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Jornal da côrte: folha política, comercial, literária e industrial

por Maria Ione Caser da Costa
No dia 1º de fevereiro de 1873, no Rio de Janeiro, centro político do império no país, foi lançado o Jornal da côrte: folha política, comercial, literária e industrial. Periódico diário, foi impresso pela Typografia Commercial, que estava situada no número 205, da rua do Hospicio, atualmente rua Buenos Aires, no centro comercial da cidade do Rio de Janeiro. O responsável pela publicação foi o sr. F. A. da Costa.

Vale apresentar aqui um anúncio da Tipografia Comercial publicado nas páginas do periódico, informando aos leitores que estavam trabalhando com o moderno, na arte de imprimir.

 
Importada diretamente de Bruxellas e Leipsig uma typografia modelo, fica ella á dispodição do publico que poderá vir verificar o que há de mais completo e perfeito na arte typographica. Machina de assetinar, de imprimir e de desencravar, prelos de mão, dos melhores fabricantes, e uma grande variedade de typos, vinhetas de combinação, filets, emblemas, que torna, este estabelecimento o mais importante da côrte.

Como era usual nos oitocentos, os editores utilizavam, no subtítulo, palavras que indicassem ao público leitor, os temas que seriam abordados na publicação. Com o Jornal da Corte, não foi diferente: temas políticos, comercial, literários e relativos à indústria. São encontrados também em suas páginas crônicas, poesias, folhetim, notícias comuns aos moradores da região, enfim, seus editores cobriam uma vasta relação de temas. A seguir um excerto do editorial que não apresenta autoria.

 
Correm preteridos e abandonados do jornalismo os mais instantes problemas sociaes, pois que todos os orgãos de publicidade dão-se exclusivamente ou a diffamações nauseantes, ou a apologias nem sempre judiciosas.

Entretanto, em época alguma tanto careceu a opinião das luzes e civismo da imprensa periodica, cujos salutares e beneficos effeitos todos reconhecem, desde que não se desmanda ella a serviço de paixões inconfessáveis.

O artigo continua descrevendo sobre os assuntos que seus editores pretendem informar aos seus leitores diários. Sempre pautado nas palavras relacionadas no subtítulo. Finaliza informando que “a educação publica, o ensino professional, e sobretudo as questões mais urgentes de nossa lavoura, serão assumptos a que prestaremos a mais desvelada attenção.”

No acervo da Biblioteca Nacional constam três exemplares, os dois primeiros e o quarto, que foi publicado no dia 04 de fevereiro daquele ano.

O exemplar avulso foi vendido por 80 réis. Para as assinaturas, eram cobrados valores diferenciados para a corte e para as províncias. Nestas a assinatura anual valia 20$000 e a trimestral tinha o valor de 5$000. Para a corte os valores cobrados eram de 15$000 ou 4$000, respectivamente.

A venda de anúncios ou avisos ajudavam na manutenção da publicação. Aos avisos era cobrado o valor de 200 réis por linha enquanto que para os anúncios e demais publicações, o valor da linha era de 60 réis. Entretanto, mesmo com vendas de espaço em suas páginas, parece que os editores não conseguiram dar continuidade à publicação. Não foram encontrados outros exemplares do Jornal da Corte em acervos de outras bibliotecas.

Cada exemplar possui quatro páginas e cada uma delas foi diagramada com 5 colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração. O exemplar de número dois está incompleto. Foram digitalizadas somente a primeira e última páginas.

Na seção “Literatura” está um poema de Rozendo Moniz (1845-1897) com o título “Saudação á memoria do benemerito almirante Visconde de Inhauma”, que apresentamos um excerto a seguir.

Verfas em aspa! A meio páu bandeiras!
tambores sem rufar!
os canhões imitando as carpideiras!
Que luto pelo mar!

Qua azar, marujos, lamentais nas aguas,
que hoje tanto vos dóe?!
Queixas á morte, porque Deus as maguas
cessou do vosso heróe?!

As ondas estancai dos brônzeos rostos,
que é malcabida a dôr.
Não ofendam o Céo vossos desgostos!
Despertai o tambor!

Amantilhai as vergas! Fóra os lutos
Dos tétricos canhões!
As bandeiras nos tópes! Bem enxutos
os olhos, meus leões!

Como fazeis, se a tempestade amaina,
Repondo mastaréos,
as vélas desferrando em lesta faina,
e sempre olhando aos céos;

louvai a mão que abrange os infinitos
e vos ampara lá,
a eterna mão que vos tornou bemditos
na fúrias de Humaitá!

Para continuar lendo o poema acesse aqui.

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