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Guerra Junqueiro

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Abílio Manuel Guerra Junqueiro nasceu em Freixo de Espada à Cinta, Portugal, a 17 de setembro de 1850 e morreu em Lisboa, a 7 julho de 1923. De família abastada e extremamente católica, frequentou a Faculdade de Teologia, entre 1866 e 1868, abandonando-a para estudar direito, na Universidade de Coimbra (1868-1873). Em Coimbra começou a frequentar ambientes intelectuais e políticos. Fez parte do grupo Vencidos da Vida, formado por intelectuais que se destacavam no cenário cultural português. Faziam parte deste grupo, além de Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós entre outros. Iniciou carreira literária no jornal A Folha. Em Lisboa, colaborou na revista Lanterna Mágica(1875).


Enveredou pela política, filiando-se ao Partido Progressista. Foi secretário dos governos de Angra do Heroísmo, nos Açores, e Viana do Castelo. Elegeu-se deputado pelo círculo de Quelimane, Moçambique, em 1880.


Mystical Nuptiae, sua primeira publicação, é de 1866. Em 1874, publicou A Morte de D. João e, em 1879, A musa em Férias, coleção de poemas. Romancista, escreveu A velhice do Padre Eterno (1875),Prosas Dispersas (1921), e Horas de Combate (1924, obra descoberta após sua morte). Como poeta escreveu Duas Páginas dos Catorze Anos (1864), Vozes sem Eco (1862), Baptismo do Amor (1868), entre outras.




O Primeiro Berço


Entre tanta miseria e tantas coisas vis
D’este vil grão d’areia.
Inda tenho o condão de me sentir feliz
C’o a felicidade alheia.

A minha noite escura, á noite tormentosa
Onde busco a verdade.
Chegou co’as azas de oiro a canção cor de rosa
Da tua f’licidade:

E’s pae! Viste nascer um fragmento de aurora
Da tua alma, de ti!
Oh! Minuto divino em que o sorriso chora
E em que o pranto sorri!

Que ventura radiante, oh que ventura infinda!
Que olympicos amores!
Ter fructos em abril com o vergel ainda
Estrellado de flores!

Deslumbramento! Vêr num berço o teu futuro
Sorrindo ao teu presente!
Ter a mulher e a mãe; juntar o beijo puro
Com o beijo innocente.

Eu que vou, javali de flanco ensangüentado
Pelos rudes caminhos,
Ajoelho quando escuto á beira d’um vallado
Os murmúrios dos ninhos.

Em tudo o que alvorece há um sorriso d’esperança…
Candura immaculada!
E quer seja na flor, quer seja na creança,
Sente se a madrugada.

Quando, com um aroma, o hálito da infância
Roça nos lábios meus,
Vejo distinctamente encurtar-se a distancia
Entre a nossa alma e Deus.

A mão para apontar o azul, mão cor de rosa,
Que aconselha e domina,
Será tanto mais forte e tanto mais bondosa
Quanto mais pequenina!

Em: A Vida elegante, ano 1, n. 2, mar. 1909.

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