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Brasil feminino: de mulher – para a mulher: pela mulher

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico mensal Brasil feminino foi lançado em fevereiro de 1932, no Rio de Janeiro. Revista de variedades, voltada para o público feminino, objetivava ajudar na emancipação da mulher, e servir como ponte para escritoras desconhecidas. Poderiam utilizar suas páginas, mulheres com vocações literárias, mas que ainda não faziam parte do cânone literário. Buscava inseri-las nos espaços que, na maioria das vezes, eram ocupados pelos homens. Seu subtítulo já apontava as diretrizes da publicação: de mulher, para a mulher, pela mulher.

O grupo de redatoras e colaboradoras era dirigido por Iveta Ribeiro (1886-1962), cronista, pintora, poetisa, dramaturga, radialista e que, em 1943 passa a ocupar a cadeira 34 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul.

A redação e administração de Brasil Feminino estava localizada no primeiro andar da Rua Gonçalves Dias, n.78. A Biblioteca Nacional possui 15 exemplares da publicação: do primeiro ao décimo segundo e os números 21, 22 e 25. Seu formato é de 31cm x 21cm, e foi confeccionado em papel madeira.

Todas as capas e contracapas são coloridas, as últimas são ilustradas com propagandas. Grande parte das capas foram assinadas por Sarah Villela de Figueiredo (1903-1958). Publicação ricamente ilustrada, além de retratos, apresentou também desenhos e quadros assinados pela pintora Odelli Castello Branco.

O texto inicial direciona o periódico para a mulher. Pode ser considerada uma das publicações precursoras das modernas revistas femininas. Somente mulheres assinam os textos literários. Eis parte do editorial com o título “De inicio”, assinado por Iveta Ribeiro.

 
Tendo-se chegado a uma época em que a mulher brasileira, desembaraçada de erroneos e primitivos preconceitos, manifesta suas aptidões mentaes e ostenta sua capacidade e energia, lutando ao lado do homem em todos os ramos de actividades modernas; caminhando com elle, a par e passo, em demanda do progresso moral e material da patria; conquistando palmas de victoria pelos esforços dispendidos com estudos superiores; irmanando-se a elle nas glorias artística e intelectuaes; cooperando eficientemente no desenvolvimento do commercio e das industrias; batalhando, na imprensa, por altos ideaes políticos; preparando o povo de amanhã, a dirigir escolas, collegios e institutos educativos, animando emfim a vida social e economica do paiz, necessario, indispensavel, se torna a creação de mais alguma coisa além do livro e da collaboração dispersa nos jornaes, que prova o valôr do elemento complementar da patria brasileira. [...]

Sei bem que não fui a pioneira da idéa de se crear uma publicação de caracter absolutamente feminino. Antes de mim, personalidades de muito mais merecimento, tentaram fazel-o. [...]

Mulheres Brasileiras! Aqui está o fructo de uma iniciativa renovada. “BRASIL FEMININO” é vossa. [...]

No lar ou na sociedade; na officina ou no escriptorio, nas academias ou nos cenaculos, emfim, por toda a parte onde hoje, incontestavelmente, se impõe a vossa vontade e a vossa cultura, fazei da nossa revista um pavilhão de espirito, de graça e de superioridade, não como orgão aggressivo de um feminismo combativo e intransigente, creador de ridiculos justificados e de antipathias derrotistas, mas como luminosa e amiga demonstração de Egualdade, de Liberdade e de Fraternidade!

Pelo número avulso de Brasil feminino era cobrado 2$000, a assinatura anual valia 25$000 para o Brasil e 32$000 para o exterior.  Cada assinante receberia, ao final do período contratado uma “artística capa para encadernar” seus exemplares.

Brasil feminino apresentou seções fixas, poesias, culinárias, crônicas, contos, críticas literárias e poética, seção de novidades, textos educativos e ensinamentos de beleza.

Teve como colaboradoras Albertina Bertha (1880-1953), Albertina Silveira, Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça (1896-1971), Branca de Castro, Catharina Milka Baratz (1908-1991), Celeste Bastos y Lago, Coralia Ribero da Silva, Davina Fraga (1890-1985), Drummondinha, Fernanda de Bastos Casimiro, Georgina de Albulquerque (1885-1962), Henriqueta Lisboa (1901-1985), Iracema Guimarães Villela (?-1941), Irene Drumond, Joan Garbo, Luiza Carpernter, Magdala da Gama Oliveira (1908-1978), Maria Esolina, Maria Eugenio Celso, Maria Lamas (1893-1983, romancista, poetisa e escritora portuguesa, que também escreveu utilizando o pseudônimo de Rosa Sylvestre), Maria Sabina, Mercedes Dantas (1896-1982), Selda Potocka, Teresa Beatriz, Zeveta Marcovitc e  Zulmira Costa.

Todos os poemas publicados nas páginas de Brasil feminino vieram acompanhados de ilustração. A seguir o poema “Prece”, de Branca de Castro.

 

Prece

Uma chuva de rosas...

Quem me déra!...

Oh! Doce e pura flôr celeste,

ver, um dia, cair devagarinho...

Pétalas frescas, formosas,

Dentro de um peito impera

um desencanto mesquinho...

 

“Uma chuva de rosas...

Sobre a terra”

Tu prometteste, angelical freirinha!

... Uma chuva de flores perfumosas

Desse perfume que encerra

Doçura, encanto... poesia...

Deixa cair na minh’alma

E nesta descrença minha!...

 

Uma chuva de rosas...

Sobre mim...

Sobre a tristeza infinita

De amarguras dolorosas,

De desalentos sem fins...

... Linda Santa Therezinha!

Enche minh’alma de flores...

Apaga todas as dores... Suave e meiga freirinha!

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