristes desenganos...
A crença, as illusões, o amor, o sentimento,
E tudo que ennobrece a nós, frágeis humanos.

A lucta, sempre a lucta! E ao peso de alguns annos
De tanto amargo estudo, esvae-se-nos o alento...
E frívola Sciencia, à sombra dos arcanos,
De duvida complica o nosso pensamento.

No curso da existência ephemera, illusoria,
Augmenta-se, ó loucura! O inferno do supplicio,
Buscando dia a dia um átomo de gloria.

Depois, quando a materia, ao fundo precipício
Do Nada, tomba emfim, apenas a memória
Nos lembra desta vida o inutil sacrifício!


Em: Senhorita, anno 1,n.5, 1920?


Ave Maria

Tarde de Agosto. Ao longe, o horizonte escurece,
na agonia do sol; e sobre a terra ungida
de tristeza se estende o crepúsculo. Desce
silente a noite: cessa o bulício da vida.

N’um morbidolanguor, toda a terra abatida,
parece meditar; aos poucos se entristece
A humanidade. Paira em tudo a indefinida
mudez, e, em mysticismo em volta, sob a prece.

Das nuvens atravéz, a lua religiosa
espia. --- ha pelo espaço angustias de noivado...
Ha saudades de amante ausente e lacrimosa...

E o “Angelus”, austero, echôa compassado
como um dobre de morte: echoa... e, suspirosa,
minh’alma se ajoelha ante o altar do passado.


Em: Revista feminina, anno 4, n.36, maio 1917

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