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Revista do Centro Litterário (RJ)

por Maria Ione Caser da Costa
A Revista do Centro Litterário: publicação litterária e scientífica: collaborada pelos Associados foi lançada no Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1882.  A responsável pela impressão foi a Typographia Hildebrandt, que estava localizada na rua da Ajuda, nº 31.

Inicialmente a secretaria da revista funcionou provisoriamente num sobrado, localizado no nº 172 da rua da Prainha, atualmente rua do Acre. A partir do nº 5, de 31 de março de 1883, a secretaria se estabelece em outro sobrado, na rua de S. Pedro, 266. A rua de São Pedro, em virtude da construção das obras realizadas no centro da cidade do Rio de Janeiro, em 1943 se transforma em uma pista lateral da Avenida Presidente Vargas.

A Revista do Centro Litterario foi publicada por uma sociedade de mesmo nome, composta por brasileiros e portugueses e teve por finalidade promover o desenvolvimento e propagar a literatura dos dois países.

O editorial inicia com letra capitular ornamentada, dando a página uma aparência agradável. Não é assinado, mas exprime os sentimentos e anseios que os responsáveis experimentaram ao elaborar a publicação.

Eis o primeiro passo, duvidoso e incerto como o da criancinha que, depois dos cuidados maternaes que a aperfeiçoam e preparam para receber os impulsos de uma vida que começa, entra no primeiro periodo da perfeição humana.
Mas, como criança, necessitamos mãos que se nos entendam, tomando a nossa e guiando-nos por um caminho plano e despido d’esses tropeços invisiveis que se oppõem á marcha progressiva do ser.
Somos o filhinho implume da aguia – litteratura – que, admirado dos seus vôos rapidos e grandiosos, com o biquinho entreaberto, batendo as azinhas tenras, ousamos deixar o ninho para acompanhar seus movimentos, no espaço brilhante das regiões da poesia.

Seguem apresentando os esforços de uma mocidade que caminha rumo aos ideais de progresso e de verdade. Um bando de “pequenos talentos” estudiosos e ansiosos por deixar um legado para seus descendentes. Encerram assim o editorial:

Se nos pensamentos expressos nas columnas despretensiosas e pobres do nosso pequeno jornal houver erros, o erro é dado aos homens; vaidade, foi uma fraqueza; ambição, perdoai-nos, é por muito querermos a pátria.
Eis a nossa divisa: -
Trabalhar, que o trabalho ennobrece, a nobreza honra e a honra é tudo.

A seguir é publicado o “Programma” do Centro Litterario, que não limita o número de associados, basta ter mais de 15 anos, e adotar determinados procedimentos. Alguns deles: “Desenvolver o estudo e cultivo das lettras. Animar a litteratura vernacula pelos meios ao seu alcance. Dar publicidade a obras ineditas de merecimento que lhe forem offertadas. Reimprimir as obras dos melhores clássicos da língua.”

A relação de procedimentos necessários aos interessados em fazerem parte do Centro Literário é longa. O último tópico informa ser necessário “estabelecer relações e correspondencia com as associações brazileiras e portuguezas congeneres, com editores e homens notaveis por conhecimentos litterários e scientificos.”

Podem ser consultados na Hemeroteca Digital os 15 primeiros exemplares publicados. O último da coleção é o ano 2, número 15 de 15 de fevereiro de 1884. Não foi possível saber se o título em questão continuou a ser publicado.

O número de páginas da Revista do Centro Litterario varia entre 8 e 4 páginas cada exemplar.  As páginas foram diagramadas em duas colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração.

A publicação apresenta em suas páginas poemas, crônicas, contos, e alguns estudos específicos. Vários são seus colaboradores, dentre eles, Alvaro Baptista, Antonio Julio Rodrigues, A. M. Duarte Porto Junior, Ariel Porto, Avelino Lisboa, Carlos da Costa Fontella, J. A. de Souza Laurindo, José Manuel Cardoso Frazão, João José de Pinho e Silva (1840? -1900), Joaquim José Marques, L. F. de Oliveira, M. de Miranda e Theophilo Lucas.

O poema escolhido para ilustrar esta página, dentre os muitos publicados na Revista do Centro Litterario foi “A Primavera” de Alvaro Baptista.

A Primavera

Poetas! A primavera
Vem alegre em suas festas,
Espalhando pelos ares
O aroma das florestas.

Meiga, gentil, formosa,
Coroada de mil flores,
Ella traz doces saudades
A quem se nutre d’amores.

Ora pousa nos outeiros
A contar-lhes seus segredos,
Ora passa de mansinho
A beijar os olivedos.

As avesinhas ainda
Se conservam nos seus ninhos:
Só raras vezes se ouve
O piar dos passarinhos.

E, quando o sol despontando
Além, nos mostra o clarão,
A natureza em seus hymnos
Salva o rei da creação

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