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Ypiranga: periodico litterario do Rio de Janeiro

por Maria Ione Caser da Costa
Ypiranga: periodico litterario do Rio de Janeiro, foi um quinzenário publicado pela primeira vez em 1º de maio de 1865 pela Typographia Perseverança, que estava situada na rua do Hospicio, nº 99, hoje, rua Buenos Aires, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

A assinatura trimestral de Ypiranga valia 3$000, e a anual 6$000, que deveriam ser contratadas no escritório da redação, local que também funcionava a tipografia.

A Biblioteca Nacional possui os três primeiros exemplares da publicação, que podem ser consultados na Hemeroteca Digital. O terceiro saiu no dia 05 de junho daquele ano. Publicava-se nos dias 1 e 15 de cada mês. Nas pesquisas efetuadas, não foram encontrados outros fascículos preservados em outras bibliotecas. Em seu formato original, o quinzenário se apresenta em papel madeira medindo 31cm x 22cm.

O editorial dedicou a publicação ao “belo sexo”, aparentemente como representação da intenção de ser lido nos ambientes domésticos. Lutou pela autonomia e originalidade das letras nacionais, em relação às influências e gostos estrangeiros.

 
A apparição do nosso periodico, não é por certo uma novidade, na republica das letras. Antes dele muitos outros appareceram, que amenizaram os trabalhos do lar domestico, e deram a seus leitores horas mui deleitáveis de recreio e instrucção. Será antes a continuação de innumeras tentativas, o prolongamento de um caminho que se estende sempre durante a vida de qualquer jornal e que na hora em que deixa de existir, designa pelo março de seu termino o lugar d’onde o seu successor deve continuar a incetada perigrinação.

Estamos a caminho. Até onde iremos não sabemos; mas quando colocarmos o nosso marco, certamente que não será entre goivos e cyprestes, porque pararemos cantando entre as flores vicejantes que nos embelesarem com seus perfumes.

Dedicando o nosso periodico ao bello sexo, temos de antemão traçado a norma de nossa conducta.

Mas somos conviva recém-chegado ao banquete da vida litteraria, e falhos de usos e costumes, bem podemos não attingir ás regras da etiqueta em semelhante emergência.

Sabemos que a literatura brasileira ainda não tem um cunho nacional; [...] não desejamos ter por companheiros senão áquelles que se dão ao louvável empenho de nacionalizar as letras pátrias. [...]

Conseguil-o-hemos? Sim; mas para isso é preciso que a nossa literatura se desprenda do mesticismo que nos provém dos mestres estrangeiros; que a nossa religião dimane unicamente dos preceitos sagrados do Evangelho.

Tal é o modo porque pensamos: e d’aqui extrahiriamos o nosso programma, si nos julgássemos sufficiente para tão nobre quão honrosa tarefa.

 Ypiranga publicou contos, poesias, charadas e enigmas. Logo após o editorial, aparece publicado o conto “A Walsa e a mortalha” de Domingos Manuel de Oliveira Quintana (1794-1854), um conto clássico de terror, originalmente publicado no Novo correio das modas, em 1854. E, na sequência, ainda no primeiro exemplar, o romance “O Monge de Murillo”, do mesmo autor.

Cada exemplar contou com 8 páginas, diagramadas em duas colunas, separadas por um fio simples. Não apresentou ilustração, somente um brasão com a figura da lira das artes no cabeçalho, acima do título.

Nas páginas de Ypiranga são encontradas colaborações de Augusta de Mello, Domingos Manoel de Oliveira Quintana, F.J.E.C., G. C. Pereira de Mello, José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), Publio Mandrião e Virginia Q.

A seguir um poema de Augusta de Mello.

 

Desolação

Que noite de frio inverno

Enregela os lábios teus?

Abre os teus olhos, querido,

Desperta, sou eu, escuta:

Dá-me um beijo, toma os meus!

 

Que palor! Sobre o teu rosto

Nem um gesto, nem um riso!

Ai de mim! Pobre filhinho

Trocaste os affagos meus

Pelos bens do Paraiso.

 

Houve um tempo... Já não sabes!

Nos meus braços te embalava;

Tu dormias, e contente

Eu via passar a noite,

Via o dia que assomava!

 

Mas hoje, que frio inverno

Enregela os lábios teus?

Abre os teus olhos, querido,

Desperta, sou eu, escuta:

Dá-me um beijo, toma os meus!

 

Que desejo! Nem ao menos

De te ver uma esperança!

De tanto amor e ternura

Só me resta uma lembrança,

Uma saudade pungente,

Uma humilde sepultura!

 

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