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Illustração paulista: semanario popular de actualidades

por Maria Ione Caser da Costa
A revista Illustração paulista, lançada na capital do Estado de São Paulo em 22 de outubro de 1910, recebeu o subtítulo de semanário popular de actualidades. Era propriedade de A. Machado e Comp. Passando posteriormente a ser propriedade de Amancio Rodrigues dos Santos.

Publicada sempre aos sábados, seu número avulso foi vendido por 400 réis, e a assinatura anual, que poderia ser adquirida na redação da revista com pagamento adiantado, valia 20$000. A redação estava localizada no segundo andar da rua Quinze de Novembro nº 54, local que também funcionava a administração, o ateliê fotográfico e a oficina de gravuras.

Illustração paulista contava com agências no Braz, em Santos, Campinas e também no Rio de Janeiro. Um responsável por fazer a publicidade da revista, percorria outras localidades nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, e se responsabilizava pelas assinaturas.

As páginas iniciais e as finais de Illustração paulista foram dedicadas às propagandas, que incluíram dentre outras: Piano-Pianola, Pilogenio para queda de cabelos, Loteria de S. Paulo, Vapores da Mala Real Inglesa para viagens à Europa, Torrador de café Souza Mello, Cerveja Anthartica e Charutos Dannemann.

Com o título “Chronica”, o editorial aparece no que seria a décima primeira página do primeiro exemplar - as páginas da revista não são numeradas. Um conto, algumas piadas e o expediente, antecedem o elegante editorial.

Seu texto inicia discorrendo sobre a “vida intensa e desbordante” de São Paulo, com a grande quantidade de jornais que são mantidos na cidade, várias bibliotecas e instituições de ensino, mas que, apesar de todas estas alternativas e com “todos os signaes de uma vida intelectual bem definida, não tenha ainda uma unica revista digna do meio”. Explicam que são publicadas em São Paulo, variados tipos de revistas especializadas, mas a cidade não conta com uma “revista-revista, uma revista geral”. Os editores então pretendem preencher esta lacuna e informam que,

 
A Illiustração paulista quer ser, acima de quaesquer restricções, o espelho e o expoente da vida de S. Paulo. Será uma revista no sentido justo do termo – uma revista de informação e de commentario leve, sobretudo de informação, por cujas paginas, illuminadas de arte, se verão desfilar entre periodos breves e illustrações copiosas, o ultimo comicio ou o ultimo livro, o melhoramento mais recente ou o sarau elegante da vespera, as silhuetas em fóco na sociedade ou a physionomia que no momento se destaca da penumbra anonyma para a evidencia de uma notoriedade occasional. Eis ahi, em poucas palavras, o que vae ser a Illustrção paulista. [...]

A Illustração paulista representa alguma coisa mais do que uma simples aventura, do que uma dessas innumeraveis cartadas que tão de continuo surgem para os azares da publicidade. O nosso semanario é uma construcção que começou justamente pela base – o que não é commum: funda-se sobre uma empresa regular, commercialmente organizada. [...]

Esforço e enthusiamo, disso dispomos á farta. E os nossos são daquelles que não desfallecem ao embate da primeira corrente adversa...

Aqui têm os leitores a Illustração paulista.

Cada exemplar possui uma média de trinta páginas, que, como dito acima, não foram numeradas. Todas ilustradas, com fotos dedicadas à cobertura de solenidades oficiais e festas, instantâneos das ruas ou mesmo de aspectos do dia-a-dia das famílias paulistanas. Fotos de atividades esportivas, das escolas, enfim, uma cobertura do que acontecia, que nos permite hoje, observar as mudanças ocorridas em São Paulo. Além das fotos, são encontrados também desenhos e caricaturas de A. S. Forrest (Archibald Stevenson Forrest, 1869-1963), Iba, Paulo Menphis, Jahú, White, dentre outros.

No acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional podem ser consultados 81 exemplares correspondendo aos anos de 1910, 1911 e 1912.

O último exemplar publicado foi o número 81, em 24 de agosto de 1912, que trouxe a seguinte nota: “aos nossos leitores e assignantes, com o presente numero, cessa a publicação da Illustração Paulista. Mas a Illustração não se extingue propriamente: ella passa a existir em commum com A Vida moderna, cujo programma é perfeitamente identico ao della. Trata-se, pois, de uma simples fusão, aconselhada por todas as conveniencias.”

Illustração paulista publicou contos, poesias, piadas, notícias sociais, crônicas, resumos de filmes que estavam em cartaz nos cinemas de SP. A partir de janeiro de 1912, iniciou, semanalmente, a publicação de um suplemento infantil, o Simplicio: jornal humorístico para crianças. No suplemento foram publicados pequenos contos infantis, anedotas, concursos com prêmios, desenhos enviados pelas crianças e retratos dos pequenos leitores.

Alguns dos colaboradores de Illustração paulista foram Alfredo Monfine (diretor artístico), Alvaro Freire, Amadeu Amaral (1875-1929), Arthur Mendes, Couto de Magalhães, Eugenio Egas (1863-1956), Garcia Redondo (1854-1916), Gelásio Pimenta (1878-1924), Gomes Cardim (1865-1932) e José Gonzaga. E é de Alvaro Freire o poema selecionado das páginas da revista.

 

Rouxinoes

Era um mimoso e lindo rouxinól,

De azas de arminho, alegre, que vivia

Co’as flôres a cantar pelo arreból,

Co’as virgens a resar n’Ave Maria!

 

E sacudia as pennas de setim,

E voava, voava para o sul;

Depois se erguendo para o céu sem fim,

Ficava, mesmo, como um rei no azul!

 

- Numa alleluia o rouxinól vivia,

Té que malvadas mãos o condemnaram

A’s mil torturas da gaiola um dia!

E, más os olhos ao infeliz vasaram!

 

Já não mais solta os cantos de velludo,

Que ás manhãs de festas mil soltára;

No emtanto, ás vezes, deixa de ser mudo

E resa p’ra o malvado que o cegára!

 

Eu também sei de um coração que andára

Rouxinoleando pela vida afóra!

Um dia alguém com riso o condemnára,

E, escravo, o triste vive cégo agora...

 

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