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A Palavra: revista militar e litteraria luz e união

por Maria Ione Caser da Costa
A Palavra: revista militar e litteraria luz e união teve seu lançamento no estado do Pará, localizado na região norte do Brasil, no dia 15 de setembro de 1895.

Em todo país, de um modo geral, as revistas do século XIX apresentaram características que se assemelhavam aos jornais: ambos eram responsabilidade de algum órgão oficial, que na maioria das vezes publicava suas “folhas”, e tinham também o mesmo formato. Os assuntos variavam entre política, literatura e assuntos afins, como recreativos, artísticos, estudantis ou humorísticos, mas as técnicas tipográficas eram as mesmas.

Revista quinzenal, A Palavra, como indica o subtítulo, foi uma publicação militar, que também apresentou conteúdo literário, com textos sobre educação e teatro. Teve Getulio Santos como redator chefe e Odylon de Menezes como gerente. Os redatores foram o Christovam Barreto, Maya Conde e Gervasio Nunes. A revista contou com diversos colaboradores, pois a mesma franqueava “a toda e qualquer pessoa que se dedique ao cultivo das lettras”.

O editorial, sem indicação de autoria, apresenta a publicação indicando, com o título da revista, o caminho que seus editores pretendiam seguir: utilizar-se sempre da palavra para informar e ilustrar. Tomam como “divisa” as significativas palavras “Luz e União”. Eis o texto:
É de praxe quando se tem de lançar em publico qualquer publicação, precedel-a de um programma.

Assim pois, “A Palavra” resume o traçado do seu caminho em duas palavras: Luz e União, sua divisa, facultando a quem quer que seja as suas columnas, como meio do desenvolvimento intellectual de seus concidadãos, e propagação da instrucção entre aquelles que queiram dedicar-se ao cultivo das lettras.

Buffon disse: “O estylo é homem”; hoje todos nós dizemos: “a palavra é homem”.

O que é a palavra? É muita cousa e não é nada.

Com uma simples palavra póde-se exprimir abalisados conceitos, synthetisar-se bem orientados pensamentos.

Desse algures: “a palavra é ouro e o silencio é prata”, portanto, tenhamos sempre o metal cujo valor intrinseco é superior ao do silencio.

Estamos em epocha de pronunciamentos, em que todos nós devemos usar da palavra, e onde cada moço procura explanar seus conhecimentos por meio d’ella.

“A Palavra”, não é mais do que um novo viandante da estrada do progresso, um outro campeão que modestamente, neophytamente surge na carreira das lettras.

Espera ella, encontrar o apoio dos fortes e estende os seus braços aos mais debeis.

É esta a sua apresentação.

Antecedendo ao editorial e graficamente diagramado, está o sumário. Não é comum encontrar periódicos nos oitocentos, que se utilizassem desse artifício. Através dele, pode-se observar que, além da parte literária, são encontrados artigos sobre armamentos e tipos de pólvora utilizados.

Não foram vendidos números avulsos de A Palavra, a compra acontecia somente por meio das assinaturas, que deveriam ter o pagamento adiantado. O valor cobrado na assinatura mensal era de 500rs. As assinaturas semestrais e anuais valiam 3$000 e 6$000 respectivamente. Como costume, nos periódicos que circularam nos oitocentos, a seguinte nota aparecia: “avisamos aos srs. que não quiserem honrar-nos com as suas assignaturas o obsequio de devolver-nos os numeros da nossa revista, que lhes forem endereçados.”

Na Biblioteca Nacional estão preservados apenas dois exemplares d’A Palavra. Além do primeiro, mencionado acima, o número 7, publicado em 17 de dezembro de 1885. Foram editados com 8 e 10 páginas, respectivamente. Cada página está dividida em duas colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração.

Além dos redatores e dos responsáveis pela revista, colaboraram também nas páginas de A Palavra, Romualdo, O. de Menezes e Theodoro Rodrigues (1873-1913).

O artigo com o título “Brasões”, publicado no número 7 e assinado por Theodoro Rodrigues, tem como foco principal, o livro lançado por Bernardino da Costa Lopes (1859-1916) em 1895. Para escrever o artigo, Rodrigues se baseia em leitura que fez de uma apreciação da obra, publicada na Revista Brazileira: “acabo de ler na Revista Brazileira de 1º de novembro, uma apreciação sobre este livro de versos, firmada pela respeitável assinatura do sr. José Verissimo”. O autor rebate “a apreciação”, afirmando que discorda de Veríssimo, por ter considerado o autor dos poemas medíocre. Ele chama o livro de mimoso e reconhece o valor do poeta, se apropriando de alguns versos de B. da Costa Lopes para ilustrar seu artigo. Eis um deles:

 

Parasol

Um bijou de marfim, trama escoceza

E riquissimas rendas trabalhadas

Pelas mãos brancas, finas, delicadas,

De uma reclusa e paciente inglesa,

 

Pallio branco da graça e da belleza,

O parasol de nesgas esticadas;

— Bella tulipa das manhãs douradas,

Tral-o sempre umbrelado, a baroneza.

 

No pedaço de dente de elephante

Cinzeladuras de chinez galante,

Cousas bizarras que elle, opiado, sonha:

 

N'agua — das nymphas o alarmado feixe,

E uma, a mais bella, núa, como um peixe,

Trespassada no bico da cegonha!

 

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