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Henriqueta Lisboa

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Henriqueta Lisboa nasceu em Lambari, MG, em 15 de julho de 1901, e morreu em Belo Horizonte, em 9 de outubro de 1985, filha de João de Almeida Lisboa, deputado federal, e de Maria Rita Vilhena Lisboa. Foi poeta, tradutora, ensaísta e, ainda, docente de literaturas hispano-americana e brasileira e de literatura geral.


Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1924. Seu primeiro livro de poemas, publicado em 1925, intitulava-se Fogo fátuo, de tendência simbolista, traço marcante de sua obra até a década de 1940. Recebeu durante sua vida vários prêmios: em 1931, foi agraciada com o Prêmio de Poesia Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras pelo livro Enternecimento; em 1952, a Câmara Brasileira do Livro premiou seu livro infantil Madrinha lua; pelo conjunto de sua obra obteve três prêmios, a Medalha da Inconfidência de Minas Gerais em 1955, o Prêmio Brasília de Literatura em 1971 e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras em 1984.


Sua extensa produção intelectual é composta por ensaios literários, traduções, organização de antologias de poesias. Colaborou com várias revistas editadas no Rio de Janeiro e Minas Gerais, entre as quais O Malho,Revista da SemanaA ManhãO Jornal. Na revista Kosmos e na Festa escrevia ao lado de Gilka Machado e Cecília Meireles. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Entre 1940 e 1945 manteve uma vasta correspondência, com o escritor Mário de Andrade, discutindo temas pessoais e literários.


Foi a primeira mulher eleita para a Academia Mineira de Letras, em 1963, onde ocupou a cadeira de nº 26. Sua poesia tornou-se conhecida no exterior, sendo traduzida em várias línguas, como o francês, inglês, italiano, espanhol, alemão e latim. Henriqueta Lisboa traduziu obras de Dante, Guillén, Gabriela Mistral, entre outros. Em Senhorita X, encontramos o poema que vai transcrito em seguida.




Quando tenhas de vir


Quando tenhas de vir, Amor, que escolhas
o recanto mais vago, a hora mais linda.
Pesam ao galho verde tantas folhas
e estou anciosa pela tua vinda.


Quando tenhas de vir, escolhe o instante
em que a tristeza paire, leve no ar.
Ao crepúsculo, a sós, o olhar distante,
é quando a gente principia a amar.


Sôem teus passos harmonicamente.
Insinua-te aos poucos. Sombra e calma.
Tenho horror que tu chegues de repente,
e não encontres alma na minha alma.


Que eu fique sem saber quando é que vieste,
quando é que a luz se fez ao nosso olhar.
Seja assim como a nevoa azul-celeste
onde á curva do céo se une a do mar.


Fecho os olhos á espera… Desce a tarde.
Está sereno o parque, envolto em bruma.
Perpassa a brisa sem fazer alarde,
sem assustar no ramo ave nenhuma.


Seja assim nosso enlevo… Manso quasi
imperceptivel para o derredor.
Que ande musica ou verso em cada phrase,
para que eu possa comprehender melhor.


E emquanto as flores dormem, sem saber
que doce aroma trescalando então,
que me desperte brandamente o ser
um beijo suave sobre a minha mão.


Em: Senhorita X!… : revista mensal, social e illustrada, ano 1, n. 1, out. 1932.



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