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O Domingo: semanário critico e litterario

por Maria Ione Caser da Costa
O Domingo: semanário critico e litterario foi um periódico fundado pelo dramaturgo, poeta e contista maranhense Arthur Azevedo (1855- 1908) em São Luiz do Maranhão no ano de 1872.

O semanário foi editado pela Typographia do Paiz, localizada no Largo do Palacio, nº 17, e o impressor foi M. F. V. Pires. O valor cobrado para assinatura trimestral era de 2$000.

Não consta do acervo da Biblioteca Nacional nenhum exemplar deste periódico. A coleção que pode ser consultada na Hemeroteca Digital pertence ao acerva da antiga Biblioteca Pública do Estado do Maranhão, Arquivo Ribeiro do Amaral, atualmente, Biblioteca Pública Benedito Leite (BPBL).  Ela não está completa, faltam os primeiros 23 números. Inicia a coleção com o número 24, publicado em 21 de julho de 1872, seguido dos números 30 a 48 do primeiro ano. Os anos de 1873 e 1874 também apresentam lacunas.

O editorial do número 24 informa: “Com este numero finda o Domingo o seu segundo trimestre de existência.” Portanto o periódico foi lançado possivelmente em fevereiro de 1872, data que o editor e também proprietário ainda não completara 18 anos.

O editorial do número 12 do segundo ano, dia 6 de abril de 1873 informa que O Domingo “passa a ser propriedade de uma associação, composta de doze pessoas, por nós convidadas para esse fim”. Arthur Azevedo partilha a edição do periódico provavelmente por precisar se transferir para o Rio de Janeiro, pois ingressaria no funcionalismo público, para trabalhar no Ministério da Agricultura.

Cada exemplar de O Domingo foi composto com quatro páginas. As páginas foram divididas em duas colunas, separadas por um fio simples. Uma particularidade diz respeito à numeração das páginas, que é sequencial, reiniciando ao número 1 somente a cada novo ano de publicação.

Nas páginas de O Domingo encontra-se a tradução feita por Artur Azevedo da novela inglesa “A casa do diabo” (The devil’s house), de Charles Brockden Brown. Devido a falta dos 23 primeiros exemplares, no número 24, o primeiro preservado na coleção, já está no quinto capítulo da novela. O final da tradução também não existe, por faltarem os cinco exemplares seguintes.  Publicou também inúmeros poemas, folhetins, charadas, alguns contos e notícias diversas. O espaço foi utilizado também para fazer observações políticas e comentários sobre os livros que eram lançados.

Alguns colaboradores de O Domingo foram O. Américo Garibaldi (irmão de Artur Azevedo), Domingos, Eduardo Gomes Ribeiro, Lima Baratta, M. Marques, Maria Frimina dos Reis (1825-1917), Moizes Gomes e Theophilo de Mesquita. A seguir o poema “Soneto”, assinado por A. A.


Soneto

Eu não nego, senhora, amei-vos muito...
só disso me lembrar—parece um crin.
mas esse affecto mystico e sublime
se vivo estava então, já está defunto.

A's vezes ao passado inda eu pergunto—
— (é muito que a contar—isto me anime),
como logo partio-se como o vime
do estro débil o amoroso assumpto?

Vós fostes mais voluvel que o dinheiro!
Ha vezes nesta vida em que se sonha
o sonho mais fingido e o mais bregeiro.

Defronte de meus olhos venha e ponha
o espelho do passado, que primeiro
cubro o rosto co' as mãos só de vergonha...

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