BNDigital

Periódicos & Literatura

< Voltar para Dossiês

A Consciencia

por Maria Ione Caser da Costa
O periódico A Consciencia foi lançado na cidade de São Paulo, possivelmente em abril de 1876. A coleção preservada na Biblioteca Nacional encontra-se na Seção de Obras Raras, pode ser consultada através da Hemeroteca Digital, e inicia com o ano 1, número 2, do dia 20 de abril de 1876.

A Consciencia trouxe como epígrafe a locução latina Fiat Lux, que significa “Faça-se luz”, numa alusão ao termo bíblico retirado do texto do Livro do Gênesis.

O escritório da redação da publicação estava localizado na rua Tabatinguera, nº 60, e a responsável pela impressão foi a Typographia da Provincia de São Paulo. A partir do número 6, de 15 de julho de 1876, o escritório da redação é transferido para o número 18, da rua Aurora.

A Consciencia teve como meta, colaborar com a imprensa acadêmica, discorrendo sobre os artigos publicados pela Academia de S. Paulo, instituição voltada para a educação, fundada em 1828.

Os proprietários e responsáveis pela redação de A Consciencia foram os acadêmicos Affonso Celso Junior (Affonso Celso Assis Figueiredo Junior, 1860-1938), Alberto Fialho, Carlos França, Ezequiel Freire, Fernandes da Cunha Filho e Magalhães Castro. Uma nota abaixo do título informava que os editores não aceitavam colaboração.

O longo editorial anônimo, publicado no segundo número, com o título “A Consciencia”, possivelmente escrito pelos acadêmicos responsáveis, ocupa-se dos propósitos da publicação e o retorno que esperam receberam dos leitores. Eis um excerto:

Quando assomou-nos ao espirito a idéa da creação de uma folha nas condições da nossa, a sua realisação pareceu-nos ardua.
Entretanto, graças á coragem e á persistencia, que só concedem a convicção e a justiça da causa, conseguimos dar publicidade ao nosso primeiro numero, e nelle deixamos mais que patentes as bazes sobre que assentaria,os nossos conceitos e a norma de vida que seguiríamos.
Então, cheios de esperança, entregamos á apreciação do publico sensato o producto de nossos esforços e foram unisonas as palmas. [...]
Obtendo estas sentenças as mais lisonjeiras vangloria-se a Consciencia e enche-se de verdadeiro jubilo não tanto, porque veja nelas encomios ao talento e ilustração de seus redactores, mas porque, são concludentes em provar que as idéas que tão enthusiastica e conscienciosamente advoga, calarão aos ânimos e merecerão apoio e approvação.
E como ser o contrario, se o nosso programma resume-se nestas palavras: “Verdade e Moralidade” ideaes da imprensa séria?
Verdade sim, porque a Consiencia quer estabelecer a critic em seus verdadeiros arraiaes; moralidade, sim, porque a Consciencia quer que a imprensa tome o character honesto que lhe incumbe, deixando de emaranhar-se nos terrenos moveis do pessoalismo que só conduz ao abysmo da descompostura e incivilidade.[...]
Entretanto, animo-os nos abalançarmos a sua realisação levando como incitamento a recepção benevola que nos prodigalisou a imprensa illustrada, que com seus aplausos nos permite dizer: - “como as plantas recebemos a vida e a animação donde nos vem a luz.  –”

Em formato A2, com 4 páginas cada exemplar e diagramado em 4 colunas separadas por um fio simples, não apresentou ilustração. A Consciência foi distribuído gratuitamente. Ao final de cada exemplar está diagramado o seguinte aviso: “Ás pessoas que desejarem honrar-nos com sua leitura fazemos scientes que o escriptorio de redacção é na rua da Tabatinguera n. 60, para onde deve tambem ser remettida toda a correspondencia”

Publicou folhetins, poesias, contos e vários artigos sobre literatura, além de mencionar sobre a importância do jornalismo para propagar os talentos literários para a mocidade acadêmica. A seguir o poema “Templo”, de Affonso Celso Junior.

Templo

Quão linda estavas tu – hontem na missa
Tremendo no fervôr da devoção,
Com os olhos repletos de tristeza
E dizendo baixinho uma oração!...

Eu queria rezar – mas não rezava
Desejava pensar sómente em Deus,
Mas minh’alma na prece não se erguia
Pois prendida se achava aos olhos teus.

Quando o padre elevando a hostia santa
Fez curvar respeitosa a turba pia,
Levei a mão ao peito e tremi todo
Por vêr meu coração como batia!...

E todos nesse instante n’alma tinham
Enlevos divinaes que as preces davam:
Só a mim que fitava-te constante
Profanos pensamentos agitvam!...

Mas oh! não foi pecado, não foi crime
Na missa te fitar como fitei:
Na igreja só se pensa em Deus... nos anjos,
Por isso em ti pensando eu não pequei!

Parceiros