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Antero de Quental

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Antero Tarquínio de Quental foi escritor, poeta, filósofo e político. Nasceu em 18 de abril de 1842, na Ilha de São Miguel, em Ponta Delgada, Açores, e morreu em 11 de setembro de 1891, na mesma cidade. Filho de Fernando de Quental (1814-1873) e de Ana Guilhermina da Maia (1811-1876).


Deixou a ilha em 1858, aos 16 anos, indo morar em Portugal, mais especificamente em Coimbra. Ingressou nesta universidade, onde deu inicio ao curso de Direito, formando-se em 1864. Foi nessa época que surgiram nele as primeiras ideias socialistas e anticlericais. Antero fez parte do grupo fundador da Sociedade do Raio, formado por intelectuais da Universidade e, posteriormente, por lisboetas.


Em 1865, surgiu a Questão Coimbrã, polêmica literária, que “foi o nascimento do naturalismo em Portugal”, na definição do Grande Dicionário Enciclopédico Verbo. No debate, de um lado estava o grupo naturalista, pregando uma narrativa realista, que integraria a renovação estética e as novas ideias científicas. Ele era formado por Antero, Eça de Queirós (1845-1900) e TeófiloBraga (1843-1924). O outro grupo reafirmava os valores tradicionais e o romantismo, com a liderança de Antonio Feliciano de Castilho (1800-1875), ao lado de Camilo Castelo Branco (1825-1890) e Ramalho Ortigão (1836-1915).


Em 1866, Antero mudou-se para Lisboa. Em 1868, vai para Paris. No ano seguinte, de volta a Portugal, lançou o jornal A República, com Oliveira Martins (1845-1894). Colaborou com alguns outros periódicos como A Esperança: semanário de recreio litterario dedicado às damas, que circulou entre 1865 e 1866; Renascença: órgão dos trabalhos da geração moderna (1878 a 1879) e O Pantheon: revista quinzenal de ciências e literatura (1880 e 1881).


Antero publica em 1871, o folheto O que é a Internacional, documento que faz referência ao movimento socialista português e as questões dos movimentos operários no país.


De sua grande obra, realçamos alguns títulos: Sonetos de Antero, de 1861, Beatrice e Fiat Lux de 1863, e em 1865, escreve Odes modernas, Bom senso e bom gosto, e A Dignidade das letras e as literaturas oficiais. Sobre filosofia escreveu em 1872, Considerações sobre a Filosofia da História literária Portuguesa; a Filosofia da Natureza dos Naturalistas, em 1886, e Tendências Gerais da filosofia na segunda metade do século XIX, em 1890.


Antero comete o suicídio em meio a uma forte depressão, em 1891.



Mors-amor


Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce
E, passando a galope me apparece
Da noite nas phantasticas estradas,

D’onde vem elle? Que regiões sagradas
E terrível cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?

Um cavalleiro de expressão potente
Formidavel, mais plácido no porte,
Vestido d’armadura reluzente,

Cavalga a fera estranha e sem temor.
E o corcel negro diz: “Eu sou a Morte!”
Responde o cavalleiro: “Eu sou o Amor!”

Em: O Domingo (São João D’el Rei), anno 1,n.6,out. 1885

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