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O Pirralho (SP)

por Maria Ione Caser da Costa
Foi em São Paulo, capital do estado de mesmo nome, que surgiu no dia 12 de agosto de 1911, o semanário O Pirralho, cujo diretor e proprietário foi Oswald de Andrade (1890-1954), então com 21 anos. O escritor e poeta, anos mais tarde, lideraria o movimento artístico modernista marcado pela Semana de Arte Moderna, realizado em fevereiro de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo.

A redação da publicação estava localizada na rua XV de Novembro, nº 50-B, e foi impressa pela Empreza Graphica Moderna, localizada na rua Barão Duprat, nºs 19 e 21.

No cabeçalho dos três primeiros números publicados, consta como diretor e proprietário, José Oswaldo Nogueira de Andrade (pai de Oswald de Andrade) e Oswaldo Junior (como ele se identificou, visto que conseguiu fundar e dirigir O Pirralho, através do patrocínio de seu pai).  Renato Lopes foi o representante do Rio de Janeiro e secretário de O Pirralho.

Nelson Werneck Sodré, em História da imprensa no Brasil, descreve O Pirralho como um periódico “humorístico, social e político, além de literário” (1999, p.299), criado por Oswald de Andrade.

Na capa do primeiro exemplar, além da data de lançamento, diagramada na parte superior da página, e a informação “publica-se aos sábados em São Paulo” na parte inferior, traz ao centro, o título em letras negritadas e o desenho estilizado de um menino de calça curta e suspensórios, mas com rosto de um adulto fazendo troça.

Nos números subsequentes as capas se modificam: as letras que compõem o título passam a ser desenhadas e sobrepostas e o desenho do menino aparece ornamentando o espaço entre as palavras. Uma peculiaridade na impressão em todos os fascículos: a data de publicação é impressa em algarismos arábicos.

Cada fascículo de O Pirralho foi vendido por 200 réis e a assinatura anual tinha o valor de 10$000.

Com o título “Como foi”, sem indicação de autoria, eis um excerto do editorial:

 
O Pirralho nasceu n’um sabbado ao meio-dia. Os sinos tocavam, como todo sabbado, ao meio-dia.
Ora, dessa circumstancia occasional concluiram que O Pirralho ia ser bispo. Porque quando um bispo chega, os sinos tocam geralmente.
Mais tarde, O Pirralho, com extravagante precocidade, rimou Sobrinho com Biscoitinho. Os circumstantes pasmados viram n’isso uma grande vocação de poeta declarada.
Logo, porém, vieram affirmar-se os seus puros instinctos de crila incorrigivel, caçoador e risonho.
Ficaram portanto desvalorizados os seus calmos precedentes.

Continua o editorial com ousadia e irreverência, características que se encontram nos artigos publicados nas páginas d’O Pirralho. Humor e várias paródias delineiam os caminhos das matérias publicadas nas seções da publicação.

O Pirralho teve como ilustradores Di Cavalcanti (Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque Melo, 1897-1976), Ferrignac (Inácio da Costa Ferreira, 1892-1958), o inglês Mr. Forrest (Archibald Stevenson Forrest, 1869-1963) e Voltolino (João Paulo Lemmo Lemmi, 1884-1926) que, “com seu forte espírito satírico criaria admiráveis bonecos calçados no tipo ítalo-brasileiro” (SODRÉ, 1999, p.344).

Colaboraram nas páginas d’O Pirralho dentre vários outros, Amadeu Amaral (Amadeu Ataliba Arruda Amaral Leite Penteado, 1875-1929), Cornélio Pires (1884-1958), Emílio de Menezes (Emílio Nunes Correia de Meneses, 1866-1918), Guilherme de Almeida (Guilherme de Andrade de Almeida, 1890-1969), Jayme da Gama e Alexandre Ribeiro  Marcondes Machado (1892-1933) que, de acordo com Sodré, “celebrizaria o pseudônimo de Juó Banananere” (1999, p.299) e Oswald de Andrade,  que assinou também com o pseudônimo Annibale Scipione. A seguir o poema “Chico Peão”, de Paulo Setúbal (Paulo de Oliveira Leita Setúbal, 1893-1937), selecionado dentre as inúmeras poesias publicadas em O Pirralho.

Chico Peão

É o Chico das morenas e das moças,
Que vae alegremente estrada fora,
- Largas bombachas, rusticas e grossas,
- Tilintando a roseta de sua espora.

Pelos campos risonhos, pelas roças,
Que a natureza lindamente enflora,
Cantando amor, dormindo pelas choças,
Corre-lhe a vida placida e sonóra.

Leva de lado a viola acostumada,
Onde descanta, em murmura toada,
A sua alma mais manda que uma ovelha.

Em sua potranca o Chico Peão caminha,
Com sua larga lapeana na bainha,
E um toco de cigarro atraz da orelha.

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