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Paranaiba: revista de artes, letras, ciências, economia e jurisprudência: consagrada aos interesses do Brasil Central

por Maria Ione Caser da Costa
O único fascículo de Paranaíba, publicação que recebeu o extenso subtítulo de revista de artes, letras, ciências, economia e jurisprudência, e que se encontra preservado no acervo da Biblioteca Nacional é o ano 1, número 1, editado em maio de 1919 em Santa Rita do Paranaíba, no estado de Goiás, período em que o nome do estado ainda era grafado como Goiaz. Estado situado no coração do Brasil, geograficamente visto como o centro da República.

O distrito de Santa Rita do Paranaíba recebeu este nome em homenagem à padroeira Santa Rita de Cássia e também ao Rio Paranaíba, que divide os estados de Goiás e Minas Gerais. A partir de 1943 o município passou a denominar-se Itumbiara, que significa “caminho da cachoeira” em tupi-guarani.

A publicação foi impressa ela Typographia Ferrari & Buono, que ficava no estado de São Paulo, com escritório localizado em um sobrado da rua 15 de Novembro, nº 59, também em São Paulo. Na capa, logo abaixo do subtítulo, aparece a informação de que a publicação é “consagrada aos interesses do Brasil Central”.

O diretor e proprietário de Paranaiba foi Moizés Augusto Santana (1879-1922) e o editor foi Felipe de Lima. Uma extensa lista de colaboradores está relacionada no verso da capa, e destacamos Arthur Loiola, Teodulo de Castro, Maria Paula Fleuri, Zitinha Bentzen e Antesina Santana.

A revista, que ainda não foi digitalizada, mede 26 cm x 19 cm, possui 60 páginas, que não foram numeradas. Apresenta várias ilustrações em preto e branco. Nas oito primeiras páginas, dentro de variados tipos de molduras, estão diversas propagandas de comerciantes da região e das proximidades. A consulta a revista Paranaíba deverá ser feita presencialmente, na Coordenação de Publicações Seriadas.

O número avulso da revista foi vendido por 3$000 pelos seus agentes e não havia assinaturas. Paranaíba não apresenta editorial. Inicia com a biografia do poeta, jurista e jornalista Dr Luiz Ramos de Oliveira Couto (1888-1948).  Uma nota diagramada no final do segundo artigo descreve o programa proposto pela revista:

 
Para publicar a Paranaiba, que não é um jornal ou período de cambatividade, sendo apenas uma revista de artes, letras, ciencias, economia e jurisprudencia, lembramos as palavras dos dois representantes da Nação, sem comental-as. Fazemos o seu rejistro, como se quizessemos delinear um programa, deixando, no entanto, de o traçar.

Pensamos que o esforço de publicidade, que fazemos, é til e digno de apoio.

Parece-nos que a imprensa, no interior, faz boa obra, qualquer que seja o seu criterio de ação. [...]

É o que entendemos e dizemos, á guiza de programa.

 Paranaíba publicou notícias diversas, poemas, mote, pensamentos e o conto “A concepção da pedra” de Cora Coralina (Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, 1889-1985), escrito em 1908. A seguir um soneto de Roque Alves de Azevedo com o título “Parnaso Goiano”.


Parnaso goiano

Lindos, longos, finissimos cabelos,
Pelos quaes o fagueiro amor só jura,
Face em que a rosa á neve se mistura,
Uns olhos garços por mortaes mais belos.

Cólo de neve, por que ardo em zelos,
Mãos que vencem do marmore a candura;
Coração... o’ desar!...  de pedra dura,
Uns tesouros de amor... quem pode vel-os?

Uns labios de rubi, um rir divino,
Bôca a que dão as perolas ornato,
Voz anjelica, um gesto peregrino...

Alma em tudo insensivel, genio ingrato,
Um corpo, enfim, de Jupter só dino,
Daquella por quem morro – eis o retrato.

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