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O Bandolim (Barbacena)

por Maria Ione Caser da Costa
O semanário O Bandolim foi idealizado e lançado em Barbacena, um município de estado de Minas Gerais, provavelmente em janeiro de 1890. O único exemplar existente na Biblioteca Nacional é o número 2, que foi editado em 12 de janeiro daquele ano. Era propriedade de Gomes e Bittencourt.

A ausência do número de lançamento, geralmente impede que se conheça o programa que motivou a criação da publicação, entretanto, a leitura do editorial do segundo exemplar, sugere o caminho traçado por seus responsáveis. O artigo recebeu o título “Nós”, e relata o seguinte:
Quando, há dias, resolvemos definitivamente fundar nesta cidade o nosso pequenino jornal, veiu-nos logo a idéa de dedical-o ao bello sexo.

Em bôa hora occorreu-nos essa lembrança porque não nos têm faltado palavras de animação a nossa carreira.

Antes, porem, de o darmos á luz da publicidade, toda a sorte de contrariedades vinham antepor-se á nossa idéa; e a não ser muita abnegação, muita força de vontade e muito desejo mesmo de vermos em realidade o nosso sonho, teriamos retrocedido diante dos embaraços, em todos os sentidos, que se nos antepunham. [...]

Resta-nos uma difficuldade unicamente: collocarmos o modesto e pecurrucho “Bandolim” na altura de nossas leitoras.

Publicamos o primeiro numero, pelo qual temos recebido palavras animadoras, o que nos anima neste momento a entregar ao publico o segundo.

Como pode ser observado, O Bandolim foi escrito para o público feminino.

O diálogo entre publicações periódicas era muito comum nos séculos XIX e XX. Os editores enviavam aos seus pares, pelo correio, um exemplar do que publicavam. O destinatário, como agradecimento, noticiava o periódico recebido. O jornal O Paiz, editado no Rio de Janeiro e com circulação nacional, publicou no dia 10 de janeiro de 1890 (sexta coluna), a seguinte nota: “na cidade de Barbacena apareceu um novo periodico – O Bandolim. Em suas collumnas serão defendidos os direitos da mulher, que muitas vezes vemos conspurcados pelo egoísmo quase criminoso do homem, diz seu artigo-programma. É uma bela missão, para a qual desejamos tenha cordas bastante fortes.”

Na segunda página, do único exemplar preservado de O Bandolim, que se encontra no acervo da Biblioteca Nacional, está publicada nota de agradecimento endereçada ao jornal O Paiz: “Esteja certo o collega (permitta-nos a expressão) de que as cordas do nosso Bandolim serão sempre vibradas em favor da mulher, e serão bastante fortes para tão nobre, quão justo fim.”

Com pretensão de ser publicado sempre aos domingos, apresentou em seu conteúdo folhetim, crônicas, notícias dos acontecimentos diários e poemas. Teve como colaboradores F. Costa, Theresina Gomes de Souza, Herminio, Fritz e Raimundo Corrêa (1859-1911).

No período que ficou conhecido como República Velha, são encontrados vários periódicos literários e informativos em todos os estados do Brasil. Na Hemeroteca Digital existe outra publicação com título homônimo, editado na cidade de Juiz de Fora, também no estado de Minas Gerais. Esse outro O Bandolim foi lançado cinco anos depois, no dia 13 de outubro de 1895.

Encerramos este item do dossiê com o poema de Raymundo Corrêa, intitulado “Fructas e Rosas”.

 

Fructas e rosas

Uma rosa entre fructas, minha amada,

Um dia eu te mandei... tu que me escutas,

Dize: porque essa boca perfumada

Beijou a rosa sem comer as fructas?

 

Uma outra vez eu fiz-te igual presente,

Rosa entre fructas... mas porque, formosa,

Essa bocca a se abrir avidamente

Comeu as fructas sem beijar a rosa?

 

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