Periódicos & Literatura
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É tarde!
É forçoso… não posso por mais tempo
Conter a acerba dor que me lacera;
Tem limites o humano soffrimento,
Que há de ao coração dizer–espera?
Esperar! Quando sinto a cada instante
As minhas illusões desvanecer-se;
E de meu peito ao arquejante abalo
Pouco a pouco a existencia desprender-se!
Esperar! Quando vejo que a fortuna
Que sonhava tão alto em meu transporte
Se converte em promessa enganadora,
Pois onde cria a vida, encontro a morte!
Esperar! Tu não sabes o que pedes;
Não pesáste o valor dessa palavra!
É tarde! é muito tarde! Agora em chammas
O incendio fugaz devora e lavra!
E tiveste a coragem reflectida,
De fria calcular os meus tormentos,
E rir do meu soffrer! rir de ti mesma!
E zombar dos mais santos pensamentos?!
Tao moça e tao descrente! Onde aprendeste
Essa lição fatal do desengano?
A duvida que pousa junto ás campas,
Revelou-te no berço o negro arcano?
Oh! não, não acredito em teus receios:
O meu provado amor já não se ilude;
Tu pões a gloria tua em ser-me infensa
Eu em ser-te fiel minha virtude?
Tu calculas, invocas mil pretextos,
Pensas, refflectes com socego e calma;
Sujeitas á rasão teus sentimentos;
Os meus são expontaneos da minh’alma.
E’s feliz! Foste tu quem o disseste:
Gosa em paz essa maxima ventura;
Não irão perturbar os teus praseres
Os queixumes da minha desventura!
Um dia, talvez digas, se a memoria
Do meu amor na mente conservares;
“Extremos como os seus nunca mais tive!
Matou-o o meu desprezo e seus pezares!”
Em: O Cysne, anno1,n.1(maio 1864)