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Periódicos & Literatura

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O Livro: periodico litterario

por Maria Ione Caser da Costa
Editado pela primeira vez no dia 24 de abril de 1906, em Recife, capital do estado de Pernambuco, O Livro: periodico litterario, teve como diretores Arlindo Dias, João Freitas, Octacilio Feijó e Antonio Celso. Os nomes foram ordenados aqui, como aparecem grafados na publicação, logo abaixo do título.

Foi impresso pela Typographia Agencia Jornalistica, localizada na capital pernambucana e a redação da publicação ficava na rua Princesa Isabel, nº 11, descrito como sendo residência. Possivelmente a residência de um dos editores.

O Livro, apresentava-se como periódico literário, e pode ser observado na leitura de seus textos, que os responsáveis são alunos do Instituto Pernambucano. Eis o editorial:

Apresento-vos, caros leitores, o primeiro numero d’O Livro, e peço-vos toda benevolencia para elle.
O corpo redacional compõe-se de quatro creanças que mal sabem escrever ainda, mas, que almeja, se ilustrar para alguma cousa fazer em pról da Patria.
É esta, apenas o objetivo deste humilde periodico litterario que espera viver sob o palladio do vosso estimulo – bondosos leitores.
Como penhor de estima e gratidão dos seus quatro redactores, este numero é dedicado ao illustre mestre Dr. Candido Duarte, digno Director do Instituto Pernambucano.

Em pesquisa realizada na web, foi possível saber que o Instituto Pernambucano foi uma escola já extinta, que funcionou em Olinda, PE. Nada foi encontrado sobre o Instituto nem sobre os responsáveis pela publicação.

O Projeto Periódicos & Literatura: publicação efêmera, memória permanente, que fundamenta este trabalho, tem a intenção de dar luz aos periódicos existentes na Biblioteca Nacional, principalmente àqueles que não fazem parte do cânone literário. O Livro é mais um exemplo recuperado por este projeto: periódicos que contenham em suas páginas alguma parte literária e que tiveram vida efêmera. A partir destes exemplares pode-se obter informações e recuperar um pouco da história.

Os originais de O Livro não fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional. Pertencem ao Arquivo Público de Pernambuco e foram microfilmados pela Fundação Joaquim Nabuco em convênio com o Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros – PLANO. O PLANO é um programa que visa “preservar a memória hemerográfica brasileira, através da identificação, localização, organização, recuperação e microfilmagem de periódicos brasileiros.”

Com quatro páginas cada exemplar, os artigos publicados em O Livro foram impressos em duas colunas, sem qualquer tipo de separação entre elas. Na Hemeroteca Digital podem ser consultados os dois primeiros exemplares.

O primeiro exemplar de O Livro apresentou, logo abaixo do título, um sumário, seguido do editorial.  O segundo, acrescenta ao subtítulo a periodicidade: periodico litterario mensal, trazendo na capa uma pintura do busto do poeta Mendes Martins (Antonio Mendes Martins, 1872-1915), que teve “uma trajetória desconhecida”, bem típico da maioria dos autores arrolados neste dossiê.

O número avulso foi vendido por 100 réis, não apresentando valor para assinaturas. Publicou contos, poesias, pensamentos e notícias diversas. Colaboraram em O Livro, além dos diretores, Adelniro Seravay, Arlindo M. Dias, Manuel Duarte, Ricardo Barbosa e Santina Potyguare. A seguir o soneto “Novos cantos” assinado por Manuel Duarte.


Novos cantos

Não canto mais o amor. Os versos meus de agora
são feitos ao fulgor das noites crystallinas,
ás cousas immortaes, ás vibrações divinas
da luz com que o sol tinge a clamyde da aurora.

Meus versos não são mais o que, de certo, outrora
foram, cantando o olhar das noivas peregrinas,
as illusões,  o beijo, as boccas purpurinas,
as emoções febris onde a volupia móra.

Moldei-os no crysol de minhas grandes dores
ao fogo austero e bom de aspirações maiores,
e dei-lhes outra vida, outra feição mais forte...

O amor é uma ave exul, sem ninho e sem pousada;
se inflirta-nos a vida em raios de alvorada,
desce ao lodo fatal e inflirta-nos a morte!...

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