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Ascenso Ferreira

por Maria do Sameiro Fangueiro

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Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu em Palmares, PE ,em 09 de maio de 1895, e morreu em Recife, em 05 de maio de 1965. Foi poeta. Era filho de Antônio Carneiro Torres, comerciante, e de Maria Luísa Gonçalves Ferreira, professora.


Ao ficar órfão de pai, aos 6 anos, teve sua educação confiada à sua mãe que o educou e ensinou a ler e a escrever. Sendo as condições econômicas da família difíceis, começou a trabalhar aos 13 anos de idade como balconista na loja A Fronteira, de seu padrinho Joaquim Ribeiro.


Foi através do contato com o povo, que tomou conhecimento de figuras do folclore nordestino como: mula-sem-cabeça e lobisomem. Adolescente, começou a fazer seus primeiros poemas cujo tema girava em torno de elementos típicos regionais, como o carro de boi, os folguedos, as lendas e as figuras lendários do nordeste brasileiro.


Em 1916, fundou, com outros poetas, a sociedade Hora Literária. Ao mesmo tempo passou a ser perseguido por suas ideias em defesa do abolicionismo.


Indo morar em Recife, conseguiu emprego como escriturário no Tesouro do Estado de Pernambuco, estando nessa época com 24 anos. Casou-se, em 1921, com Maria Stela de Barros Griz, filha do também poeta Fernando Griz (1876-1931). Em 1922, seus poemas foram editados nos jornais, A Província e Diário de Pernambuco. Fez amizade com Câmara Cascudo (1898-1986), Joaquim Cardozo (1897-1978), Souza Barros (1903-1984) e Gouveia de Barros, além de Mário de Andrade (1893-1945), Anita Malfati (1889-1964) e outros intelectuais da época.


Seu primeiro livro foi lançado, em 1927, intitulado Catimbó, o segundo livro, Cana caiana, é de 1939. O terceiro livro, Xenhenhém, só foi editado em 1951 e incorporado à edição de Poemas, que apresentava disco de poesias recitadas pelo próprio Ascenso. Nesta edição constava o poema “O Trem de Alagoas”, musicado por Vila Lobos. Em 1963, Catimbó foi reeditado com outros poemas, estes com temas regionais de sua terra. Postumamente foram publicados Poemas, em 1981, e Eu voltarei ao sol da primavera, em 1985.


Ao assinar contrato com a José Olympio Editora, em 1956, teve seus poemas reeditados, e, mais tarde, foi lançado um álbum duplo de discos com suas obras completas 64 poemas escolhidos e 3 historietas populares, com a apresentação de Câmara Cascudo.


Na política, participou ativamente em comícios na campanha de Juscelino Kubitschek para presidência da república, em 1955. Foi nomeado em 1966, por JK, para assumir a direção do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, em Recife. Porém, um grupo de intelectuais de Recife foi contra à nomeação e esta foi cancelada. Ascenso Ferreira faleceu em Recife às vésperas de completar 70 anos. Foi homenageado pela Prefeitura da cidade com seu busto sendo colocado na Rua Apolo, local onde o poeta gostava de caminhar.


É de sua autoria o poema “Misticisno n.2″, transcrito da revista Bazar.

Misticismo n.2


O espirito-máu entrou no meu couro!
Entrou no meu couro algum mangangá
E eu quero mulheres…
Mulheres…
Mulheres…

Curibocas!
Mamelucas!
Cafussús…

Caboclas viçosas de bocas pitangas!
Mulatas dengosas cajú e cajá!

Mulheres brancas como assucar de primeira!
Mulheres macias como a penugem do ingá!
Mas sempre mulheres…
Mulheres…
Mulheres…

(Ou lêlê)
Todas formosas,
todas belas,
todas novas…

(Ou lala)

Deitadas molengas em folhas macias!
Na sombra rajada das bananeiras lentas
Iluminadas por um sol-das-almas!

Só para eu,
devagarinho,
fazer com elas!

“Pinicainho
da barra do 25
mingorra mingorra
tire esta mão
que já está forra…”

Em: Bazar. ano 1, n.5, nov.1931.

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