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A America: publicação quinzenal, scientifica, litteraria, commercial, industrial e noticiosa

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A America foi editado no Rio de Janeiro e recebeu o extenso e explicativo subtítulo de publicação quinzenal, scientifica, litteraria, commercial, industrial e noticiosa. Apenas na capa do primeiro exemplar apresenta outro subtítulo: revista quinzenal, propriedade particular. 

Em meados do período imperial foi lançado seu primeiro número, era o dia 20 de outubro de 1879. Foi impresso pela Typographia Cosmopolita, que estava localizada na rua do Regente, nº 31. As correspondências deveriam ser encaminhadas para a rua da Alfandega, nº 71, “acreditado estabelecimento de papel e livros dos Srs. J. Coursell & C.”

A America teve como ideal defender a civilização e o progresso do país, impondo à imprensa um importante instrumento de ação. O portuense e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Filinto d’Almeida (1857-1945) foi o editor responsável.  Eis um excerto do editorial:
Á luz da publicidade surge hoje a America, solicitando para si, entre os operarios da civilisação pela imprensa – um modesto lugar.

Actavia-se ella com o nome bello e sympathico deste vasto continente, porque é para elle que deseja voltar de preferencia o seu coração e a sua intelligencia; e tambem porque nos seus estudos e investigações, nas suas ideias e juizos sobre os differentes ramos de conhecimento e trabalho humano, terá por alvo tanto o progresso e grandeza deste paiz que é americano, como desta America que há de ser no futuro o seio uberrimo e irradiante da civilisação universal. [...]

Como todas as ideias generosas, a America apparece como um emprehendimento cheio de esperanças tanto mais bem fundadas quanto, além do apoio que acredita merecerá do publico, do qual procurará fazer-se sempre digna, está convencida que a sua voz e o seu esforço não serão demais no concerto harmonioso dos lidadores da imprensa. [...]

Lettras, artes, sciencias e industrias, particularmente a commercial e a agricola, tudo enfeixado á causa do bem geral e encarado á luz dos modernos principios, constituirá o objecto  de que a America pretende occupar-se com interesse: franquêa, pois as suas columnas a todas as intelligencias e a todas as ideias progressivas e humanitárias.

Saúda a toda a imprensa do paiz e ao publico, de quem tudo espera para a melhor satisfação de seu programma.

Na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional podem ser consultados os primeiros nove exemplares, tendo o número 9 vindo a público no dia 20 de fevereiro de 1880. Não foi possível saber se houve continuidade na publicação.

O número avulso de A America foi vendido por $500, e a assinatura anual valia 6$000 para a corte e 7$000 para as províncias. Seus exemplares eram lançados sempre nos dias 5 e 20 de cada mês.

Cada exemplar foi formado com 16 páginas, e cada uma delas diagramada em duas colunas, separadas por um fio simples.

A America não exibe seções definidas, obedecendo, entretanto, à sequência na disposição das matérias. Publica artigos com foco na política, nas questões sociais, a liberdade religiosa e o papel da Igreja na instrução das crianças. Contos, críticas literárias, poesias e relatos de viagens também são apresentados em A America. Nas duas últimas páginas encontram-se os balanços das atividades comerciais, movimentações bancárias, câmbio de moedas e os principais gêneros agrícolas exportados. Não há publicidade em suas páginas.

Alguns colaboradores d’A America: Joaquim Mattoso, A.  de Lamarce, D.  F.  das Neves,  Th.  Gauthier (Théophile Gautier, 1811-1872), Teixeira de Queiroz (1848-1919), Silvestre de Lima, D.  Antonio de Trueba (1819-1889), Lucio Ribeiro, J.  P.  Jacquot, Ch.  Lemonnier, Arthur Azevedo (1855-1908), Paulo Antonini, Teixeira de Queiroz (1848-1919), Filinto D' Almeida (1857-1945), Francisco Antonio de Carvalho Junior (1855-1879), A.  Valentim Magalhães (1859-1903), Alfredo de Brehat, Panzy, Alfredo Rocha, Silvestre de Lima (1859-1949) e Michel Chevalier (1806-1879).  Das páginas d’A América extraímos um soneto de Filinto d’Almeida intitulado “Perigosa”.

 

Perigosa

Tu és uma mulher, soberba creatura,

Que tens em teu amor a languidez da pomba:

Ao ver-te, o meu olhar vacilla, morre e tomba,

Rolando-te na curva esbelta, airosa e pura!

 

Tens um chic feliz no preto olhar que zomba,

Capaz de dar ao diabo a celica ventura;

Foi por Phidias traçada essa ideal structura;

Não és musa da lyra, és musa da maromba.

 

És a mulher realista, a deosa do peccado!

Em teu seio opulento e branco, extasiado,

Sinto a força da carne a torcer-me o juízo.

 

Ó magnifica estatua angelica do goso!

Prefiro unir-me a ti no inferno sulpthuroso

A unir-me a um anjo bom na luz do paraiso!...

 

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