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Echo das damas: orgão dedicado aos interesses da mulher

por Maria Ione Caser da Costa
Echo das damas surgiu no Rio de Janeiro em 18 de abril de 1879, como propriedade de Amelia Carolina da Silva & Comp. Logo abaixo do título e do nome da proprietária, separados entre duas linhas horizontais, aparecem informações relevantes:  à esquerda, o subtítulo: orgão dedicado aos interesses da mulher, acrescentando ainda ser critico, recreativo, scientifico e litterario; e à direita: “liberdade de pensamento, responsabilidade da auctora”. Na sequência os valores das assinaturas e a frase: “os annuncios das Senhoras assignantes serão inseridos gratuitamente”. A partir do número 2, de 2 de maio de 1879, aparece “colaborado pelas mais abalizadas escriptoras brazileiras e portuguezas”.

Na coleção preservada na Biblioteca Nacional constam 12 fascículos, com alguns hiatos, às vezes de mais de um ano entre as edições, nem sempre com explicação por parte das editoras.  O último exemplar que se encontra armazenado é o número 55, do dia 26 de agosto de 1888. Portanto, pode-se verificar que este não foi um título de vida efêmera.

Uma publicação com forte atuação feminina no oitocentos, em busca de visibilidade e reivindicando, através da imprensa, direitos básicos, além de promover o potencial feminino, seja no âmbito profissional ou privado, e a emancipação intelectual da mulher. Nota-se, em todos os números, a preocupação no convencimento das mulheres, de sua importância na execução de tarefas que eram consideradas masculinas.

O primeiro exemplar possui marcas de uso, sendo a mais evidente, a falta de alguns pedaços do papel. Isso impede a leitura total do editorial, mas não impede que se entenda o teor pretendido pela responsável. Eis parte do editorial, assinado por Amelia Carolina da Silva, que utilizou as iniciais A. C. S.

 
Defender os interesses da mulher é a idéa com que se apresenta a redação do Jornal “Echo das Damas” na grande tribuna da imprensa.

A nossa folha advoga uma causa santa que deve de merecer a consideração de todos aquelles que se interessão pelo progresso moral deste paiz.

Inicialmente o periódico foi impresso pela Typographia Imprensa Industrial, que estava localizada no número 75, da rua da Ajuda, local onde também eram adquiridas as assinaturas.

Echo das damas trocou algumas vezes de tipografia. O número 4, publicado em 20 de julho daquele ano, foi impresso pela Typographia Cosmopolita, à rua do Regente, nº 31. Em 3 de agosto de 1880, com o número 6, é impresso pela Typographia Echo das Damas, localizada na rua do Hospício, nº 107. Quanto a ausência de quase um ano sem que o Echo das damas fosse publicado, Amelia Carolina Couto dialoga com as leitoras informando “eis-me outra vez na lucta da imprensa. Depois de uma pequena interrupção apparece com todas as galas o “Echo das Damas” para continuar a defender a cauza a que se dedicou desde o seu principio”.

Os exemplares seguintes foram impressos pela tipografia que estava localizada na rua São José, nº 99.  Os três últimos da coleção saíram pela tipografia localizada no número 109 da rua de São Pedro. Todos podem ser consultados através da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Echo das damas foi diagramado com quatro páginas cada exemplar, e cada uma delas foi dividida em três colunas separadas por um fio simples. A partir de 1880, cada página passa a ter quatro colunas.

Os valores cobrados pelas assinaturas variavam de acordo com a localidade: na Corte valiam 6$000 a anual e 4$000 a semestral. Para as Províncias, a assinatura anual valia 8$000 e a semestral, 5$000.

Algumas curiosidades sobre Echo das damas: a princesa Isabel foi assinante, como pode ser lido na lista publicada com o título “Album de Ouro”, “S. A. a Princeza Regente”; em folhetim, publicou a biografia de Maria Augusta Generoza Estrella, primeira brasileira a se formar em medicina, tendo estudado em Nova Iorque.

Echo das damas publicou contos, poesias, divulgou espetáculos teatrais, livros, dicas de moda e beleza. Contou com a colaboração de Amélia Carolina da Silva Couto, Anália Franco (1853-1919), Atilia Bastos, Adelia Barros, Elisa Alberto, Emiliana de Moraes, Ernestina F. Varella, Emília S., Emilia Cortez, Emilia Augusta Penedo, Francisca de Sant’Anna Pessoa, Ignez Sabino de Pinho Maia (1853-1911), Luiza Amélia (1846-1898), Maria José Canuto (1812-1890), Maria Zalina Rolim (1869-1961), Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921), Mathilde Macedo e Maria José Canuto (1812-1890), dentre outras. É de Elisa Alberto o poema a seguir.

 

Remember

Eu quero que te recordes

D’aquelle aperto de mão,

D’aquelle olhar em que preso

Foi no teu – meu coração.

 

Lembra-te mais... Isto basta;

Sou facil de contentar,

E a tua esquiva memoria

Receio logo enfadar.

 

Si ao menos se retraçasse

Aquella scena de amor,

Um instante, em tua mente,

C’o o mesmo encanto e calor...

 

Talvez, talvez suspirasses

E eu pudesse inda esperar...

Mas, esquecer é teu fado,

Quando o meu é – recordar!

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