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A Braza: um jornalzinho moralista

por Irineu E. Jones Corrêa (FBN), Luzia Ribeiro de Carvalho (IC Faperj – bolsista)
O número 1 do periódico manuscrito A Braza crítico e poético, circulou no dia 15 de setembro do ano de 1867. O expediente avisa que não haveria dia certo para sua publicação. O exemplar está com as folhas amareladas e manchadas e a tinta oxidada. As bordas estão íntegras. O cabeçalho é composto pelo título, data de edição, ano e número. De distribuição gratuita, não informa sobre qual seria a localidade da edição. As matérias estão distribuídas em duas colunas.

Ainda no cabeçalho, dois elementos chamam a atenção. O título, composto em letras adornadas, grafa a palavra brasa com a letra z, variação encontrada na grafia culta da língua portuguesa, na época. O acordo ortográfico de 1943 fez a modificação, a mesma que alterou o nome de Brazil para Brasil. O outro elemento interessante é a ocorrência do que aparenta ser um carimbo seco, ou seja, uma matriz de marca gravada em relevo, através de pressão. A imagem mostra duas mãos que se entrelaçam, em um cumprimento, e a palavra AMISADE, grafada assim mesmo, com “s”. Neste caso, o relevo quase desaparece na imagem digitalizada, embora se mantenha perceptível em todas as páginas.

É um in-fólio, ou seja, o suporte foi usado na frente e no verso, a partir de uma única folha de papel dobrada ao meio, formando assim as quatro páginas que compõe o jornalzinho. Cada página segue numerada e repete o título. Texto e linhas de separação de matérias são escritos e desenhados a tinta. Alguns borrões na escrita refletem o trabalho artesanal que escrever um o jornalzinho manuscrito é.

São duas as matérias do periódico. Uma delas explica as razões para a sua criação e a outra é uma narrativa curta, em forma de diálogo entre filho e mãe. Segundo o primeiro texto, o objetivo do jornalzinho era “queimar o quanto fosse possível” aqueles que deveriam ser repelidos. Faria isso, entretanto, sem deixar de atender às regras e deveres da boa razão. Ao mesmo tempo, oferecia ao leitor um momento recreativo.

No diálogo entre Juquinha e sua mãe, ela questiona sobre quais as novidades dos mais moços, explicando que, uma vez chegada à velhice, é importante saber o que os jovens fazem como diversão. O menino responde, contando-lhe sobre o caso de um homem sarnento e de barba ruiva que ficava no Largo do Palácio e arrumava confusão com os que passavam, por causa de sua namorada. Do que lhe contou o filho, a mãe tira um ensinamento moral: “é assim mesmo, esses bestas desconfiam sempre de seus merecimentos e julgam que todos lhe querem tomar as namoradas, quando nem nisso se pensa”. Continuando a conversa, o menino conta que um estudante do Liceu tratara de forma grosseira aos colegas, desfazendo de suas condições sociais. Mais uma vez, a mãe contrapõe ao caso um ensinamento moral, com uma crítica às pessoas que “nunca tendo sido cousa alguma, vê-se por acaso no meio da gente”. O nome da coluna é “Horas de descanço”, com a palavra “descanso” escrita com cedilha.

O Pátio do Palácio, cenário da história contada por Juquinha, é o centro velho da cidade de São Paulo. Esse nome era decorrência de um dos prédios do quadrilátero abrigar a sede do governo de São Paulo. O local hoje é mais conhecido como Pateo do Collegio e tem entre alguns de seus importantes prédios históricos o Convento dos Jesuítas, primeira construção da cidade, congregação da qual fizeram parte ilustres figuras como as dos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.

Voltando ao jornalzinho, no final da última matéria, como se fora um sinete, aparecem o nome do periódico e, mais abaixo, as iniciais AB.

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