Periódicos & Literatura
< Voltar para DossiêsO Bandolim (Juiz de Fora)
por Maria Ione Caser da Costa
O periódico O Bandolim foi lançado em Juiz de Fora, cidade pertencente ao estado de Minas Gerais, no dia 13 de outubro de 1895 e editado pela Typographia Progresso. Teve como redator e diretor J. Paixão (José Francisco da Paixão, 1868-1949), que, anos depois, participaria da fundação da Academia Mineira de Letras, em Juiz de Fora. Na função de secretário de O Bandolim estava Joviano de Mello.
Numa análise rápida, a publicação literária não parece ter sido desenvolvida para o público feminino, mas a leitura atenta de alguns artigos, aponta se tratar de uma publicação voltada para o ‘bello sexo’, como pode ser confirmado no editorial.
Na Hemeroteca Digital encontra-se apenas o primeiro exemplar, descrito acima. Não foram encontradas, nas pesquisas outros números. Composto por quatro páginas, cada uma diagramada em duas colunas, separadas por fio simples. Não apresentou ilustrações. Os diferentes artigos são separados por fios duplos, triplos ou arabescos.
Publicou contos, crônicas, poemas, notícias sobre exposições, aniversários e comemorações de interesse das leitoras. As terceira e quarta páginas foram dedicadas as propagandas.
Colaboraram em O Bandolim grandes literatos da época, dentre eles: Lindolfo Gomes (1875-1953), José Rangel (1868 -1940), Luiz de Oliveira (1874-1960). O número avulso de O Bandolim foi vendido por $200, e as assinaturas trimestrais e semestrais valiam 3$000 e 5$000, respectivamente.
Vários periódicos literários foram editados no Brasil no período que ficou conhecido como República Velha. Na Hemeroteca Digital existe publicação com o título homônimo editado na cidade Barbacena, também no estado de Minas Gerais. Este outro O Bandolim foi lançado em janeiro de 1890.
A seguir o poema ‘Ruinas’ de J. Paixão.
Ruinas
Ruinas e só ruinas
A casa em que ella morou...
Invade a tudo as sylvinas
Velando o que ella sonhou...
Vem-me sempre do aposento
De seu quarto todo azul,
Pela janella, o lamento
Das frouxas auras do sul.
As andorinhas em bando,
Sobre as columnas da escada,
Foram ninhos fabricando
Para a gazil filharada
E á tarde, ao rubro do occaso,
Pousa uma strige irradia,
Do jardim n’um grande vaso
Soltando a risada fria...
Quanta emoção não desperta
N’uma fronte que medita,
Aquella casa deserta
Onde a Saudade palpita?!
Alli, que dias risonhos!
Que noites cheias de amor!
Que ninho quente de sonhos
Da mocidade no ardor!...
As flores entrelaçadas
Ás verdes plantas maninhas,
As paredes derrocadas,
O chilro das andorinhas;
O tanque secco, musgoso,
O repuxo sem fluir.
Aquelle fundo repouso,
Aquella strige a carpir...
Tudo nos faz recordar
Mil corações que ferveram
N’aquelle vasto solar
Que as mãos do Templo abateram.
E agora restam apenas
D’aquelles idos trophéos,
Duas estatuas serenas,
Immoveis olhando os céos.
Numa análise rápida, a publicação literária não parece ter sido desenvolvida para o público feminino, mas a leitura atenta de alguns artigos, aponta se tratar de uma publicação voltada para o ‘bello sexo’, como pode ser confirmado no editorial.
Depois que houverdes acordado, com as faces roseadas pelo calor da almofadinha de setim azul e pelo rendilhado da fronha que vossas mãos trabalharam emquanto, na calada da noite, vosso pensamento febril de moça ambulava pelo ignotus dos sonhos; depois que já houverdes molhado a cabeleira curvinea na agua aromalisada da bacia de porcellana onde o pincel do chinez phantasiou lagos e flores; depois de exercitardes no espelho lavoroso o gracioso de vossos risos e, abrindo as persianas, olhardes o espaço lucilante, os canteiros aljofrados de vosso jardim e ouvirdes o ralentando do gorgeio passaral; tomai entre as mãos de coral e jaspe este BANDOLIM.
Abri-o como se abrisseis uma flor em botão, que um perfume voará d’elle para o vosso peito: esse perfume será a poesia, que tanto pode existir na hydria sonora do verso, como no manto dourado da phrase phantastica do artista. [...]
Pois bem. Uni as queixas, as alacridades de vosso predilecto instrumento, ás queixas, ás alegrias deste BANDOLIM que vos offerecemos e que vibrará sorrisos quando sorrirdes, soluços quando chorardes.
Na Hemeroteca Digital encontra-se apenas o primeiro exemplar, descrito acima. Não foram encontradas, nas pesquisas outros números. Composto por quatro páginas, cada uma diagramada em duas colunas, separadas por fio simples. Não apresentou ilustrações. Os diferentes artigos são separados por fios duplos, triplos ou arabescos.
Publicou contos, crônicas, poemas, notícias sobre exposições, aniversários e comemorações de interesse das leitoras. As terceira e quarta páginas foram dedicadas as propagandas.
Colaboraram em O Bandolim grandes literatos da época, dentre eles: Lindolfo Gomes (1875-1953), José Rangel (1868 -1940), Luiz de Oliveira (1874-1960). O número avulso de O Bandolim foi vendido por $200, e as assinaturas trimestrais e semestrais valiam 3$000 e 5$000, respectivamente.
Vários periódicos literários foram editados no Brasil no período que ficou conhecido como República Velha. Na Hemeroteca Digital existe publicação com o título homônimo editado na cidade Barbacena, também no estado de Minas Gerais. Este outro O Bandolim foi lançado em janeiro de 1890.
A seguir o poema ‘Ruinas’ de J. Paixão.
Ruinas
Ruinas e só ruinas
A casa em que ella morou...
Invade a tudo as sylvinas
Velando o que ella sonhou...
Vem-me sempre do aposento
De seu quarto todo azul,
Pela janella, o lamento
Das frouxas auras do sul.
As andorinhas em bando,
Sobre as columnas da escada,
Foram ninhos fabricando
Para a gazil filharada
E á tarde, ao rubro do occaso,
Pousa uma strige irradia,
Do jardim n’um grande vaso
Soltando a risada fria...
Quanta emoção não desperta
N’uma fronte que medita,
Aquella casa deserta
Onde a Saudade palpita?!
Alli, que dias risonhos!
Que noites cheias de amor!
Que ninho quente de sonhos
Da mocidade no ardor!...
As flores entrelaçadas
Ás verdes plantas maninhas,
As paredes derrocadas,
O chilro das andorinhas;
O tanque secco, musgoso,
O repuxo sem fluir.
Aquelle fundo repouso,
Aquella strige a carpir...
Tudo nos faz recordar
Mil corações que ferveram
N’aquelle vasto solar
Que as mãos do Templo abateram.
E agora restam apenas
D’aquelles idos trophéos,
Duas estatuas serenas,
Immoveis olhando os céos.