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Espelho das bellas: periodico litterario e recreativo

por Maria Ione Caser da Costa
Espelho das bellas: periodico litterario e recreativo surgiu em 25 de novembro de 1860, em Maragogipe, no estado da Bahia. Na capa do periódico, logo após o título, está diagramado com destaque, um acréscimo: debaixo dos auspicios do bello sexo. Foi impresso pela Typographia de J. T. da Gama.

Não incluiu em suas páginas o nome dos responsáveis pela publicação, nem do corpo editorial. Muito provavelmente não foram mulheres, as responsáveis pela edição de Espelho das bellas. Como acontecia na maioria dos periódicos editados no século XIX, a responsabilidade pela publicação era masculina. Tanto o editorial quanto os textos introdutórios foram assinados por “os redactores”.

Publicado sempre aos domingos, seu número avulso foi vendido por 120 réis, e a assinatura, por série de 10 números, valia 1$000. As assinaturas poderiam ser adquiridas na tipografia em que foi impresso, “também assigna-se na botica do Sr. Manoel Agostinho da Silva, á Rua Nova do Commercio, e na cidade de Cachoeira, na loja do Sr. Guilherme de Benselum, e em S. Felix no armazém do Sr. Capitão Fraga.”

Espelho das bellas, publicação de moda e literatura, dedicava-se a divulgar, através da imprensa, para as mulheres da Bahia nos oitocentos, matérias e artigos que pudessem entretê-las e informá-las, numa tentativa de romper com a invisibilidade feminina, muito comum à época. O primeiro editorial assim se apresentou:

Voando pelo espaço embriagante de mil flores, que encadeião o mundo rial, e aprasivel do Bello Sexo vae pousar o ESPELHO DAS BELLAS em cada uma, como o encantador colibry com sua plumagem cambiante procura nas petalas d’esta, e d’aquella flor o néctar sutentaculo de sua vida. Elle apparece, e é vosso. Protegei-o, sexo amavel, e encantador! Ignoraes por ventura que precisa elle do sopro expressivo de vós todas para sustentar a brilhante carreira que hoje enceta? Não. Pois bem, acceitai-o, e acolhei-o. á vós tambem como aos homens cumpre tomar iniciativa das grandes obras. A imprensa, que appare em nossa bela cidade para o final de sua civilisação precisa que tambem vós a animeis: e é por isso que apresento-vos o ESPELHO DAS BELLAS: elle é vosso.
Adeos.

No segundo exemplar os redatores agradecem a cooperação das digníssimas senhoras e digníssimos senhores que, “a pesar do mais elevado indiferentismo, e desamor ás letras, que ainda infelizmente reina entre nós”, informam que desejam promover “um periodico que instruindo recreasse tambem o – sexo amável.”

A presença de leitoras e assinantes do sexo feminino nas páginas de Espelho da bellas, é apresentado no número 7, publicado em 3 de fevereiro de 1861. Lá estão relacionadas na “lista das Excellentissimas Senhoras que se dignarão subscrever para a primeira serie do – ESPELHO DAS BELLAS –” os nomes de 41 assinantes.

Na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional podem ser consultados os 5 primeiros exemplares publicados em 1860, e os números 6, 7 e 16, de 1861. Este último saiu no dia 2 de julho e foi impresso pela Typographia de Moreira, localizada na rua das Grades de Ferros, nº 50. Como pode ser observado faltam pelo menos 8 números. Não é possível afirmar sobre a continuidade ou não, da publicação.

Espelho das bellas publicou folhetim, poemas, charadas, prosa, anúncios e variedades. Apesar de ser uma publicação dedicada ao sexo feminino, é comum encontrar artigos e temas que hoje são absurdamente preconceituosos, desvalorizando a mulher e sujeitando-a à autoridade masculina.

Alguns de seus colaboradores foram Aniceto S. P. Barros, Aristides Augusto Milton (1848-1904), Calazans Peixoto, Coriolano A. d’Andrade Oliveira, Izaac de Benselum, José Maria do Amaral e Manoel Cardoso da Silva. O poema a seguir, com o título, “Eu a vi”, tem a assinatura de Coriolano A. d’Andrade Oliveira.

Eu a vi

Eu a vi outra vez junto a mim,
Eu ouvi sua voz maviosa,
Eu a vi desprendendo um sorriso
Sobre a face de um anjo formosa.

Eu a vi e seus ternos olhares
Expressavam o mais puro amor.
E lançavam no meu coração
Da constancia o mais terno penhor.

É tão bella, tão linda e gentil,
Quando é pura e constante em amar!
Só a ella jurei ser fiel,
Por saber meu amor consagrar.

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