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Revista do Gremio Literario da Bahia

por Maria Ione Caser da Costa
Lançada no início do século XX, a Revista do Gremio Literario da Bahia foi uma publicação mensal, que trouxe como informação adicional, na capa e folha de rosto, as seguintes palavras, separadas por hífen: internacional - eclética – independente. O primeiro exemplar foi publicado em janeiro de 1901, e a coleção finalizou em outubro de 1904, com o ano 3, número 12.

Na Biblioteca Nacional podem ser consultados os originais dos 12 primeiros fascículos publicados no primeiro ano da revista e um exemplar do ano 3, números 10/11, de agosto/setembro de 1904. Os mesmos não foram ainda digitalizados e a consulta deve ser presencial. Existe também no acervo da BN, para consulta presencial, uma edição fac-similar, feita a partir dos originais do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, publicada em 1988, pela Artes Gráficas em conjunto com a Academia de Letras da Bahia. A coleção também apresenta algumas falhas.

A Revista do Gremio Literario da Bahia foi impressa pela Litho-Typographia de João Gonçalves Tourinho, localizada na Praça Cais do Ouro, nº 5, atual Praça Marechal Deodoro. Vários foram os editores responsáveis pela publicação, mas existe destaque para Egas Moniz Barreto de Aragão (pseudônimo de Pethion de Villar, 1870-1924) e Sílio Boccanera Junior (1863-1928).

Publicou artigos das mais variadas especialidades, como agricultura, medicina, história, direito e literatura. Publicou também várias secções internacionais, como a “Crônica de Berlim” de Franz von Walter, que era sócio correspondente, a “Carta de Paris” de Paul Gaithier e até “Carta de S. Petersburgo”, por Wassili Drombowsky, além de vários poemas de poetas estrangeiros.

A assinatura anual da Revista do Gremio Literario da Bahia tinha preço diferenciado para sócios e os não sócios. Aos sócios, o valor cobrado era de 8$000 e para os não associados, cobrava-se 10$000. Para o exterior a assinatura anual valia 12$000 e o número avulso foi vendido por 1$000.

O editorial inicia com Alea jacta est! ..., locução latina que significa “a sorte está lançada”, e prossegue:

Após quarenta annos de existência é, finalmente, dado ao Gremio Literario da Bahia corporificar um dos mais bellos e legítimos idéaes de seu programma: a creação de uma Revista.
Submetendo-se desde já ás múltiplas responsabilidades que de similhante alvitre lhe possam advir;
triangulando com o placido olhar da observação a perigosa altura que promete galgar, sem os desfallecimentos e recuos da agarophobia;
desinsulando-se energicamente da comatosa indifferença que tem julgado neste futuroso paiz quasi todas as nobres iniciativas;
o grupo de bahianos, de cuja bôa vontade dependem hoje os destinos da mais antiga e respeitavel associação de letras do Estado da Bahia, julga praticar, com a fundação da presente Revista, um acto de elevado alcance patriotico, digno do encorajamento, do aplauso e da benemerencia publica.
Segue o editorial, que não apresentou autoria, discorrendo sobre hábitos salutares de leitura, sobre literatura e sobre a efemeridade das publicações literárias, afirmando que a Revista editará trabalhos de celebridades das “notabilidades pátrias”, e também de celebridades estrangeiras, “absolutamente desvencilhado de acanhados preconceitos de seita, escola ou partido”. E finalizam:

Em vista do exposto, e contando, como contamos, com tão numerosa e selecta colaboração nacional e européa, ser-nos-á licito duvidar do acolhimento publico e da vitalidade da nossa publicação?
Em todo caso:
Alea jacta est! ...
O Grêmio Literário da Bahia foi fundado no dia 20 de maio de 1860. Neste dia “uma pleiade de moços, pertencentes á briosa e honrada classe do commercio, animados de alta inspiração, fortes pela virtude, sonhando conquistas do porvir, lançaram os fundamentos desta Instrução de Letras, novo Templo inaugurando a religião do saber”.

A revista publicou também retratos de Alberto Santos Dumont (1873-1932), no ano seguinte em que havia conquistado um prêmio por contornar a Torre Eiffel com seu dirigível número 6, e de Emile Zola (1840-1902) no mês seguinte ao seu falecimento

Alguns dos colaboradores foram Alexandre Fernandes, Silveira Netto, Zé Gangolim (pseudônimo de Henrique de Casais), J. Isidoro Martins Junior, Luisa Leonardo (1859-1926), Arthur de Sales e Antonio Moniz Sodré de Aragão (1881-1940). O poema a seguir é de Luísa Leonardo, que o dedica “A alguem”:


Ultimo desejo

Quando eu morrer, na minha sepultura
espalha rosas, lirios e jasmins,
quero dormir entre a fragancia pura,
das flores que vicejam nos jardins.

Quero tambem, com zelo e com ternura,
meu côrpo ungido em nardos e beijoins.
Abre-me a campa em moitas de verdura,
onde trescalem frêscos alecrins.

Si fôr possível, quero á beira-mar,
Ouvindo além a vaga soluçar,
dormir serena o somno derradeiro;

enquanto, a Lua, a virgem da agornia,
derrama sobre o amante a nostalgia,
envolta num tristissimo nevoeiro.

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