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Fernando Caldeira

por Maria do Sameiro Fangueiro
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Fernando Caldeira nasceu na freguesia de Borralha, Conselho de Águeda, Portugal, em 7 de novembro de 1841 e morreu em 1894. Era filho do visconde de Borralha, Francisco Caldeira Leitão Pinto de Albuquerque de Brito Moniz, e de Inês de Vera Geraldes de Melo Sampaio e Bourbon. Cursou direito pela Universidade de Coimbra, bacharelando-se em 1861. Ainda jovem entrou na política, filiando-se ao Partido Constituinte. Representou como deputado o círculo eleitoral de Águeda (1865-1868) e o círculo plurinominal de Aveiro (1880-1884). Foi governador civil de Aveiro, em 1870.Tornou-se jornalista, dramaturgo e poeta. Sua ligação com o jornalismo se deu através de sua colaboração no Diário da Manhã e na direção do Tempo, órgão do partido a qual pertencia. Sua primeira peça teatral, a comédia, O sapatinho de setim, é datada de 1876. A seguir vieram A varina (1877), Os missionários (1879), Fló-Fló (1880), A mantilha de renda (1880) – comédia em verso –, A chilena (1884), As nadadoras (1884), A madrugada – comédia em quatro atos, representada pela primeira vez no teatro de D. Maria II, em 26 de abril de 1892 –, entre outras. Ele publicou apenas um livro de poesia lírica, Mocidades, em 1882. Os poemas incluídos neste livro tornaram-se bastante conhecidos na época. Foi homenageado e seu nome lembrado na Escola Preparatória Fernando Caldeira. O soneto “Penas” foi incluído não só em um manual escolar, mas também nas páginas de A Vida Elegante.

Penas


Como differem das minhas
As pennas das avesinhas,
Que de leves leva o ar!
As minhas pesam-me tanto,
Que ás vezes já nem o pranto
Lhes allivia o pesar.O passarinho tem pennas,
Que em lindas tardes amenas
O levam por esses montes,
De collinas em collinas
Ou nas extensas Campinas
A descobrir horizontes.


Com ellas vive folgando;
Tem penas apenas quando
Alguma penna lhe cae;
Mas a essa pena affaz-se,
entretanto a outra nasce
e tudo esquece e… lá vae


E as minhas penas não caem
Nem voam nunca, nem saem
Commigo d’esta amargura!
Mostram-me apenas na vida
A estrada, já conhecida,
Trilhada dos sem ventura.


Passam dias passam mezes
Passa o anno muitas vezes
Sem que uma pena se vá!…
E, se uma vae mais pequena,
Ao depois nem vale a pena
Porque mais penas me dá.


São bem felizes as aves!
Como são leves, suaves
As pennas, que Deus lê deu!
Só as minhas pesam tanto!…
Ai! se tu soubesses quanto!…
Sabe-o Deus e sei-o eu.


Em: A Vida elegante, ano 1, n. 1, mar. 1909.




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