BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

Francisca Izidora

por Maria do Sameiro Fangueiro

Francisca Izidora - Banner


Francisca Izidora Gonçalves da Rocha nasceu em Jaboatão, PE, atualmente Jaboatão dos Guararapes, em 24 de janeiro de 1855, e morreu em 1918, em Vitória de Santo Antão, PE. Tornou-se tradutora, dramaturga, professora, escritora e poetisa, dedicou-se à educação e às letras, com grande presença e atuação nos meios intelectuais e culturais.


Ainda bem jovem descobriu sua inclinação para escrever poemas. Seus trabalhos foram publicados em jornais e revistas de Recife. A divulgação do poema O Banhista ocorreu em 1883, quando foi publicado pelo Almanach Litterario Pernambucano. Na capital colaborou com o Diário de Pernambuco (1901), Correio pernambucano (1868), e, em Jaboatão, publicou em O Commercio, e O Phanal .


Em 1903, tornou-se sócia correspondente da Academia Pernambucana de Letras. Neste mesmo ano a revista da Academia Pernambucana de Letras publica em capítulos, seu drama lírico intitulado Elnar, ambientado no séc. XIX. É autora de mais um drama lírico, A filha dos Tupis, e do romance O sitio de Lysandro. Traduziu Manfred, poema dramático escrito entre 1816 e 1817 por Lord Byron (1788-1824).


Manteve uma coluna denominada Ao correr da Penna, no jornal Victoria de propriedade de seu irmão e também deputado Gonçalves da Rocha. Tratava-se de uma publicação com assuntos variados como literatura e política internacional. Seus poemas foram publicados n’O Almanach Garnier, bem como O Astro do Ceará, e em O Escrínio do Rio Grande do Sul.


Foi uma das mais ativas colaboradoras de Amélia Bevilacqua, Anna Nogueira, Ursula Garcia, na revista O Lyrio, editada por mulheres, em Recife. Nela publicou contos, poemas e traduções. A seguir aparecem dois poemas dessa colaboração:



Ao relento


N’um tronco de bambu, entre as roseiras,
Ella vem reclinar-se tristemente...
Corre-lhe aos pés o arroio transparente,
E em torno as virações passam ligeiras!


Guarda o segredo à sombra das palmeiras.
Nota-se apenas que ao luar dormente,
Soam doces canções em voz tremente,
E a alma soluça ás notas derradeiras...


Ella pensa no auzente! A dextra linda
Comprime o níveo seio de açucena.
Que de amor desfallece– amando ainda!...


Se algum poeta a visse, a sua penna
Em um transporte de emoção infinda—
Ao vivo descrevera aquellascena!


O Lyrio: revista mensal, anno 2, n.3, jan.1903



A REALIDADE


Não em Duarka esplendida e pomposa,
Que, á mim flecha do arco de Sarão,
AppareçaásDeistas do Indostão,
De oiro e crystal banhada, voluptuosa...


Mas na cidade alpestre e nemorosa,
Que, ao brando ciciar da viração,
Surgiu das serras, lá na solidão,
E á beira-mar ostenta-se garbosa...


Foi alli que o seu mago e doce olhar
Criva-me n’alma um mundo de ventura,
--Immenso e vasto como é vasto o mar!


Mas a luz, que animou-o e que fulgura,
Hoje apenas divizo em meu sonhar...
E augmentaeste soffrerque me amargura!


O Lyrio: revista mensal, anno 2, n.4, fev.1903

Parceiros