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A Revista: publicação mensal

por Maria Ione Caser da Costa
A Revista foi lançada em maio de 1919 em Niterói, a antiga capital do Estado do Rio de Janeiro. O diretor-proprietário foi Manoel Leite Bastos.

No primeiro ano de circulação, A Revista foi impressa nas gráficas do Colégio Salesianos. Algum tempo depois, os proprietários adquirem um local próprio, e a redação, administração e as oficinas passam a funcionar na Rua do Cruzeiro nº 396, no bairro de Santa Rosa.

O número avulso foi vendido por $500. Caso o interesse para compra fosse um número atrasado, este seria vendido por 1$000. As assinaturas poderiam ser semestrais ou anuais, cujos valores valiam respectivamente 15$000 e 25$000.

O periódico niteroiense teve uma vida longa, se comparada ao número de publicações dos títulos de seu tempo, que na maioria dos casos, sequer completavam um ano de existência. A Revista iniciou em maio de 1919 e findou, possivelmente em março de 1923. Inicialmente, com publicações mensais, e a partir de 1922 passou a sair quinzenalmente, tendo o Dr. Armando Gonçalves (1879-1955) como redator chefe.

A seguir a íntegra do editorial assinado por Gioconda Dolores, e que recebeu o título “30 dias”.

 
Nictheroy – a bella cidade de tantas e tão justificadas tradições – faz jús á louvavel iniciativa da geração dos novos, que pretende elevar os seus conceitos á altura de seus meritos intellectuaes.

Creando a presente revista, vasada nos moldes das que se impõem pela sinceridade de seo programma, certo conseguiremos estimular os esforçados collaboradores do jornalismo fluminense.

Em trinta dias quantos factos eloquentes, quantos assumptos de interesse se no deparam e animam a nossa penna indecisa ao bosquejo dum antigo, ao traçado duma critica, aos primeiros delineamentos dum estudo proveitoso...

A politica com o imprevisto de suas mutações, terçando armas em prol de Ruy Barbosa – o expoente maximo de nossa cultura – como cerrando fileiras em torno de Epitacio – a patativa do Norte, a arte com o colorido de suas concepções e o perfeito burilamento de suas fórmas, a sciencia com a severidade de suas pesquizas e o fundamento de suas leis, são outros tantos motivos que encherão de vida palpitante as paginas de uma revista destinada ao doutrinamento do civismo, ao encitamento da arte, ao devotamento pelas verdades scientificas.

A mulher na belleza de seo sorriso, o ancião na severidade de seus conceitos, o moço no desejo de seos ideaes, a creança na pureza de seos sentimentos, percorrendo as nossas paginas plenas de collaboração suave e intelligente, sentirão como que o renascer da Esperança aos doces reflexos da Via-Lactea que traduz a grandeza de nossa alma e a poesia de nosso amor.

Uma revista de variedades, que não abriu mão de publicar literatura e artes. Publicou sobre a política, os esportes e também artigos voltados para o público feminino. É possível notar a preocupação de seus editores e dos intelectuais fluminenses da época, com o nacionalismo, lutando para que o país tivesse uma nova identidade cultural, modernizando os cenários de então.

Medindo 22cm x 15cm e cada exemplar variando entre 40 e 60 páginas. O formato foi diminuindo a partir da mudança na periodicidade, passando para um número em torno de 25 a 50 páginas. Em todos os fascículos várias páginas são ocupadas com anúncios, que mantinham as contas da publicação.

Em março de 1921 acontece uma inovação: A Revista se subdivide em quatro partes, isto é, quatro revistas diferentes,

 
para corresponder á gentileza extrema de nossos amaveis ledores, resolvemos proporcionar á A REVISTA uma feição inteiramente nova e original. Assim publicaremos, desdobrando as suas varias secções, nada menos de quatro revistas que comportarão materia muito mais desenvolvida. Serão desentranhadas de nosso mensario: “O Garoto”, “Vida Elegante” e “Telas e Ribaltas”.

O Garoto dedicado apenas às crianças fluminenses, como mencionado no informe. Vida elegante publicando as questões sociais e artísticas, Telas e ribaltas será consagrada ao movimento teatral e A Revista que será um conjunto das seções já publicadas acrescida de uma parte “inteiramente litteraria”.

Uma revista editada com cuidado e beleza. Impressa em papel couché, em preto e branco, mas com algumas páginas e capas coloridas. Nos últimos anos, alguns fascículos foram impressos em papel comum. Muitas vinhetas e ornamentações são encontradas em todas as páginas da publicação, além de fotografias e instantâneos.

A seguir um dos muitos poemas encontrados nas páginas de A Revista, o soneto “O Mascarado triste” de Olegário Mariano (1889-1958).

 

O Mascarado triste

Pierrot desventurado! em cambaleios

Caio aqui, caio ali, chorando vou...

Que saudade do aroma de teu seios

E d’essa bocca que outro já beijou!

 

Ó Colombina dos meus devaneios!

Não te recordas mais do teu Pierrot?

Vem! Ainda tenho os pobres olhos

Da saudade que o tempo não levou.

 

Vem que o meu vulto branco te procura,

A ti, meu pobre amor – segundo tomo

Do romance da minha desventura.

 

Sem ti, por mais que eu solte e atire os braços,

Sou apontado entre os palhaços como,

O mais triste de todos os palhaços!

 

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