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A Perseverança: jornal litterario

por Maria Ione Caser da Costa
No ano de 1868 iniciou-se a publicação do periódico A Perseverança, que recebeu o subtítulo de jornal litterario.  Foi publicado na cidade de Desterro, naquela época, capital do estado de Santa Catarina.

De acordo com A imprensa catarinense no século XIX[*], editado pela Hemeroteca Digital Catarinense, A Perseverança iniciou suas atividades em 1º de julho de 1868. A Biblioteca Nacional não possui nenhum fascículo preservado em seu acervo.

Os originais pertencem à Biblioteca Pública Estadual de Santa Catarina e foram microfilmados pela Universidade Federal de Santa Catarina, que, através de convênio como PLANO (Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros) disponibilizou os microfilmes para consulta na BN. A coleção que pode ser consultada na Hemeroteca Digital, digitalizada a partir dos negativos, inicia com o número 5, publicado em 1º de setembro, até o número 15, de 20 de novembro de 1868.

Os redatores de A Perseverança foram João Ribeiro de Carvalho e Silvio Pellico de Freitas Noronha (1842-1893), sendo os primeiros exemplares impressos pelas máquinas da Typographia do Mercantil. A partir do número 9, passa a ser impresso pela Typographia de Joaquim A. do Livramento.

Nas páginas de A Perseverança não aparece valor para venda avulsa do fascículo. Os interessados em adquirir a publicação, deveriam fazer assinaturas, que poderiam ser trimestrais, pelo valor de 1$500 ou semestrais, pagando 3$000. Os fascículos apareciam nos dias 1º, 10 e 20 de cada mês.

Na linha editorial, a publicação relatava as ideologia de vida de seus editores e colaboradores, com ideais de modernidade, privilegiando a cultura das letras, e o acolhimento aos filhos dos estrangeiros que nasceram no Brasil. São encontrados artigos com apontamentos históricos, textos literários, traduções de romances, poesias e charadas.

Nas páginas de A Perseverança, publicado em capítulos, aparece o romance “Uma Reparação” (Une réparation), do dramaturgo francês Alphonse Brot (1807-1895), com tradução de Alfredo T. da Costa, sempre com continuação no número seguinte. Os artigos sobre “Liberdade” e os apontamentos históricos, também são publicados em partes, sem, contudo, terem sido finalizados, pois indicam que terão continuação no próximo número. Não foi possível descobrir se a publicação teve continuidade.

Com quatro páginas cada exemplar, cada uma dividida em duas colunas separadas por um fio simples, não apresentou ilustração, apenas alguns arabescos finalizando ou separando os artigos.

Além dos redatores mencionados acima, os colaboradores Costa Carneiro (António Pinto da Costa Carneiro, 1849-1909), Franc de Paulicéa Marques de Carvalho, Gervasio Nunes Pires, Gustavo Henrique, M. P. de Souza e Oliveira e Cruz tiveram poemas ou artigos publicados nas páginas de A Perseverança.

A seguir um soneto assinado por Eduardo Nunes (possivelmente, Eduardo Nunes Pires (1845-1902), poeta, professor, jornalista e escritor, que foi colaborador em vários periódicos, na então capital catarinense).

 

Marilia!

Oh! deita-me outra vez teus olhos bellos

Assim a desvairar de indifferença,

Porque eu verei cumprir-se os meus anhelos,

E est’alma, que descreu, já terá crença.

 

E quem me dera o crer até nos sonhos,

N’aquellas illusões que eu tive outr’ora,

N’aquelle meu scismar de céus risonhos,

E em tudo aquillo em que eu não creio agora!

 

Amo-te, sim; mas neste amor não creio,

Porque já sinto o coração gelado...

Quem sabe se amanhã num louco ancêio

Eu zombarei de ti – si este é meu fado?...

 

Não podes nos teus sonhos innocentes

Scismar como se vive uma tal vida,

Aberto o peito em ulceras ardentes,

E a zombar, a zombar... co’a fé perdida!...

 

Mas si ainda uma vez tens olhos bellos,

Me volvesses, embora essa indifferença,

Intão viras cumprir-se os meus anhelos,

E est’alma, que descreu, teria crença...

 

[*] Conferir em http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/A_Imprensa_Catarinense_ebook.pdf.

 

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