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O Palinuro: orgão da Palestra Litteraria

por Maria Ione Caser da Costa
No dia 22 de março de 1885 foi lançada, em Todos os Santos, localidade afastada da área central da corte do Rio de Janeiro, a publicação O Palinuro: orgao da palestra litteraria. Com a chegada da Família Real ao Brasil, as moradias foram tendo seu crescimento em direção aos arredores, assim foi criado, dentre outros, o bairro de Todos os Santos, hoje um bairro do subúrbio carioca.

A inclusão do nome de um bairro no cabeçalho da publicação não é comum. Utiliza-se o nome da cidade/capital. Entretanto não é difícil encontrar, publicações editadas no século XIX, títulos de periódicos registrados com o nome do bairro. Imagina-se que os editores, por estarem mais afastados da Corte, decidiram projetar suas publicações.

O Palinuro foi uma publicação do Gremio Domestico Palestra Litteraria. Os responsáveis por O Palinuro foram os integrantes de uma família que, por amor à literatura e à caridade, resolveram criar a publicação:

 
Hoje, que o sol da descrença tem crestado os horisontes literários, admira que, no modesto recinto de uma família, tivesse germinado a rutilante idéa da organisação de uma sociedade literária. É, portanto, justo descrever aqui o amanhecer do “Gremio Domestico Palestra Litteraria”.

A creação do “Gremio Domestico Pallestra Litteraria” foi iniciada pelos Srs. Luiz Nobrega, Americo Pires de Albuquerque e J. Ricardo de Albuquerque que, reunidos, em a noite de 28 de Setembro de 1884, na casa onde reside a familia Pires, foram applaudidos e vantajosamente auxiliados pelos membros e mais alguns íntimos amigos d’essa familia. Nesta época, em que a criteriosa Imprensa da corte procura socorrer as victimas dos terremotos na Hespanha, pedindo para esse fim a adesão de todas as associações, o “Gremio Domestico Palestra Litteraria”, aclarado por essa constellação fulgurante – a freternisação humana, - não podia nem devia deixar de apresentar-se, concorrendo tambem com o seu fraco auxilio para tão justo quão grandioso commettimento.

O Palinuro, portanto, orgão  transmissor dos sentimentos dos sócios d’este Gremio, que vê n’um cataclysmo de luzes a humanidade, confraternsando-se iriar-se n’uma aurora de progresso e civilização, dardejando raios de amor e caridade, levanta-se de seu obscurantismo, para, só com a colaboração dos seus associados gazendo-se imprimir em numero especial, levar o seu insignificante obulo ao regaço da desditosa Hespanha.

Constam no acervo da Biblioteca Nacional dois exemplares desse título, entretanto ainda não foram digitalizados. A consulta aos fascículos só pode ser efetuada na Coordenadoria de Publicações Seriadas da Biblioteca Nacional através do microfilme.

O primeiro, indicado acima, foi impresso pelas máquinas da Typographia Camões, que estava localizada na rua do Hospicio, nº 139 e se apresenta como “Edição especial em favor das victimas dos terremotos na Hespanha”. Todos os artigos, em prosa ou em verso, foram dedicados a relatar os infortúnios ocorridos com os moradores acometidos pelo forte abalo sísmico.

Vários periódicos da época se empenharam em conseguir donativos para serem enviados aos necessitados de Andaluzia. Da Revista illustrada, escolhemos dois artigos que podem ser consultados, através do link, na Hemeroteca Digital: o primeiro confirma o ocorrido. O segundo é uma pequena nota informando sobre o número especial de Palinuro (parte superior da terceira coluna), além ilustração de capa, do número 403, da Revista illustrada, de fevereiro de 1885.

O segundo exemplar de O Palinuro foi editado no dia 21 de junho de 1885, impresso pela Typographia de A. dos Santos, que estava localizada na rua da Carioca, nº 31, foi “Em homenagem a Victor Hugo”, o romancista francês Victor-Marie Hugo (1802-1885), que havia falecido no mês anterior, mais exatamente, no dia 22 de maio.

Pelas pesquisas efetuadas, O Palinuro continuou a ser publicado com o título Revista da Palestra Litteraria, também nesse dossiê.

Participaram das páginas de O Palinuro com literatura, em prosa ou em verso, Alberto Pires (o presidente do Gremio Domestico Pallestra Litteraria), Alberto Ourique, Americo Pires d’Albuquerque, Cesaria Nunesia Pires, E. N. Pires, Elisa Pires d’Albuquerque, Eugenio Pires, Gervasia Nunesia Pires, João Filgueiras, Luiz Nobrega, Maria Velluti, Rita Pires dentre outros. A seguir o soneto “O Bem”, de autoria de João Filgueiras.

 

O Bem

Celesta reflectir é grandioso o bem!

Elle espontâneo surge, em prol dos malfadados,

De nobres corações, escrínios que, sagrados,

Entre virtudes mil, um tal penhor contém.

 

Illimitado, corre e vae pousar além,

Onde a desgraça fere a golpes denodados;

E lá, sob a choupana, aos pés dos desgraçados,

Sublime, deposita os gozos que retem.

 

Por elle é que s’eleva o mundo na grandeza;

É nelle que se funda a sabia natureza,

Dictando suas leis ao reino – Humanidade;

 

O tendes por divisa, oh! Povo Brazileiro.

Avane! Caminhae! Segui luzeiro,

Que brilha eternamente ao sol da Caridade.

 

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