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O Beija-flor: jornal joco-serio e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário O Beija-flor: jornal joco-serio e noticioso foi fundado em 25 de abril de 1869 na cidade de Maceió, capital de Alagoas, sob a direção de Euclides B. Cordeiro de Mello. Foi impresso pela Typographia do Partido Liberal, que estava localizada na rua do Macena nº 49, local também destinado a receber os pedidos de assinatura. A partir do nº 5, de 3 de junho, a tipografia muda para a o número 121 da rua do Commercio.

As assinaturas trimestrais, com pagamento adiantado, valiam 2$000 para os moradores da cidade de Maceió e 3$000 para os interessados, residentes no interior do estado.

O editorial de lançamento acentua a posição do editor, que escreve para as mulheres, com a finalidade de lhes proporcionar momentos agradáveis, de boa leitura e distração.

 
A imprensa é a luz; e a luz se defunde por milhões de raios. O Beija-flor, como todos os animaes, que não são noctivagos, ou que não vivem nas trevas, como os criminosos, tambem vive na luz.

É por isso que elle hoje apparece.

O Beija-flor é uma ave tam innocente, que só vive de sugar os calices das innocentes flores.

Está entendido, por isso, que elle só pretende occupar-se com a innocencia, a candura, a belleza e com todos esses grandes dotes, que tanto resplendem e realçam o nobre e illustre sexo, que enriqueceu a humanidade.

O Beija-flor nada tem que ver com essas politicas abastardadas, que dividem e subdividem o nosso tam rico paiz e tam digno de melhor sorte.

O seu fim é proporcionar alguns minutos de recreio as bellas jovens alagoanas, que já devem estar enfadadas de ouvir as deshoras da noute as perlengas do pai, do marido, ou do irmão, que foi insultado pela folha do dia. [...]

E supporá um momento o Beija-flor, que será desprotegido, amparando-se a esse tam illustre, tam respeitavel, tam sancto sexo, que deu a luz o Redemptor do mundo?

Não; mil vezes não!

E tal convicção tem o Beija-flor do bom sucesso de sua romagem, que agora mesmo vai expandir suas azas e abrir o seu vôo.

Sob taes auspicios, ha de por força ser feliz.

E ao que tudo indica todos foram felizes por um período razoável de tempo, tanto o semanário, quanto o público leitor, pois O Beija-flor circulou até dezembro de 1870, finalizando, sem que se expusessem os motivos, com o número 13 do ano 2.

Publicação que se diferenciou dos periódicos dos oitocentos, visto que grande parte dos títulos lançados naquele período, não conseguiam chegar ao número cinco, e O Beija-flor circulou por mais de um ano. Na Biblioteca Nacional podem ser consultados todos os fascículos de 1869 e alguns do ano seguinte.

Cada exemplar se apresentou com quatro páginas e cada uma delas dividida em três colunas. Na capa, o título foi diagramado em letra de forma, negritada e o subtítulo, logo abaixo, em letra cursiva e sem o negrito. A partir do número cinco, o desenho de um pássaro é colocado entre as duas palavras do título.

No ano 1, número 33, que foi publicado no dia 13 de março de 1870 o subtítulo muda para periodico litterario e noticioso.

O Beija-flor publicou folhetins, poesias, charadas, anagramas, logogrifo, epigramas, artigos sobre moda, vida em família e outros assuntos, sempre com a intenção de edificar e instruir as mulheres.

Encerramos com uma das muitas poesias publicadas em O Beija-flor, o poema de Antonio Gonçalves Dias (1823-1864), “A concha e a virgem”. Os editores fizeram uma homenagem ao poeta que se tornou expoente do romantismo brasileiro.

 

A concha e a virgem

Linda concha que passava,

Boiando por sobre o mar,

Junto a uma rocha, onde estava

Triste donzella a pensar;

 

Perguntou-lhe: — Virgem bella,

Que fazes no teu scismar? —

— E tu, pergunta a donzelCa —

"Que fazes no teu vogar?

 

Responde a concha: — Formada

Por estas aguas do mar,

Sou pelas aguas levada,

Nem sei onde vou parar! —

 

Responde a virgem sentida,

Que estava triste a pensar:

— Eu também vago na vida,

Como tu vagas no mar!

 

Vaes d’uma a outra das vagas,

Eu d’um a outro scismar;

Tu indolente divagas,

Eu soffro triste a cantar.

 

Vaes onde te leva a sorte;

Eu, onde me leva Deus!

Buscas a vida, eu a morte;

Buscas a terra, eu os Ceus!

 

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