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A Republica - o esboço de uma ideia

por Irineu E. Jones Corrêa (FBN)
O manuscrito que recebe o nome de A Republica não é mais que um esboço da estrutura para periódico, indicando o padrão de mancha gráfica comum para este tipo de publicação, durante o século XIX. A tinta usada é azul e suas folhas são de papel comum, feito de pasta de madeira. No papel, pode-se observar impresso o nome Bibliotheca Litteraria Brazileira, ornamentado por uma cercadura floreada. Na coleção de manuscritos da Biblioteca Nacional, ele faz par com outro título, O Republicano. Ambos os esboços indicam Lisboa, como local de edição. A semelhança entre a forma das letras, a cor da tinta e as características do papel sugerem que ambos seriam da mesma lavra. Suas medidas são 26,5 x 21 cm.

O esboço tem quatro páginas. Na cabeça da primeira delas, centralizado, está o título, A República. As informações do expediente estão em torno do título: cada grupo de informações tem espaço próprio, facilitando a sua visualização e leitura. Do lado esquerdo, aparece a indicação dos preços das assinaturas, discriminadas por trimestre e por semestre, em Lisboa e nas províncias, entretanto não aparecem os valores. Os preços dos números avulsos já aparecem estimados – cada exemplar custaria 10 réis. Esse conjunto de informações está colocado em linha, abaixo do título, duplicada à esquerda e à direita do cabeçalho. Entre elas aparece o local e a data para o exemplar: Lisboa, 10 de maio de 1880. Cada um dos espaços está seguro por fios. Acima do título e sem linhas de amarração, aparece a frase: Órgão do Centro Republicano Federal. Ladeando-a, aparece o ano e número da edição.

Abaixo do bloco formado pelo cabeçalho, começam as colunas, em número de três também separadas por fios. Conforme o esboço indica, as matérias apareceriam em sucessão contínua, no sentido vertical, em letra cursiva e distribuídas ao longo das páginas com previsão de espaço para cada uma delas. Estão indicadas algumas seções a serem criadas: efemérides, índice, situação, folhetim da república, falava-se que, correio dos bastidores, correspondências, seção comercial, almanaque, anúncios e teatro. No rodapé da primeira página, estão indicadas algumas outras seções que comporiam a estrutura do singelo periódico, sendo elas: semana constitucional, semana monárquica, quinzena musical, homens e fatos e bazar.

Uma consulta a manuais de historiografia portuguesa informa que o Centro Republicano Federal de Lisboa, fundado em 1879, foi uma das organizações que proliferaram pelas cidades portuguesas, no século XIX. No contexto da divulgação do ideário republicano e das lutas pela mudança de regime, os periódicos foram instrumentos importantíssimos, fossem eles grandes ou pequenos.
Uma consulta ao acervo de periódicos da Biblioteca Nacional de Lisboa não localizou um título correspondente às indicações do esboço, embora haja registro de várias publicações periódicas com o mesmo nome, entre eles uma A Republica – jornal da democracia portugueza, periódico impresso, com primeiro número em 1870. Com nome muito próximo ao esboço, há um periódico açoriano A República Federal: órgão do Centro Republicano Federal de Ponta Delgada, dos Açores, de 1880, e um lisboeta, A Repúbica Portugueza, publicado em 1882, com alguns títulos publicados impressos.

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