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O Livro: orgam litterario e noticioso

por Maria Ione Caser da Costa
O Livro: orgam litterario e noticioso foi um periódico lançado em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, no dia 1º de abril de 1906. Teve colaboradores diversos, sob a supervisão do redator-chefe, Nelson Cunha.

A redação de O Livro estava localizada no número 138, da rua Altino Correia e a responsabilidade pela impressão foi da Typographia Brazil.

Os originais de O Livro: orgam litterario e noticioso não fazem parte do acervo da Biblioteca Nacional (BN). Eles pertencem à Biblioteca Pública de Santa Catarina (BPSC) e foram microfilmados pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em convênio com o Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros – PLANO. O PLANO é um programa da BN, que visa “preservar a memória hemerográfica brasileira, através da identificação, localização, organização, recuperação e microfilmagem de periódicos brasileiros.” Pelo convênio, iniciado em 1978, os órgãos responsáveis pelos originais, faziam a microfilmagem do periódico de seu acervo, seguindo os critérios estabelecidos pela BN e encaminhavam o rolo matriz para a Biblioteca Nacional. A BN duplicava o rolo, e enviava um rolo duplicado para o órgão responsável pela publicação. Desta forma, mesmo não tendo o original, os rolos matrizes são mantidos na sala cofre da Seção de Microfilmagem da BN, preservando, desta forma, a memória nacional.

Os microfilmes de O Livro estão hoje digitalizados. A coleção compreende os cinco primeiros números e podem ser consultados na Hemeroteca Digital.

Não é possível ler o editorial de lançamento de O Livro na íntegra, pois a primeira folha apresenta falta de alguns pedaços, exatamente no início do texto, possivelmente pelo manuseio indevido e a qualidade do papel.

Os editores exaltam o “garbo” que os outros periódicos possuem, em oposição ao periódico O Livro, por considerarem seu redator menos inteligente. Seguem discorrendo sobre o fervor que devotam às letras e à literatura e saúdam o poeta catarinense Cruz e Souza.

Mesmo acanhada, pretende a nossa folha angariar sympathias do povo Catharinense.
Como em Florianopolis, berço de tantos homens notaveis, infelizmente só existe uma folha litteraria; nós, como adoradores das lettras, então organizamos essa humilde folha que por falta de arrimo, pretendemos publical-a mensalmente. [...]
Surgiu a nossa folha inopinadamente, pequenina, sim, é bem verdade, mas terá sempre por divisa as lettras.
Saberá sempre, seguir o caminho da honra, do dever e da verdade!
Contamos com a benevolencia dos conterrâneos do imortal CRUZ E SOUZA.

O Livro teve uma tiragem de 500 exemplares. Cada um deles vendido por 200 réis, e a assinatura trimestral valia 500 réis. Um nota no expediente de cada fascículo trazia um apelo “aos assignantes que ainda não pagaram suas assignaturas, rogamos o obsequio de pagarem-nas o mais breve possível.”

Cada exemplar de O Livro foi elaborado com 4 páginas, e cada uma foi dividida em 3 colunas separadas por um fio duplo. Cada fascículo com 12 colunas que, conforme pode ser lido em forma de convite, na primeira página: “estão á disposição das senhoras Normalistas, nossas collegas.”

No número 5, publicado no dia 04 de agosto de 1906, comemorando os 57 anos do falecimento de uma “admirável mulher” catarinense, está pequena biografia da “imperecível memoria de Annita Garibaldi”, acompanhada de um desenho de seu busto. Finaliza o artigo reverenciando “no altar da Gloria daquela vossa patrícia que soube imortalizar o nome da Mulher Catharinense na divina trindade: Honra, Heroismo e Caridade.”

Uma observação: em todas as páginas de O Livro são encontradas algumas correções, feitas manualmente, de palavras ou expressões, que não foram impressas corretamente.

O Livro, que publicou poesias, contos, notícias diversas, pensamentos e charadas, teve como colaboradores José d’Arimathea, Mital, Pery, Renato Pio e Rocha Negra. A seguir o poema “Harpa sem cordas”, de José d’Arimathea que dedicou “ao colega Agenor Povoas”.


Harpa sem cordas

Voeja de ramo em ramo
Da florida laranjeira
O suave gaturano!...

Brinca o meigo rouxinol
Nos galhos da pitangueira,
Quando vem raiando o sol...

No regaço maternal
Sorri contente a creança,
Do carinho divinal...

Todos têm seu agasalho
Neste mundo d’esperança,
Neste mundo de trabalho...

Só não ha quem acalente
O meu pobre coração,
O meu peito descontente!.

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