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O Beija-flor (RJ)

por Maria Ione Caser da Costa
O Beija-flor foi lançado no Rio de Janeiro no dia 13 de maio de 1883, graças aos esforços de “cinco laboriosos moços, artistas typographos”. O redator era José Alves Teixeira, e o gerente Tito C. Rocha. Contavam com a colaboração de L. da Costa Lobo, João Vieira de Moraes Chaves e José Romero da Silveira.

Foi impresso pela Typographia localizada na rua São José, nº 14, endereço que também funcionava o escritório e a redação da publicação. Se apresentou com quatro páginas cada exemplar e cada página, diagramada em três colunas separadas por um fio simples. Não teve ilustrações.

O editorial não foi assinado e foi com o texto a seguir que O Beija-flor foi apresentado aos leitores:

 
Amigos da patria, amigos do estudo propaladores da sciencia, companheiros do trabalho, é a vós, e sómente a vós que aprezentamos hoje pela primeira vez, na arena do jornalismo, este nosso periodico, que damos o nome de Beija-Flôr.

Não é com o fim de fazer render as nossas algibeiras, mas sómente a força de vontade e espirito de fazer engrandecer a litteratura no nosso tão caro Brazil.

Nós artistas, que nos dedicamos a uma arte scientifica, e que nas nossas mãos encontrarás ao correr do dia ou da noite o precioso metal que chamamos – componidor.

Nós que somos filhos de Guttemberg – o inventor da sublime idéa a “imprensa” é que viemos hoje depositar nas vossas mãos o nosso lindo Beija-Flôr.

Leitores, o titulo é lindo, mais não podia ser; pensarás talvez que tambem seja lindo em todas as suas forças pois se assim pensares inganas-te completamente. É pobre e falta-lhe todas as circunstancias para apresentar-se com o brilhante e majestoso apparato perante vós.

Nas nossas columnas, os leitores só encontrarão leitura que lhes agrade, nada lhes será enfastiavel.

Não faremos injustiças, pois que este modesto passarinho o Beija-Flôr, é incapaz de offender a todo e qualquer outro passaro.

Repetimos: somos artistas, trabalhamos para o desenvolvimento da litteratura, e para o engrandecimento da nossa pátria e para a liberdade do povo.

Eis o nosso programma.

Como pode ser observado, O Beija-Flor não tomava parte na política, optando pela neutralidade. Seu interesse era oferecer aos assinantes momentos de recreação e partilhar assuntos voltados à literatura, com o propósito de ilustrar seus leitores.

Na Biblioteca Nacional encontram-se preservados os quatro primeiros exemplares, tendo o último saído a público no dia 3 de junho de 1883. Não apresentou valor para venda avulsa da publicação. As assinaturas para a corte valiam 1$500 e 2$500 para as trimestrais e semestrais respectivamente, enquanto que para as províncias os valores passavam a ser de 2$000 para as trimestrais e 3$000 para as semestrais.

Publicou o folhetim “Como uma mulher se perde ou memorias de uma pecadora” de Maximiliano Perrin, além de poesias, crônicas e charadas. Dentre as poesias publicadas nas páginas de O Beija-flor, destacamos, a seguir um poema de Theotonio Luiz Pereira, que homenageia a publicação.

 

Dedicado ao Beija-flôr

Por ser pequenino passaro

Com seus incantos de amor;

Soltando seu fino grito

Beijando de flôr em flôr.

 

A roda com seus perfumes

Em botão tem sua côr;

Aberta deixa levar-se

No bico do beija-flôr.

 

Por ser pequenino passaro,

Com seus encantos de amores;

Espera romper a aurora

Para ir beijar as flores.

 

Em quanto pequenos são

No seu leito é uma côr

São dourados como ouro

Os pequenos Beija-flôr.

 

Por ser pequenino passaro

Com seus encantos de amor;

Eu hei de beijar-te oh! rosa

Como o passaro beija-flôr.

 

Do beijo, tudo é vaidade...

O beijo não é amor,

Eu só beijo á quem me beija

Como o passaro beija-flôr.

 

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