BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Violeta fluminense: folha critica e litteraria: dedicada ao bello sexo

por Maria Ione Caser da Costa
A Violeta fluminense: folha critica e litteraria foi lançada no Rio de Janeiro, possivelmente em novembro de 1857. A dúvida acontece por não existir no acervo da Biblioteca Nacional o primeiro exemplar. Sua coleção inicia com o número 2, publicado no dia 6 de dezembro daquele ano, continua com os números 3, 4 e 5, finalizando com o número 6, em 31 de janeiro de 1858. Circulou sempre aos domingos.

A Typographia de F. A. de Almeida foi a responsável por suas edições. Estava situada no número 141, da rua da Valla, atualmente, rua Uruguaiana, no centro do Rio de Janeiro.

De maneira geral os títulos lançados nos oitocentos estavam preocupados com a difusão do saber, e a formação de um público leitor. Mas, no século XIX, um segmento se destacou, com publicações voltadas ao público feminino, e A Violeta fluminense foi uma delas. Nesse cenário, encontram-se alguns títulos voltados “para o bello sexo”, e para a promoção da educação feminina.

A Violeta fluminense somente menciona como redatores os sobrenomes Fortes, Almeida e Oliveira e, de um modo geral, seus artigos são assinados por iniciais ou pseudônimos de colaboradores.

Na inexistência do editorial de lançamento, pode-se perceber, a partir da leitura do segundo editorial, algumas informações que permitem conhecer o periódico, saber seus objetivos: “A Violeta – essa flôr mimosa, delicado emblema da candura – e fiel expressão dos sentimentos amorosos da melhor porção da raça humana – a mulher; d’ha muito ressentia-se da falta de um órgão que tomando o seu nome na capital do império exprimisse por palavras a muda significação d’essa bella flôr.”

Em outro parágrafo temos: “Qual será a zelosa e desvelada mai de família, que em suas horas vagas, não queira deitar um languido e terno olhar para a Violeta, recordando em seus deleitaveis escriptos, o tempo que ja passou?!...”

Folha crítica, voltada ao belo sexo, foi diagramada em quatro seções: Litteratura, Cronica semanal, Variedades e Poesia. Apresentou em suas páginas, maneiras de impor às mulheres um comportamento resignado, orientando-as como deveriam se comportar como esposas. Isto fica muito claro com a leitura de “Conselhos ás desposadas”, que pode ser lido na íntegra na seção “Variedades” publicado na página 3 do número 6:

 
[...] A donzela que se casar conforme-se sempre com a vontade do seu marido, ame-o e trate sempre de lhe agradar, não seja altiva que é o melhor meio de o governar; se elle tiver alguns defeitos suppra-os com a sua discrição, e mesmo quando em algumas occasiões se mostre intratavel tolere com paciencia o seu rigor, faça por gostar do seu máu modo, e verá que em poucos dias fará d’elle o que quizer, porque não ha cousa alguma que o tempo e bom modo não abrande. [...]

Ou ainda, no número 5, páginas 4 e 5, os “Annaes de uma solteira”, apresenta, numa sequência cronológica, iniciando aos 15 anos, e finalizando aos 50 anos, cada idade correspondendo ao sonho de um possível casamento, que, se não realizado, passava a ser um transtorno da vida da mulher dos oitocentos. Um pensamento que satirizava a condição de solteira das mulheres. Um conceito totalmente patriarcal, onde as mulheres ainda não almejavam uma vida para além do casamento.

A Violeta fluminense teve oito páginas cada exemplar e foi diagramado em duas colunas separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração. Foi vendido através de assinaturas trimestrais.

Em suas páginas são encontradas várias poesias, charadas, crônicas, bem como notícias sobre as temporadas musicais que aconteciam na corte. A seguir um poema de Diocleciano David Cezar Pinto, que também publicou em A Marmota e A Saudade: jornal do Gremio Litterario Portuguez, com o título “Soneto”.

 

Soneto

Mui triste meditando eu passeava

Por uma velha rua da cidade,

No pensar ancião, joven na idade,

Na mente um consoante eu procurava.

 

Era noite, já o gaz acceso estava

E occultava c’um veo negro a immensidade;

D’uma estrella sómente a claridade

Fugitiva no céo eu divisava.

 

Eis que vem de improviso uma voz rouca

Meus ouvidos ferir mui parva e crua.

Voz d’uma velha que gritava louca:

 

- Este moço talvez namore a lua!...

- Desculpo-te – (bradei) velha de touca

Porque és inda mais velha que esta rua!

 

Parceiros