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Vida nova (MG)

por Maria Ione Caser da Costa
Com proposta de periodicidade quinzenal, a revista Vida nova foi lançada em Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais em 25 de janeiro de 1925.

A capa em cores, é delimitada por um primeiro ornamento visual, uma cercadura. Na parte superior apresenta, além do título, local e data de publicação, algumas palavras que designam, digamos, a declaração de intenções que os responsáveis pela publicação traçaram para seguir: "Literatura, Crítica, humorismo, esportes. Vida rural”, tudo dentro de uma cercadura decorada, em menor tamanho. Na parte inferior da capa o desenho estilizado de dois escravos romanos carregando um cartaz onde pode ser lido o sumário desse fascículo de Vida nova.

A Biblioteca Nacional possui apenas esse exemplar, o primeiro. Se existiram outros, as pesquisas não confirmaram. O fascículo mede 31 centímetros e possui 18 páginas, todas ilustradas com fotos, desenhos ou enfeites visuais que foram utilizados para separar artigos, ornar poemas ou demarcar os vários assuntos.

Vida Nova não apresenta, como costume nos primeiros números da grande maioria dos periódicos lançados, um editorial, onde os responsáveis se apresentam e traçam o caminho que pretendem trilhar. Também não existe um expediente com a relação dos responsáveis pela revista e outros dados informativos.

Na primeira página, após a capa estão diagramados dois artigos, um poema, uma propaganda e dois desenhos: um estilizado de uma mulher com um leque de abano e uma frase em favor do voto feminino. O outro desenho apresenta a “sumptuosa bibliotheca pública de Manaos” que remete a um dos textos onde o autor descreve a ausência de uma biblioteca na capital mineira: “é a única capital de Estado brasileiro onde o governo não se lembrou de facilitar ao povo com um salão de leitura, ao menos”.

As páginas seguintes são repletas de poesias, o forte da publicação. Algumas diagramadas em páginas inteiras, e outras dispostas dentro de pequenas molduras.

Fica claro com a leitura de alguns textos que os editores desejam fazer um apelo ao governo mineiro para que invista em arte, como pode ser confirmado no artigo “A nossa arte”.

Alves Netto, Ary Theodolindo, B. Guimarães, Darcilio de Miranda, Djalma Andrade (1892-1975), Evagrio Rodrigues, Guy Braz, José Mathias e Rezende Junior foram alguns dos colaboradores de Vida nova. A seguir um soneto de Darcilio de Miranda intitulado “Transformação”.

 

Transformação

Entrei na vida pratica outro dia...

Como qualquer rapaz, eu, sem juizo,

Comecei a gostar de ti, Maria,

Vendo nos braços teus meu paraiso.

 

Confesso: fui platonico. A alegria

Encheu meu coração pobre e indeciso,

Quando, reconhecendo que eu soffria,

Deitaste sobre mim o teu sorriso.

 

Meu platonismo, em convulsões de dôr,

Soffreu demais no dia em que disseste:

“Tu nem conheces o A, B, C do amor”!

 

Agora volto mais experiente

E tu me quererás, mulher celeste,

Pois aprendi a ler... Corretamente.

 

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