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O Futuro: jornal hebdomadário

por Maria Ione Caser da Costa
O Futuro: jornal hebdomadário foi lançado no Rio de Janeiro, capital do Império, no dia 07 de julho de 1869. Editado pela Typographia Americana, que estava localizada na rua dos Ourives, nº 18, tinha periodicidade semanal, sendo publicado às quartas-feiras. A antiga rua dos Ourives atualmente é a rua Miguel Couto.

Logo abaixo do título está, como epígrafe, a frase latina Deniqui malefici gestiunt latere, retirada dos escritos apologéticos de Tertuliano (155-220), apologista cristão do séc. II, com tradução literal para “feiticeiros portam arma escondida, evitam aparecer”.

Periódico do final do século XIX, O Futuro não apresenta grafado o nome dos editores responsáveis. Alguns colaboradores assinam seus artigos de forma abreviada, com menção apenas para o último nome, por exemplo: A. Limoeiro, E. A. Lima Barros, F. Bicalho, H. de Carvalho, I. C. Galvão, J. C. S. Barbosa, L. Betim e L. Symphronio. Colaboraram também André Rebouças (André Pinto Rebouças, 1838-1898), Antonio de Serpa Pinto Junior, Carlos de Laet (Carlos Maximiliano Pimenta de Laet, 1847-1927), José Albano Cordeiro Junior, Milciades Pereira da Silva e Pedro Betim Paes Leme (1846-1918).

De acordo com o terceiro volume do Diccionario Bibliographico Brazileiro, de Sacramento Blake, o editor responsável de O Futuro foi Henrique Alves de Carvalho, que assina como H. de Carvalho.

O valor da assinatura semestral valia 6$000 e para a trimestral, o valor cobrado era de 3$000. As assinaturas deveriam ser adquiridas na tipografia. Na última página, do primeiro exemplar, está a seguinte nota: “remettendo o 1º n. do Futuro, temos como assignantes, as pessoas, que o não recusarem.”

Com temas diversificados, em suas páginas podem ser encontrados textos sobre literatura e teoremas matemáticos. O editorial assim iniciou sua apresentação:

 
Não pretendemos fazer antecipadamente a nossa apotheose escrevendo estas linhas, em forma do programma, que temos de obedecer no nosso caminho jornalístico.

Involtos neste todo descrente de nossa sociedade, quando o homem parece tender para o materialismo, nestes dias, como que fadados por uma lei suprema, a trocar-se a intelligencia pela especulação, e a penna pela moeda; confessamos a nossa temeridade, fazendo sahir á luz da publicidade um peiodico litterario, e tanto mais audaciosa quanto o desconceito em que tem cahido uma tal empresa [ilegível] ante tudo o que diz respeito as lettras.

Não nos referimos de certo aos diversos jornaes, nossos contemporaneos, que illustram as lettras com as suas luzes; o Futuro, apparecendo na senda scientifica pede um logar a estes seus collegas, offerecendo á litteratura e ás sciencias um campo muito vasto, apenas limitado pela exiguidade dos seus próprios recursos.

Segue o longo editorial, assinado por H. de Carvalho, que discorre sobre as pretensões dos responsáveis pela publicação, e as dificuldades que possivelmente encontrarão para executar o árduo trabalho de educar através da imprensa.

Nas páginas de O Futuro estão publicados estudos de geografia, história, além de textos que remetem ao sagrado e ao profano. Artigos sobre assuntos diversos, sempre priorizando a instrução do leitor. Publicou também poesias e crônicas.

A coleção da Biblioteca Nacional é composta por 21 exemplares, com numeração sequencial e sem falhas até o número 21, publicado em 29 de novembro de 1869. Na última página deste exemplar está a seguinte nota: “O Futuro sendo redigido somente por academicos interrompe-se sua publicação durante as ferias e completará o actual trimestre com o futuro mez de Março do anno de 1870”

Cada um dos exemplares foi formado com quatro páginas e diagramado em quatro colunas, divididas por um fio simples. Não apresentou ilustração. O poema a seguir está publicado no número 9 e não tem indicação de autoria.

 

A America 

Alem nos horisontes dourando as serranias

Tombar o sol cadente

As mattas ressoarem co’as ternas melodias

Das terras do occidente,

 

Innumeras estrellas, quaes fulgidos brilhantes

Os céus embellezarem

Rugirem do Oceano as vagas espumantes

E na praia esbravejarem,

 

Oh! tanto enleva a alma a vida americana

Que de longinquas terras

Á contemplar a virgem soberana

E ver as suas serras,

 

O viajor transpõe os vastos mares

Arrisca-se á procella

E vem render mui longe de seus lares

Um culto á esta estrella.

 

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