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Alphonsus de Guimaraens

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Afonso Henriques da Costa Guimaraens nasceu em Ouro Preto, MG, em 24 de julho de 1870, e morreu em Mariana, MG, em 15 de julho de 1921, filho de Albino da Costa Guimarães e de Francisca de Paula Guimarães Alvim. Sua mãe era sobrinha-neta de Bernardo Guimarães, autor de A escrava Isaura. Poeta, foi juiz e promotor de justiça, na cidade de Conceição do Serro, MG. Seus primeiros estudos foram no Ginásio Mineiro e na Escola de Minas em Ouro Preto. Iniciou seus estudos de direito em São Paulo, terminando-os em 1894, em Ouro Preto, pela Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais. Em São Paulo, colaborou com os jornais Diário MercantilComércio de São PauloCorreio PaulistanoO Estado de S. Paulo e A Gazeta. Em 1899, publicou 3 livros de poemas intitulados Setenário das dores de Nossa SenhoraCâmara Ardente e Dona mística, cujos versos atestam o misticismo do autor. Em 1902, publicou Kiriale, na cidade do Porto, Portugal, sob o pseudônimo Alphonsus de Vimaraes. Poeta simbolista, cultuava o amor, o misticismo, a morte e a religiosidade. A perda de sua noiva Constança, filha de Bernardo Guimarães (1825-1884), influenciou profundamente sua obra. Casou-se em 1897 com Zenaide e tiveram 14 filhos, sendo 2 deles escritores, João Alphonsus (1901-1944) e Alphonsus de Guimaraens Filho (1918-2008). Em 1903, foi diretor, cronista e redator do jornal O Conceição do Serro. Em 1906, foi nomeado juiz da comarca de Mariana. Nesta cidade foi colaborador do jornal Diário de Minas e O Germinal. Seu livro Mendigos foi publicado em 1921.




Pastoral aos crentes do amor e aos illudidos.


Eu não queria ser o sol e nem a lua,
(O sol é muito alegre, a lua é muito triste);
E nem queria ser a formosura tua,
Nem aquelle sorriso ideal que me sorriste;


Eu não quizera ser o occaso que soluça
Entre ameias de sangue e barbacans de luz;
E nem quizera ser o luar que se debruça,
Em noites brancas, sobre os braços de uma cruz;


Eu não queria ser o lyrio que perfuma
Escarpas, alcantis, valles, prados, algares,
E que as pétalas fecha, e as perde, uma por uma,
Como eu perdi os sonhos meus crepusculares;


Eu não quizera ser a estrella que me guia
Desde que a noite tomba até o alvorecer;
Nem som, nem flor, nem luz, nem doce melodia,
E tu propria, senhora, eu não quizera ser:


Eu não queria ser quem sou! amante e poeta,
Cujo antigo arrabil em notas de ouro chora
Cantigas em louvor da Assucena dilecta
Que brotam dentro em mim como em meio da aurora:


Eu quizera ser sombra (a minha), essa velhinha
__ Até parece que a coitada já morreu__
Que tendo a familiar figura que é tão minha,
E os meus passos senis, não padece como eu.


Em: Fortaleza, ano 1, n. 8, maio 1907.



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