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O Botucudo: jornal critico, litterario e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa
O Botucudo: jornal critico, litterario e recreativo foi uma publicação mensal lançada em 1º de junho de 1887 no Rio de Janeiro. Afirmava ser “Orgam redigido pelos empregados da Confeitaria Ouvidor”, que estava localizada na ria do Ouvidor, nº 105, onde também funcionava o escritório e a redação da publicação. A rua do Ouvidor foi o ponto de encontro da sociedade carioca nas décadas de 1880 e 1890.

O Botucudo foi impresso pela Typographia Camões que estava localizada na rua do Hospicio, nº 139. O editorial não está assinado, mas apresenta a marca dos funcionários da Confeitaria, que, além do árduo trabalho por eles executado no dia a dia, encontravam tempo para colaborar, com dedicação, para a instrução de frequentadores e amigos. Eis um excerto do texto:

 
O leitor ao depor a vista sobre nosso jornal, pensará que somos alguns selvagens, no seu tempo premitivo; mas não: somos os filhos do trabalho, que roubamos ao descanso as poucas horas que nos restam, para as consagrarmos ao estudo e a cultivação de nosso espirito e intelligência.

O titulo do nosso jornal, não exprime mais que, a homenagem ás pessoas que frequentam a casa denominada O Botucudo; denominação que lhe demos.

Nós, com a publicação d’este jornal, não temos senão o fim de estimular as nossas ideas, e reparar nossos erros, quando os conhecermos. [...]

Fazemos isto simplesmente para conseguirmos dispertar no seio da classe commercial, um amor a instrucção, pois que o nosso desejo é ver nossos collegas illustrados, e representarem no seio da sociedade o papel que justamente devem: e se assim acontecer, teremos conseguido o nosso desejo.

A Confeitaria Ouvidor foi inaugurada no dia 11 de fevereiro de 1882[*], seu proprietário era José Gonçalves dos Santos. O estabelecimento, além de confeitaria, contava com uma “casa especial de fructas”, além de um variado sortimento de conservas e vinhos.

No primeiro exemplar, logo depois do editorial, com o título “To the english”, os responsáveis agradecem, em língua inglesa, aos integrantes da Colônia Inglesa localizada no Rio de Janeiro, pela colaboração recebida para editar a publicação.

Em vários periódicos contemporâneos de O Botucudo, são encontrados anúncios e notícias de acontecimentos ocorridos na Confeitaria Ouvidor. Um exemplo está na seção “Noticiário” de O Mequetrefe, informando que “o proprietário da Confeitaria Ouvidor acaba de submeter o seu estabelecimento a uma importante modificação. Por cima do corpo do edifício, onde funcciona a confeitaria, no 1º andar, mandou elle construir um terraço, fresco, arejado, com accommodação vastissima.

Nas páginas de O Botucudo podem ser encontrados poemas, charadas, textos relacionados aos trabalhadores no comércio, artigos sobre política e contos. De um modo geral os textos e contos publicados possuem um teor crítico e moralizante, no que concerne ao comportamento das mulheres, até mesmo das meninas em fase escolar.

Na Hemeroteca Digital podem ser consultados apenas dois exemplares, o primeiro, descrito acima e o número 4, publicado no dia 1º de agosto. Cada exemplar possui quatro páginas. Cada página está dividida em três colunas, separadas por um fio simples.

Não apresentou ilustrações. Somente no cabeçalho, logo abaixo do título e alocado entre as palavras do subtítulo, está o desenho de um índio sentado em um tronco de madeira, segurando, na mão direita uma flecha e na esquerda um arco. Botocudo foi uma denominação que alguns índios receberam, dos colonizadores portugueses e que deu nome ao periódico.

O Botucudo teve como colaboradores T. dos Santos, J. M. e Pedro de Magalhães. E é da pessoa que assina com as iniciais J. M. que copiamos o poema que segue:

 

Meos sentimentos

Não penses que de amor se morre

Quem o amor sabe apreciar;

Não penses que sou louco d’amor,

Louco d’amor, e paixão salutar.

 

Não penses que se te amando,

Nunca mais te possa desprezar,

Porque eu só amo e só estimo,

A quem meu amor souber venerar!

 

Olha que se louca tu fores,

Amando te desprezarei;

Porque meu amor é puro e santo,

Que eu nunca mancharei.

 

[*] Conferir em http://memoria.bn.br/DocReader/706850/448

 

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