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O Chefe – Abolicionista e Liberal – Anno I – nº 2

por Irineu E. Jones Corrêa (FBN), Luzia Ribeiro de Carvalho (IC Faperj – bolsista)
Datado de 21 de agosto de 1885, o exemplar número de número 2, do primeiro ano de circulação de O Chefe, faz parte da coleção de periódicos manuscritos da Biblioteca Nacional. Abaixo do título, aparecem várias informações em frases sequenciais: seria um órgão filiado aos Liberais e abolicionistas, teria como proprietário F. Pereira da Silva, o qual teria como primeiro nome Félix e dois apelidos Sem Queixo e Testa de Ferro. A data de edição é o dia seguinte à queda do Gabinete do Ministro José Antônio Saraiva, do partido Liberal. O informativo foi escrito em Itaboraí, localidade da antiga província do Rio de Janeiro, cuja importância especial é devida ao fato de servir de pouso para a família imperial, em seus deslocamentos da capital para Petrópolis, local de veraneio. O pernoite era feito no Palacete do Visconde de Itaboraí.

Logo abaixo do cabeçalho, aparece uma solicitação aos leitores, no sentido de apontar e corrigir os erros na escrita, “pois que o redator ignora a orthografhia”, repetindo uma estratégia de tantos outros pequenos periódicos, manuscritos ou não.

A mancha gráfica da peça é simples, dividida em duas colunas, na frente e verso de folha pautada. Na segunda página, as colunas foram separadas por uma linha. A caligrafia é em letra cursiva e, embora não seja bem formada, permite a leitura de todo o conteúdo. Ela se mantém regular em todo o manuscrito, apenas a informação sobre os apelidos do autor e uma anotação ao final fogem à modelagem do restante. Não há nenhuma iconografia. As folhas estão amareladas, marcas da ação do tempo. As suas dimensões são 33x22,5 cm.

Colocando em evidência a alternância entre os partidos conservadores e liberais, um fato marcante do período imperial, o redactor informa sobre o momento da queda de um dos gabinetes liberais, destacando as figuras dos senadores Paranaguá (1821-1912) e Saraiva (1823-1895). Com um tom crítico e irônico informam sobre a chegada ao poder do senador Cotegipe, João Maurício Wanderley (1815-1889), do partido Conservador, representando uma ruptura de sete anos de gabinetes liberais, na gestão dos negócios do Império. A historiografia registra ter sido aquela a primeira vez que ele ocuparia o cargo de ministro chefe, embora já houvesse participado de outros gabinetes e fosse senador pelo estado da Bahia desde 1856. A coordenação dos nomes Saraiva e Cotegipe dá nome a Lei dos Sexagenários, que concedia liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade.

O Império brasileiro tinha características parlamentaristas. O cargo de presidente do conselho fora criado pelo Decreto Imperial nº 523, de 20 de Julho de 1847. A nomeação se dava de acordo com o resultado das eleições para a Câmara dos Deputados, cabendo ao partido vencedor organizar o Gabinete de Ministros e ao Imperador, titular do Poder Moderador, fazer as nomeações. O Presidente do Conselho acumulava o cargo de Ministro da Fazenda.

As poucas linhas do pequeno jornal ainda guardam espaço para elogios enfáticos ao Senador Dantas, Manuel Pinto de Sousa Dantas (1831-1894), liberal e abolicionista, que ocupou o cargo de Presidente do Conselho entre junho de 1884 e maio de 1885. Ele seria “a gloria do partido Liberal da Bahia e das outras províncias”. Dantas é considerado um dos principais mentores da campanha abolicionista, sendo autor de argumentos e leis importantes para os debates sobre o tema e a inviabilização da escravidão no país. Antes do cargo no governo central, ele foi governador da Bahia, entre 1865 e 1866. Formado em Direito, em Recife, teve entre os colaboradores de sua banca o jovem Rui Barbosa (1849-1923).

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